sábado, 24 de agosto de 2024

Os Apócrifos - Parte 2

 Os Apócrifos - Parte 2

Representação do encontro entre Tomás Caetano (de vermelho, sentado) e Martinho Lutero (1483 - 1546) de preto, em pé). Chamado de "Lâmpada da Igreja", tentou convencer Lutero a não se separar da Igreja. Também foi um ferrenho defensor do dogma da "infalibilidade papal", o que é algo ilógico: O Papa aceitava os Apócrifos como livros bíblicos e ele não.
 
.
- "Livros Alheios" -
Os primeiros "pais da Igreja", por serem filósofos, não conseguiam entender a mensagem bíblica. Elas não pareciam fazer sentido ou então, do ponto de vista filosófico deles, sempre estava faltando algo neles. Assim, logo cedo, a partir do 3º Século, começaram as interpretações dos textos da Bíblia. A simples mensagem bíblica, direta e clara, estava, na verdade, sempre querendo dizer outra coisa, mais complicada.
Naquele ambiente de debates filosóficos, os Apócrifos, descartados definitivamente pelos judeus, foram considerados também como que querendo dizer "algo mais", ou "algo desconsiderado pelos judeus".
A tendência para desconsiderar o Cânon judaico se acentuou mesmo a partir do 4º Século. E propostas de inclusão dos Apócrifos como canônicos foram postas "na mesa" sendo a primeira delas de Agostinho, de Hipona (354-430 EC). Porém, a proposta de Agostinho asseverou que "havia uma distinção definida entre os livros do cânon hebraico e tais livros alheios”.
A Igreja Católica, no Concílio de Cartago em 397 (comandado pelo Imperador romano Honório [384 - 423]), se reuniu para discutir sobre o 'cisma donatista', sobre os 'traditores" (mais duas divisões da Igreja descontentes com seus dogmas) e as propostas sobre os Apócrifos. Os donatistas e traditores foram considerados "apóstatas". Mas, no caso dos Apócrifos, optou ela por considerar o cânon judaico ou estudar as evidências bíblicas nas Escrituras propriamente ditas para resolver a questão? Não. Ela optou por oficializar a incerta e duvidosa proposta de Agostinho. Assim, o que aquele Concílio realmente fez foi "oficializar" - e aumentar ainda mais - as disputas em torno da questão.
.
- Exclusão de Livros "Bíblicos" -
Daí, mais de mil anos depois, em 1546 EC, em plena época da Reforma, a Igreja Católica Romana voltou a se reunir no Concílio de Trento. E confirmou, agora definitivamente, a aceitação dessas adições de Apócrifos no seu catálogo dos livros da Bíblia. Era preciso fazer isso, oficializar, porque reconhecia a divisão que as posições, a favor e contra, causava em seu meio.
Como exemplos dessa divisão, temos João Wycliffe (1328 - 1384), sacerdote católico e perito teólogo que fez a primeira tradução da Bíblia para o inglês, incluindo os Apócrifos, mas destacando no prefácio que os Apócrifos “não têm a autoridade de crença”. O cardeal dominicano Tomás Caetano (1469 - 1534 ), o mais destacado teólogo católico do seu tempo, chamado pelo Papa Clemente VII (1478 - 1534) de “lâmpada da Igreja”, também discriminou os Apócrifos do verdadeiro cânon hebraico. Ele apelou para os escritos de Jerônimo, que não continham os Apócrifos, como "autoridade bíblica católica".
Em meio a tanta divisão dogmática, é interessante notar também que o Concílio de Trento não aceitou todos os escritos anteriormente aprovados pelo anterior Concílio de Cartago Recusou três deles: a Oração de Manassés, e 1 e 2 Esdras [não os livros de 1 e 2 Esdras que, em algumas versões católicas, correspondem a Esdras e Neemias].
Assim, estes três escritos, que haviam aparecido por mais de 1.100 anos na aprovada Vulgata latina, foram então excluídos. E essa bagunça de "tira e põe" livros da Bíblia estava longe de acabar. Era óbvio que a Igreja colocava ou retirava os Apócrifos da Bíblia por não conhecer nem um e nem outro. Era tudo questão política e não de conhecimento.
.
- Contra Si Próprios -
E uma mostra desse desconhecimento, por parte da Igreja, tanto sobre a Bíblia como dos Apócrifos está nos próprios textos deles, que nos fornecem evidências de não canonicidade ainda maior que as evidências externas, ou os depoimentos históricos e religiosos.
Por exemplo: Todos os livros bíblicos, de Gênesis a Apocalipse, registram profecias. Mas em nenhum Apócrifo se lê qualquer previsão para o futuro, por menor que seja. Além disso, também são contraditórios entre si. Estão repletos de inexatidões históricas e geográficas, e de anacronismos. Os escritores, em alguns casos, são comprovadamente culpados de desonestidade, ao representarem falsamente suas obras como sendo de anteriores escritores inspirados.
Um elemento que deveria ser observado neles por quem se julga especialista (caso dos teólogos católicos que os aceita) é que mostram-se, claramente, sob influência grega pagã e recorrem a uma linguagem extravagante, de um estilo literário inteiramente estranho às Escrituras inspiradas. Enquanto todos os escritores dos livros bíblicos são declaradamente inspirados divinamente, dois dos escritores dos Apócrifos assumem que não foram inspirados (Veja o Prólogo de Eclesiástico, versão bíblica do Centro Bíblico Católico e 2ª Macabeus 2:24-32; 15:38-40, da versão Matos Soares.).
Assim, pode-se dizer que a melhor evidência contra a canonicidade dos Apócrifos são os próprios Apócrifos.
.
- Livros Perigosos -
Qual a lição que podemos tirar, hoje, disso? Que os livros Apócrifos são perigosos para a leitura. A pessoa que os confunde com os livros bíblicos corre o risco de se desvirtuar no entendimento da Bíblia. Não se pode entender, por exemplo, as profecias sobre o restabelecimento do Reino de Deus, esperança da humanidade e assunto central da Bíblia, contido em praticamente todos os livros da Bíblia, se lermos os textos Apócrifos que não falam nesse Reino. Católicos sinceros deveriam considerar o conselho de seu próprio "santo", Jerônimo, que lhes diz que os Apócrifos "devem ser evitados"
Na próxima parte vamos dar uma 'pincelada" no que esses livros dizem
.
.
Continua

segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Apócrifos - parte 1

 Apócrifos - Parte 1

Ilustração de Jerônimo, o autor da Vulgata Latina para a Igreja Católica, que o considera "santo". Jerônimo rejeitou os Apócrifos, não os incluiu na sua tradução da Bíblia e deixou essa rejeição por escrito. Mas em sites católicos, você não lerá nada sobre essa rejeição.


- Longe da Bíblia -
A inclusão de escritos sabidamente não bíblicos na Bíblia, por parte da Igreja Católica, mostra o quão afastada das Escrituras Sagradas ela estava.
Isso aconteceu no Concílio de Cartago, em 397. Não obstante a decisão daquele Concílio só foi "confirmada" muito mais tarde, em 1546, no Concílio de Trento. Durante esse tempo, de mais de mil anos, houve muitas disputas a favor e contra. A Igreja ficou na "incerteza" se os apócrifos eram ou não parte da Bíblia. ora pendia por rejeitá-los, ora por aceitá-los.
Incerteza por quê? Bastava considerar o fato de que até o Século 3, tais livros nunca fizeram parte da Bíblia. Há de se considerar também que a Bíblia é um livro produzido por judeus, principalmente as Escrituras Hebraicas (o "antigo testamento"). É, portanto, literatura e questão inteiramente judaicas. E os judeus não consideravam tais livros como parte a Bíblia, ou "canônicos", desde muito antes do aparecimento da Igreja Católica, no Séc. 4º
Por exemplo, no Concílio judeu de Jâmnia, por volta de 90, antes mesmo de João escrever o Apocalipse, foram rejeitados terminantemente tais livros, visto que eram tentativas de certos grupos dissidentes de incluí-los nas Escrituras judaicas.
Assim, na questão da Bíblia, a Igreja Católica, séculos mais tarde, se apropriou de literatura judaica, como se fosse sua e a modificou. De fato, hoje, os padres da Igreja costumam dizer que "foi a igreja que produziu a Bíblia". Sim, isso é fato, mas a Bíblia que "produziram" é uma bíblia adulterada e não versões da Bíblia original.
Mas o que são e quais são os livros apócrifos?
.
- "Cuidadosamente Ocultas" -
A palavra grega a·pó·kry·fos, que traduz a moderna palavra "Apócrifo", aparece três vezes na Bíblia (Marcos 4:22; Lucas 8:17 e Colossenses 2:3) e significam, nas três ocasiões, coisas ‘cuidadosamente ocultas’. Eram escritos não lidos em público, portanto, ‘ocultos’. De forma que, no princípio, a palavra "apócrifo" não se referia aos livros rejeitados.
Mais tarde, contudo, como aconteceu com a palavra "Eclesiastes" (ou "congregação", ou "igreja") que, de significar "chamar para fora" passou a denominar o nome de um templo religioso, "apócrifo" também assumiu outro sentido, que estipulava "o que não é canônico". Nos dias atuais a palavra é usada especificamente para referir-se aos escritos não inspirados por Deus adicionados pela Igreja Católica na Bíblia. Os escritores católicos se referem a tais livros como deuterocanônicos, que significa “do segundo (ou posterior) cânon”, para diferenciá-los dos protocanônicos.
Esses escritos adicionais são Tobias, Judite, Sabedoria (de Salomão), Eclesiástico (não Eclesiastes), Baruc, 1 e 2 Macabeus, suplementos de Ester, e três adições a Daniel, com nomes diversos, tais como: Cântico dos Três Jovens, Susana e os Anciãos, e A Destruição de Bel e do Dragão.
O tempo em que foram escritos é incerto, mas a evidência indica uma época não anterior ao segundo ou terceiro séculos AEC. Ou seja, bem depois que as Escrituras Hebraicas já estavam fechadas, já que os livros de Esdras, Neemias e Malaquias, os últimos, foram escritos no quinto século AEC.
.
- Contra a História -
A Igreja Católica, ao adotar os livros apócrifos como bíblicos, ela vai também contra a História.
Flávio Josefo (37 - 100), historiador judeu do primeiro século, mostra o reconhecimento dado apenas a esses poucos livros (do cânon hebraico), sobre o cânon bíblico escreveu: “Não possuímos miríades de livros incoerentes, que discordam entre si. Nossos livros, os devidamente acreditados, são apenas vinte e dois [equivalentes aos 39 livros das Escrituras Hebraicas segundo a divisão moderna], e contêm o registro de todos os tempos.”
Daí, sobre os apócrifos, escreveu: “Desde o tempo de Artaxerxes até o nosso próprio tempo, a história completa foi escrita, mas não foi considerada digna de crédito igual aos registros anteriores, porque cessou a sucessão exata dos profetas.” — Against Apion (Contra Apião), I, 38, 41 (8).
.
- Contra A Própria História -
A Igreja Católica não vai, na questão dos Apócrifos, só contra a História geral. Vai também contra sua própria História.
Os principais peritos bíblicos e “pais da igreja” dos primeiros séculos da Era Comum (EC) deram aos Apócrifos uma posição inferior, ou nenhuma posição na Bíblia. Por exemplo, Orígenes, do início do terceiro século EC, em resultado de cuidadosa investigação, fez tal diferenciação entre esses escritos e os do cânon verdadeiro. Atanásio, Cirilo de Jerusalém, Gregório Nazianzeno e Anfíloco, todos do quarto século EC, fizeram catálogos que alistavam os escritos sagrados, sempre de acordo com o cânon hebraico. Eles ou desconsideraram esses escritos adicionais ou os colocaram numa classe secundária, para posterior investigação.
Jerônimo (347 - 420), É visto por muitos como “o melhor perito hebraico da igreja primitiva". Quando ele terminou a tradução da Vulgata Latina em 405 EC (a tradução da Bíblia para o Latim), adotou uma posição definida contra tais livros apócrifos. Na Vulgata Latina, encomendada pelo "Papa" Dâmaso 1 (305 - 384), a primeira "Bíblia oficial" da Igreja Católica, não continha os Apócrifos.
.
- "Devem Ser Evitados" -
Jerônimo foi o primeiro a usar a palavra “apócrifos”, em sentido depreciativo, explicitamente no sentido de não canônicos, a tais escritos rejeitados. Assim, no seu prólogo aos livros de Samuel e de Reis, Jerônimo alista os livros inspirados das Escrituras Hebraicas da mesma forma que outros "pais da Igreja": em harmonia com o cânon hebraico (em que os 39 livros estão agrupados como 22). Ele diz: “De modo que há vinte e dois livros . . . Este prólogo das Escrituras pode servir como enfoque fortificado para todos os livros que traduzimos do hebraico para o latim; de modo que saibamos que tudo o que for além destes precisa ser colocado entre os apócrifos.”
Ao escrever a uma senhora chamada Laeta, sobre a educação da filha dela, Jerônimo aconselhou-a: “Todos os livros apócrifos devem ser evitados; mas, se ela quiser alguma vez lê-los, não para determinar a verdade das suas doutrinas, mas por respeito pelos seus maravilhosos contos, deve dar-se conta de que não foram realmente escritos por aqueles a quem são atribuídos, que eles contêm muitos elementos falhos, e que requer grande perícia para achar ouro na lama.” — Select Letters (Cartas Seletas), CVII.
.
- Estavam Na Septuaginta Grega? -
A Septuaginta Grega é a tradução das Escrituras Hebraicas judaicas para o coiné (ou grego coiné, ou "grego helenizado"), língua falada no Egito entre o 3º Século AC e o Século 1.
Alguns argumentam a favor da canonicidade dos escritos Apócrifos dizendo que eles podem ser encontrados em muitas cópias primitivas da tradução Septuaginta grega das Escrituras Hebraicas, tradução iniciada no Egito por volta de 280 AEC.
No entanto, visto que não existem cópias originais da Septuaginta, não se pode afirmar categoricamente que os livros apócrifos foram originalmente incluídos nesta obra. Os escritos apócrifos foram admitidamente escritos depois do início do trabalho de tradução da Septuaginta, sendo óbvio que não constavam da original lista de livros escolhidos para a tradução por parte do grupo de tradutores. Assim, os apócrifos são acréscimos posteriores a tal obra.
Adicionalmente, embora os judeus de língua grega de Alexandria, no Egito, com o tempo inserissem tais escritos apócrifos na Septuaginta grega, e, pelo que parece, os considerassem como parte dum "cânon ampliado" de escritos sagrados, a declaração de Josefo, já citada, mostra que jamais foram incluídos no cânon de Jerusalém, ou Palestino, e, no máximo, eram considerados como apenas escritos secundários, e não de origem divina.
.
- O Testemunho de Jesus e dos Apóstolos -
Mas, a evidência contra os apócrifos mais contundente é que Jesus e os apóstolos não os citaram em suas palavras e escritos, embora citassem a maioria dos outros livros bíblicos. Alguns argumentam que esse fato não é conclusivo, visto que em seus escritos também não possuem citações de alguns livros reconhecidos como canônicos, tais como Ester, Eclesiastes e O Cântico de Salomão. Tais livros, porém, são citados por outros que Jesus e os apóstolos citaram, já que as escrituras se completam. O contrário também acontece frequentemente. As Escrituras Hebraicas citam as Escrituras Gregas extensivamente, principalmente no que se refere às profecias sobre Jesus Cristo e o restabelecimento do Reino de Deus.
Mas os escritos Apócrifos não são citados nem uma vez. Não se faz nem mesmo leve menção deles em parte alguma da Bíblia. E isso é certamente significativo.
.


Na Próxima parte vamos nos aprofundar nas disputas dentro da Igreja por causa dos Apócrifos. O que levou a Igreja a adotar uma posição tão contrária à razão, a lógica e a realidade histórica, incluindo a dela própria? Quais são as consequências para as pessoas que ou consideram os apócrifos como livros bíblicos ou não pensam muito na questão?
.
.
Continua
.

quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 19

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 19

Uma tortura feita durante a Inquisição. Será que Deus aprovaria atitudes como essa, para a "sua maior glória"? Obviamente que não. Mas foi nisso, nesse reinado de horror e injustiça descomunais, o que o que se transformou a igreja romana durante toda a Idade Medieval. Mais detalhes deste terrível período da História humana vermos nas próximas partes.



- Um Enxerto Desonesto -
A trindade, conforme vimos, foi se desenvolvendo através dos séculos. Vimos também que, após os apóstolos, ou mais de 300 anos depois deles, os "pais da Igreja", começaram a dizer que Jesus é Igual a Deus. mas não incluíram o Espírito Santo. Este, como "terceira pessoa igual a Deus e Jesus" só seria proposto no Concílio de Constantinopla, em 381. Assim, em algum momento, entre o Concílio de Nicéia (325) e o de Constantinopla, começou-se uma "procura" por um ser espiritual para ser colocado, como terceira "pessoa" do planejado deus trino católico, de inspiração pagã.
Embora os "pais da igreja" criassem um novo deus, que talvez tenha sido interpretado pelas palavras de Jesus que pedia para os apóstolos batizarem as pessoas "em nome do Pai, do filho e do espírito santo" (Mateus 28:19), houve desonestidade por parte dos modernos tradutores da Bíblia, que reconheceram que tal pedido de Jesus não explicava realmente a Trindade. Eles enxertaram palavras apócrifas no texto de 1ª João 5:7, colocando que "Deus, Jesus e Espírito Santo são um só".
No entanto, pesquisadores descobriram que estas palavras não se encontram em traduções bíblicas mais antigas. Assim, o professor universitário americano Bruce Manning Metzger (1914 - 2007), que lecionava grego e era tradutor bíblico diz em seu livro A Textual Commentary on the Greek New Testament (Comentário Textual sobre o Novo Testamento Grego): “Não há dúvida de que essas palavras são espúrias e não têm o direito de permanecer no Novo Testamento.
.
- O Concílio de Constantinopla -
Se o espírito santo fosse uma pessoa, e ainda mais fazendo parte de Deus e Jesus, ele estaria, desde o início da Bíblia, nomeado e explicado. Seu papel na história humana, suas palavras e tudo a seu respeito seriam amplamente divulgados, como são divulgadas, na Bíblia inteira, as mesmas coisas com relação a Deus e Jesus.
No entanto, sempre que aparecem, na Bíblia, as palavras "espírito santo", elas se referem a qualidade de Deus. Deus é um espírito e ele é santo (sem pecados). Veja por exemplos: Isaías 63:10 (triste) e Isaías 63:11 (trabalhador). Nunca, na Bíblia, o espírito santo se refere a um ser espiritual personalizado.
Outro exemplo: Todos concordam que Jesus é filho de Deus. O próprio Deus disse isso (Mateus 17:5; Marcos 9:7 e Lucas 9:35), mas em Mateus 1:18,20 se diz que Maria engravidou do espírito santo. Se este espírito fosse uma pessoa, Jesus não seria filho de Deus, mas dessa outra pessoa.
Mesmo assim, no Concílio de Constantinopla (381), convocado, a exemplo do de Nicéia, por um imperador romano pagão, Teodósio 1 - o Grande (346 - 395), discutiu-se "a natureza de Deus". Julgou-se necessária esta discussão porque o Imperador Juliano (331 - 363) havia tentado restaurar a antiga religião politeísta romana, desfazendo temporariamente o catolicismo criado por Constantino em Nicéia.
Daquela vez, em Constantinopla, a coisa seria diferente. o catolicismo, agora definitivamente trinitário, voltaria a ser a religião oficial do império, mas as outras religiões, antes toleradas, seriam banidas. O catolicismo seria então, não mais incentivado para as pessoas, mas imposto pelo poder das espadas romanas, em todas as partes do império.
.
- Poder Mundial -
Assim o Deus trindade, que ainda não estava totalmente "explicado" (e, de fato, é um "mistério" até os dias atuais) foi imposto aos povos conquistados. Depois daquele ato de Teodósio, a Igreja julgou-se "reino de Deus no mundo". Para isso, foram buscar, não na Bíblia, mas nas palavras de Agostinho (354 - 430): "O reino de Deus começou neste mundo com a instituição da Igreja Católica" - The New Encyclopædia Britannica, Macropédia, Volume 4, página 506. Se tivessem lido a Bíblia sobre o reino de Deus, teriam se deparado com o texto de João 15:19, no qual Jesus diz que seus discípulos "não fazem parte do mundo".
Foi a partir daquela época que a Igreja começou a se juntar com toda sorte de ações mundanas, incluindo as guerras. O historiador francês Paul Augustine Louis Rougier (1889 - 1982) disse: "Enquanto se difundia, o cristianismo passou por estranhas mudanças, a ponto de se tornar irreconhecível. . . . A primitiva igreja dos pobres, que vivia de caridade, tornou-se uma igreja triunfalista, que chegou a um acordo com as autoridades constituídas quando não conseguiu dominá-las.
Ou seja: A Igreja Católica da época do Concílio de Constantinopla era diferente da igreja Católica de 50 anos antes. Ela era "mais mundana". Quando o último imperador romano do Ocidente foi deposto por tribos germânicas, em 476, o Bispo de Roma Simplício (430 - 483), declarou ter direito a substituir o imperador e a Igreja Católica de substituir o império como um todo: A The New Encyclopædia Britannica (Nova Enciclopédia Britânica) registra: “Constituiu-se um novo poder: a Igreja Romana, a igreja do bispo de Roma. Esta igreja considerava-se sucessora do extinto Império Romano. Os papas de Roma . . . estenderam sua reivindicação secular do governo pela igreja além das fronteiras da igreja-estado e desenvolveram a chamada teoria das duas espadas, declarando que Cristo deu ao papa não somente o poder espiritual sobre a igreja, mas também poder secular sobre os reinos do mundo.”
.
- O Reinado do Terror -
Essa nova condição da Igreja Católica, de uma instituição governamental, política e militar, ao estilo mundano, fez com que, a exemplo dos demais governos políticos, também se dividisse. Ainda no final do Século 5 ela se dividiu, dando origem as Igrejas Católicas da Armênia, da Síria e do Egito, que declararam não estar sujeitas ao bispo de Roma.
Durante os Séculos 11 e 12, surgiram muitos grupos dissidentes espalhados por todos os territórios, todos saídos da Igreja Católica, que resolveu radicalizar. Em novembro de 1184, no Sínodo (ou Concílio) de Verona, o Papa Lúcio 3 (1097 - 1185), em conluio com o Imperador do "Sacro" Império Romano Germânico, Frederico Barba-Roxa (1122 - 1190), publicou a Bula papal Ad Abolendam, que condenava como hereges e anátemas os seguidores do catarismo, arnoldismo, josephinismo, patarenesismo, humiliatismo, bem como os valdenses e os judeus. Estes deveriam ser "banidos da igreja e castigados pelas autoridades seculares", autoridades estas que, ironicamente, eram exercidas por clérigos locais.
A Inquisição, chamada de "santa" pela Igreja, então, começou com as Cruzadas. Os cavaleiros cruzados, que muitos hoje veem em filmes como heróis, eram, na verdade, caçadores de pessoas, inocentes ou não, para serem castigadas pelo simples motivo de pensarem diferente do que a Igreja Pregava.
Sim, o "reino de Deus na Terra", segundo Agostinho, a "igreja do deus trino", agora perseguia e castigava pessoas. Mas a coisa iria piorar e muito. Pelos próximos quase 6 séculos, a Inquisição iria ficar mais brutal, perseguindo toda e qualquer religião diferente da católica, com destaque para a Inquisição Espanhola, cujos efeitos duram até hoje, ocasionando a morte de milhões de pessoas (homens, mulheres e crianças), inocentes, indo acabar apenas 1834.
.
- Desunião Cada Vez Mais -
Produziu a Inquisição a esperada união "para a maior glória de Deus", como se escrevia nos seus processos de julgamento? Não. Pelo contrário, a Igreja produziu cismas ainda maiores que antes. No Século 16, por exemplo, surgiram os reformadores. Lutero, Calvino, etc., todos eles antes padres católicos. Grandes religiões, a ponto da Igreja Católica não poder perseguir, foram formadas por eles. Religiões estas que duram até hoje.
Mas, e hoje? Como é a Igreja Católica nos dias atuais? O que ela prega e qual é o resultado de sua presença, cada vez menor, nos países ocidentais?
É o que vamos ver na próxima parte.
.
.
Continua

segunda-feira, 12 de agosto de 2024

Transfusão de Sangue - O Que Você Não Sabe

 Transfusão de Sangue - O Que Você Não Sabe


.
- A Briga Pelo Sangue -
Está sendo julgado, pelo STF (Supremo Tribunal Federal) do Brasil, uma ação sobre o uso de sangue nas cirurgias em pacientes Testemunhas de Jeová. Como o mundo todo sabe, as Testemunhas de Jeová não doam e nem aceitam sangue, não importando as circunstâncias. É ordem bíblica. Veja, por exemplo Atos 15:20.
Assim, o amor que as Testemunhas de Jeová tem pelas ordens do próprio Deus mostra ser maior do que o que sentem pela própria vida (Mateus 10:37,38). De fato, as Testemunhas de Jeová, a exemplo dos antigos apóstolos, seguem a risca, como nenhum outro grupo religioso segue, as ordens de Deus escritas na Bíblia, mesmo que isso, eventualmente, lhes custe a vida.
Mas se o caso chegou ao STF é porque houve recursos e disputas em instâncias judiciais inferiores entre hospital e paciente. O hospital insistiu em aplicar sangue no paciente, dizendo que sem ele "não seria possível a cirurgia" e o paciente em questão, se recusou terminantemente a receber o sangue, o que levou a judicialização do caso.
.
- Quanto Mais Se Doa, Mais Falta -
Mas, é preciso perguntar: Por que os hospitais e médicos insistem em usar sangue de doadores, um modo antiquado de se resolver cirurgias, se já existem métodos modernos muito mais eficientes?
Por exemplo, o aparelho RIOS/Cell Saver (Recuperação Intraoperatória de Sangue) dispensa o uso de sangue de doadores em cirurgias de grande porte, aquelas que precisam de muito sangue. Durante a operação, ela aspira o sangue que iria se perder, filtra-o de suas impurezas e devolve ao corpo do paciente totalmente limpo, sem qualquer risco de incompatibilidade ou rejeição, o que não acontece com sangue de doadores. Com este aparelho sendo usado nas cirurgias é como se o paciente não perdesse nenhum sangue.
Não seria mais razoável equipar os hospitais com esses aparelhos para se evitar aquele desespero por sangue alardeado pelos "bancos" de sangue, os custos das propagandas e a sempre questão da falta de sangue. Reparem que o número de doadores é sempre insuficiente.
.
- Um Esquema Ganancioso -
Assim, tal insistência desarrazoada por parte de médicos e hospitais, fazem com que alguns pesquisem e encontram o motivo que, pasmem, financeiro!
"Mas como assim, financeiro, se o sangue é doado?" - perguntaria você.
Faça uma pesquisa na Internet e veja quanto custa uma "bolsa de sangue", que tem em média, 350 Mg. Verá que custa em torno de R$ 800,00. Custa pra quem?
O "esquema" funciona assim: O doador vai um banco de sangue, movido pelas propagandas de que se deve ter "amor ao próximo", e doa seu sangue, que é estocado. O hospital pede bolsas de sangue ao banco de sangue ao preço de uns R$ 800,00 cada bolsa. E leve em conta que numa única cirurgia, se usa de 3 a 5 bolsas de sangue. O hospital então pede a verba para o Estado para pagar as bolsas de sangue. Obviamente pede uma verba maior, que engloba outros insumos. O Estado, "bonzinho", pega dinheiro de onde, para pagar o hospital? Do contribuinte... que inclui aqueles que doam seu sangue e ao mesmo tempo em que pagam impostos.
E não estamos falando na "verba da Saúde", sempre alardeada pelos políticos em suas campanhas eleitorais. Assim, o que o doador dá de graça para os bancos de sangue, na verdade é usado para um lucrativo comércio entre hospitais e coletores de sangue. A "prova de amor" do doador é uma mina de ouro grátis para gananciosos agentes de Saúde.
Com certeza, se os hospitais fossem equipados com os modernos equipamentos, todos sairiam ganhando: O paciente, que não correria riscos com sangue alheio, os médicos que certamente não teriam tantas mortes nas mãos, por causa de cirurgias feitas com métodos antigos, o Estado, que não teria que pagar todo mês pelo sangue e, finalmente, o contribuinte, que poderia ver melhorias na Saúde, já que sobraria mais dinheiro. Perceba que os hospitais sempre estão um caos.
.

- É A Saúde Que Deveria Importar - 
Assim, é de se imaginar: Se com o Cell Saver, pode-se usar quanto sangue quiser (do próprio paciente) de graça, será que os médicos e hospitais não insistem no sangue à moda antiga para as cirurgias, porque, na realidade, eles lucram com isso? Se for isso fica claro que a Saúde Pública, a saúde, a vida do paciente e a melhoria dos tratamentos, não são importantes para eles. O que lhes importa é somente o dinheiro. E se for mesmo isso, será que tais agentes de saúde podem se chamar de médicos e a seus locais de trabalho de hospitais?

sábado, 10 de agosto de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 18

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 18

 Imagem: Imagem da Trindade Egípcia: Hórus, Ísis e Osíris. Esta antiga Trindade, da primeira grande nação do mundo, acabou incentivando o aparecimento de outras do mesmo tipo: Na Grécia era composta pelos "deuses" Zeus, Maia e Hermes e na antiga Roma era Júpiter, Juno e Minerva. No tempo depois dos apóstolos, dos pais da Igreja, criou-se, com base nessas crenças do paganismo, a Trindade Católica, formada por Deus, Jesus e o Espírito Santo.
 

.
- O Perigo da Filosofia -
Se os bispos da antiga Igreja eram filósofos é até natural que o que os influenciou a montarem doutrinas estranhas ao cristianismo foi a filosofia. A natureza da mente de um filósofo é a de não aceitar nada como concluído. Para eles, sempre vai estar faltando algo ainda por ser revelado, em todas as coisas. A própria palavra "Filosofia" (em grego: "Amor à Sabedoria") indica que seus adeptos tendem a dissecar e teorizar tudo na tentativa de aprender o sentido da vida humana
Por este motivo, as palavras simples da Bíblia, como amar e obedecer a Deus, não lhe são suficientes. Para os filósofos, a Bíblia é apenas um detalhe no mar de discussões que tecem a respeito de tudo.
É interessante que há avisos na Bíblia sobre o perigo que a Filosofia representa para o cristianismo. Em Atos 17:18 lemos que filósofos epicureus e estoicos "discutiram" com Paulo, chamando-o de "tagarela" e rejeitando as palavras de Jesus sobre a ressurreição. E em Colossenses 2:8, Paulo dá o claro aviso para os cristãos tomarem cuidado com os que "escravizam" por meio de filosofia, que é um "vão engano de tradições e coisas elementares do mundo e não em Cristo".
Mas há mais.
.
- A Influência do Paganismo Egípcio -
Por todo o mundo antigo, remontando ao tempo da Babilônia, a adoração de deuses pagãos agrupados em três, ou tríades, era comum. Estes tipos de deuses eram também prevalecentes no Egito, na Grécia, e em Roma nos séculos antes, durante e depois de Cristo. Assim os filósofos que, após a morte dos apóstolos, formaram a Igreja Católica, estavam também influenciados por este tipo de adoração. Por isso tais crenças pagãs passaram a invadir o cristianismo.
O historiador Will Durant (1885 - 1981), historiador e filósofo americano, observou: “O cristianismo não destruiu o paganismo; ele o adotou. . . . Do Egito vieram as ideias de uma trindade divina.” E no livro Egyptian Religion (Religião Egípcia), Siegfried Morenz (1914 - 1970), egiptólogo alemão diz: “A trindade era uma das principais preocupações dos teólogos egípcios . . . Três deuses são combinados e tratados como se fossem um único ser, a quem se dirige no singular. Deste modo, a força espiritual da religião egípcia mostra ter um vínculo direto com a teologia cristã.”
Assim, em Alexandria, no Egito, os eclesiásticos da última parte do terceiro e o início do quarto século, tais como Atanásio, refletiram essa influência ao formularem ideias que levaram à Trindade católica. A própria influência deles se alastrou, de modo que Morenz considera “a teologia alexandrina como o intermediário entre a herança religiosa egípcia e o cristianismo”.
No prefácio do livro History of Christianity (História do Cristianismo), de Edward Gibbon (1737 - 1794), historiador inglês que tinha "simpatia" pela Igreja Católica, lemos: “Se o paganismo foi conquistado pelo cristianismo, é igualmente verdade que o cristianismo foi corrompido pelo paganismo. O puro deísmo dos primeiros cristãos . . . foi mudado, pela Igreja de Roma, para o incompreensível dogma da trindade. Muitos dos dogmas pagãos, inventados pelos egípcios e idealizados por Platão, foram retidos como sendo dignos de crença.”
.
- A "Suprema e Derradeira Realidade" -
O Dicionário do Conhecimento Religioso menciona que muitos dizem que a Trindade “é a corrupção emprestada de religiões pagãs e enxertada na fé cristã”. E O Paganismo no Nosso Cristianismo declara: “A origem da Trindade é inteiramente pagã.”
É por isso que na Enciclopédia de Religião e Ética, James Hastings (1852 - 1922), ministro da Igreja Livre Unida Escocesa e estudante da Bíblia, escreveu: “Na religião indiana, p. ex., temos o grupo trinitário de Brama, Xiva e Vixenu; e na religião egípcia, com o grupo trinitário de Osíris, Ísis e Hórus . . . Tampouco é apenas em religiões históricas que encontramos Deus sendo considerado como uma Trindade. Vem-nos à mente em especial o conceito neoplatônico da Suprema e Derradeira Realidade”, que é “representada triadicamente”. 
Tais palavras vindas de um religioso de uma igreja presbiteriana, que aceita a trindade ao estilo do catolicismo é, no mínimo curioso.
Daí surge a pergunta: O que tem a haver com a Trindade o filósofo grego Platão?
Platão, segundo se pensa, viveu de 428 a 347 antes de Cristo. Embora não ensinasse a Trindade na sua forma atual, as suas filosofias pavimentaram o caminho para ela. Mais tarde, movimentos filosóficos que incluíam crenças triádicas floresceram, e estas eram influenciadas pelas ideias de Platão a respeito de Deus e da natureza.
.
- Desenvolvimento Lento e Estranho -
 Que o paganismo platônico da doutrina da Trindade é reconhecido até pelos religiosos trinitaristas, pode ser atestado pelas obras que escrevem. Veja exemplos abaixo:
A obra francesa Nouveau Dictionnaire Universel (Novo Dicionário Universal) diz sobre a influência de Platão na cristandade trinitarista: “A trindade platônica, que em si é meramente um rearranjo de trindades mais antigas, que remontam aos povos anteriores, parece ser a trindade filosófica racional de atributos que deram origem às três hipóstases ou pessoas divinas ensinadas pelas igrejas cristãs. . . . O conceito deste filósofo grego sobre a trindade divina . . . pode ser encontrada em todas as religiões pagãs antigas.” A obra é de Maurice de la Châtre (1814 - 1900), lexicográfico francês que teve sua obra A História dos Papas destruída a mando da Igreja.
A The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge (Nova Enciclopédia de Conhecimento Religioso, de Schaff-Herzog) mostra a influência dessa filosofia grega: “As doutrinas do Logos e da Trindade receberam a sua forma de Pais Gregos, que . . . foram muito influenciados, direta ou indiretamente, pela filosofia platônica . . . Que dessa fonte se infiltraram erros e corrupções na Igreja não pode ser negado.” A obra é de Philip Schaff (1819 - 1893), um historiador suíço e teólogo protestante
A obra A Igreja dos Primeiros Três Séculos diz: “A doutrina da Trindade foi formada de maneira gradual e comparativamente tardia; . . . teve a sua origem numa fonte inteiramente estranha à das Escrituras Judaicas e Cristãs; . . . cresceu, e foi enxertada no cristianismo, pelas mãos de Pais platônicos.
.
- "O Homem Que É Contra a Lei" -
Por volta do fim do terceiro século EC, o “cristianismo” e as novas filosofias platônicas tornaram-se inseparavelmente unidas. Como declara Adolf von Harnack (1851 - 1930), professor universitário e teólogo luterano alemão, em Outlines of the History of Dogma (Linhas Gerais da História de Dogmas), a doutrina da igreja ficou “firmemente enraizada no solo do helenismo [pensamento grego pagão]. Deste modo tornou-se um mistério para a grande maioria dos cristãos.”
A igreja afirmava que as suas novas doutrinas se baseavam na Bíblia. Mas Harnack diz: “Na realidade legitimava em seu meio a especulação helênica, os conceitos e costumes supersticiosos de cultos misteriosos pagãos.
No livro A Statement of Reasons (Declaração de Razões), Andrews Norton (1786 - 1853), teólogo unitarista americano, considerado "Papa Unitarista", diz sobre a Trindade: “Podemos traçar a história dessa doutrina e descobrir a sua origem, não na revelação cristã, mas sim na filosofia platônica . . . A Trindade não é uma doutrina de Cristo e de seus Apóstolos, mas sim uma ficção da escola de posteriores platonistas.”
Assim, no quarto século EC, a apostasia predita por Jesus e por seus apóstolos veio a florescer plenamente. E o desenvolvimento da Trindade era apenas uma das evidência disso, pois também começaram a abraçar outras ideias pagãs, como o inferno de fogo, a imortalidade da alma e a idolatria. Espiritualmente falando, a cristandade havia entrado na sua predita era obscura, dominada por uma crescente classe clerical, ou, segundo as palavras do apóstolo Paulo, “homem que é contra a lei”. — 2ª Tessalonicenses 2:3, 7.
.
- Pergunta Adicional -
Mas, se a Igreja, ao criar a Trindade, permaneceu muito tempo dizendo apenas que Jesus e Deus é o mesmo, de onde surgiu o "Espírito Santo" como pessoa? É o que vamos considerar na próxima parte.
.
,
Continua



quarta-feira, 7 de agosto de 2024

A Teoria da Evolução Segundo os Evolucionistas - Parte 1

 A Teoria da Evolução Segundo os Evolucionistas - Parte 1

Imagem: A representação de uma célula. Uma célula, por mais simples que pareça ser, pode ser comparada a uma grande, completa e complexa fábrica. A Teoria da Evolução dizia, dado a falta de conhecimento sobre elas, que a vida começou com a formação "ao acaso" de uma delas, no passado. Evidências mais modernas no entanto já desbancaram essa possibilidade.
 

- Perguntas Há Muito Tempo Respondidas -
Por que hoje muitos ainda creem na Teoria da Evolução, no que se refere ao surgimento de novas espécies a partir de outras, considerando-a como "fato já comprovado"? Muitos respondem que "os cientistas já demonstraram isso". Outros respondem com exemplos comparativos: Por exemplo, dizem que "se aprendemos a falar uma língua isso mostra que evoluímos", como se isso fosse prova de que o "surgimento de novas espécies está comprovado". Já os mais simples preferem acreditar nos cientistas, mesmo que não entendam do que eles estão falando. Para essas pessoas, o peso da autoridade, do "PHD" em biologia lhes dá sempre razão. Mas, nem uma coisa e nem outra é verdade. Vejamos:
1 - Nunca houve uma "demonstração"  prática de que uma espécie se transformou em outra. Nenhum "elo de ligação" entre uma espécie e outra foi encontrado. Todas as "demonstrações" e "descobertas" já feitas durante os mais de 100 anos de pesquisa, ou se mostraram fraudes ou descartadas mediante melhores evidências.
2 - Também, comparações com o que se supõe ser prova de evolução, como aprender a falar uma língua, ou se adaptar a uma sociedade diferente, não se sustenta. Os homens continuam sendo os mesmos homens de sempre e não outra espécie. Línguas e sociedades surgem e desaparecem, mas o homem é sempre o mesmo, com os mesmos sentimentos e consciência.
3 - Por fim, o grau de doutorado dos cientistas não é fator de razão. Houve época em que os "homens de ciência", os que sempre tiveram razão, diziam que a Terra era plana e sustentada por elefantes gigantes. Ninguém conseguia provar o contrário. Assim, não é porque um cientista diz uma coisa que, necessariamente, esteja certo.
.
É é justamente para responder àqueles que confiam nos cientistas que vamos colocar aqui suas frases a respeito da Evolução. Será que pode-se crer na Evolução pelas palavras dos cientistas evolucionistas? Considere abaixo, algumas das frases ditas por eles:
.
- Desacordos Sobre a Evolução -
Se a Evolução fosse um fato comprovado, não haveria desacordo sobre ela entre os cientistas.
Assim, William Robin Thompson (1887 - 1972), entomologista canadense que prefaciou a edição centenária do livro A Origem das Espécies, de Darwin (a 1ª edição é de 1859), registrou:
"Como sabemos, há grande divergência de opiniões entre os biólogos, não só quanto às causas da evolução, mas também, até mesmo, sobre o processo em si. Tal divergência existe porque a evidência é insatisfatória, e não permite nenhuma conclusão abalizada. Por conseguinte, é correto e apropriado trazer à atenção do público não-científico os desacordos sobre a evolução".
.
- Dificuldades Crescentes -
Durante mais de 100 anos de pesquisas e tentativas, a Teoria da Evolução, ao invés de ser comprovada como "fato", se embrenha cada vez mais em dificuldades. Cada novo avanço científico representa um abismo de complexidade naquilo que se pensava "simples".
Por exemplo, no início da Teoria, imaginava-se que a célula era formada de poucos dos conhecidos elementos e que, bastando juntá-los num ambiente propício, ela "passaria a viver". Infelizmente muitos pensam assim, ainda hoje.
Daí, quando foi-se conhecendo melhor a célula, viu-se que cada uma delas (e existem milhões de tipos de células) é formada de milhares de elementos todos corretamente correlacionados de uma forma nada simples, o que torna impossível de se juntarem "ao acaso" como se imaginava.
Por isso, Francis Hitching (1933 - ), evolucionista britânico e escritor dos livros "O Pescoço da Girafa" e "Estava Darwin Errado?", depois de estudar extensivamente a Teoria disse:
"O darwinismo, a despeito de toda a aceitação que goza no mundo científico como o grande princípio unificador da biologia, depois de um século e um quarto, acha-se envolto num surpreendente montão de dificuldades"
Isso lhe valeu a perseguição por parte de alguns cientistas mais acirrados... mas que também, conforme veremos mais adiante, disseram frases contra o que acreditavam.
.
.
Continua

 

 

sábado, 3 de agosto de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - parte 17

 Igreja Católica - Como Se Formou? - parte 17

 
Uma representação de "Deus", com três cabeças. Isso lhe parece lógico. Teria o homem sido "formado a semelhança de Deus", se Ele fosse realmente três em um?
 
 
- O Concílio de Constantino -
Se a doutrina da trindade não é um ensinamento bíblico e nem dos primeiros "pais da igreja", como e quando ela apareceu como um dos pilares de fé da Igreja Católica e das demais igrejas da cristandade?
Alguns teólogos acham que ela foi formulada no Concílio de Nicéia, em 325. Mas isso não é totalmente verdade. Naquele Concílio foi estabelecido que Jesus é da mesma "substância" que Deus e só. Não se mencionou no Concílio o "espírito santo" como pessoa e nem a palavra "trindade". Essas coisas se desenvolveram mais tarde.
Por muitos anos havia muita oposição, por motivos bíblicos, contra a emergente ideia dos filósofos de que Jesus era Deus. Os oposicionistas, obviamente pendiam para o ponto de vista bíblico enquanto que os que defendiam a nova ideia se baseavam em conceitos filosóficos pagãos.  Para resolver a disputa, o imperador romano Constantino, o Grande (272 - 337) convocou todos os bispos a Nicéia. Compareceram menos de 300, uma fração irrisória do total.
Pode-se depreender do fato do Concílio ter sido convocado por um imperador romano pagão, que aqueles que compareceram eram os mais afastados do verdadeiro cristianismo, os que tinham mais cobiça por poder e menos escrúpulos.
.
- O Paganismo no Comando -
Constantino não era cristão, não entendia nada de cristianismo. Supostamente, mais tarde na vida ele se converteu, mas só foi batizado quando estava para morrer. Sobre ele, Henry Chadwick (1920 - 2008), teólogo britâncio, diz em The Early Church (A Igreja Primitiva): “Constantino, como seu pai, adorava o Sol Invicto; . . . a sua conversão não deve ser interpretada como tendo sido uma íntima experiência de graça . . . Era uma questão militar. A sua compreensão da doutrina cristã nunca foi muito clara, mas ele estava certo de que a vitória nas batalhas dependia da dádiva do Deus dos cristãos.”
Que papel desempenhou esse imperador não batizado no Concílio de Nicéia? A Enciclopédia Britânica diz: “O próprio Constantino presidiu, ativamente orientando as discussões, e pessoalmente propôs . . . o preceito crucial, que expressa a relação de Cristo para com Deus no credo instituído pelo concílio, ‘de uma só substância com o Pai’ . . . Intimidados diante do imperador, os bispos, com apenas duas exceções, assinaram o Credo de Nicéia, muitos dos quais bem contra à sua inclinação pessoal.”
Assim, o papel de Constantino foi decisivo. Depois de dois meses de furiosos debates religiosos, esse político pagão interveio e decidiu em favor dos que diziam que Jesus era Deus. Mas, por quê? Certamente não por causa de alguma convicção bíblica. “Constantino basicamente não tinha entendimento algum das perguntas que se faziam em teologia grega”, diz o livro Breve História da Doutrina Cristã. Mas, o que ele deveras entendia era que a divisão religiosa representava uma ameaça ao seu império, e o seu desejo era solidificar o seu domínio.
De maneira que nenhum dos bispos em Nicéia promoveu uma Trindade, mas sim uma "dualidade". Eles decidiram apenas a natureza de Jesus, enquanto Constantino imaginava ter conseguido a paz.
.
- O Concílio de Constantinopla -
O Concílio de Nicéia promoveu a "paz" que Constantino esperava? Não. E nem tampouco se promoveu a nova ideia de que Cristo era Deus, ou que era igual a Deus.
Os debates sobre o assunto continuaram por décadas e os que criam que Jesus não era igual a Deus até mesmo recuperaram temporariamente o favor. Mais de 50 anos depois, porém, o Imperador Teodósio (347 - 395), outro pagão, decidiu contra eles.
Teodósio estabeleceu o credo do Concílio de Nicéia como padrão para o seu domínio e convocou o Concílio de Constantinopla, em 381 EC, para esclarecer os preceitos.
Esse concílio concordou em colocar o espírito santo, considerado agora como uma "pessoa", no mesmo nível que Deus e Cristo, algo que nem mesmo os bispos corruptos de Nicéia imaginariam. Pela primeira vez, a Trindade da cristandade passou a ser enfocada.
Todavia, mesmo após o Concílio de Constantinopla, a Trindade não se tornou um credo amplamente aceito. Muitos, por questões de consciência e lógica (a Trindade, além de ser um ensino pagão, não tem lógica) se lhe opuseram. Mas, por causa  de ter sido uma decisão imperial, aqueles que eram contra sofreram violenta perseguição.
Foi apenas em séculos posteriores que a Trindade foi formulada em credos específicos. A Enciclopédia Americana diz: “O pleno desenvolvimento do trinitarismo ocorreu no Ocidente, no escolasticismo da Idade Média, entre os Séculos 9 e 16, quando se adotou uma explicação em termos de filosofia e psicologia.”
A adoção dessa crença, totalmente antibíblica não trouxe paz, conhecimento ou harmonia na Igreja. Pelo contrário, quanto mais o tempo passava, mais desunida e violenta se tornava
.
- A Mentira do Credo Atanasiano -
A doutrina da trindade, dizem os signatários da Igreja, "foi mais plenamente definida no Credo Atanasiano". Atanásio de Alexandria (296 - 373) foi um clérigo que apoiou Constantino em Nicéia. O credo que leva seu nome declara: “Adoramos um só Deus em Trindade . . . O Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus; e, no entanto, não são três deuses, mas um só Deus.” Assim, tem-se a impressão que a trindade foi definida no Concílio de Niceia.
Mas, bem informados peritos concordam que não foi Atanásio quem elaborou esse credo. A Nova Enciclopédia Britânica comenta: “O credo era desconhecido à Igreja Oriental até o século 12. Desde o século 17, os peritos em geral têm concordado que o Credo Atanasiano não foi escrito por Atanásio, mas que, provavelmente, foi elaborado no sul da França durante o quinto século. . . . O credo parece ter tido influência primariamente no sul da França e na Espanha no 6.º e 7.º séculos. Foi usado na liturgia da igreja na Alemanha no 9.º século e um pouco mais tarde em Roma.”
.
- A Política na Igreja -
Portanto, levou séculos desde o tempo de Cristo para que a Trindade viesse a ser plenamente aceita na cristandade. E, em todo esse processo, o que foi que guiou as decisões? Foi a Palavra de Deus, ou foram considerações clericais e políticas?
Em Origem e Evolução da Religião, E. W. Hopkins responde: “A definição ortodoxa final da trindade era em grande parte uma questão de política eclesial."
Na próxima parte vamos considerar sobre o que influenciou os clérigos da Igreja a montarem essa doutrina
.
.
Continua