quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 19

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 19

Uma tortura feita durante a Inquisição. Será que Deus aprovaria atitudes como essa, para a "sua maior glória"? Obviamente que não. Mas foi nisso, nesse reinado de horror e injustiça descomunais, o que o que se transformou a igreja romana durante toda a Idade Medieval. Mais detalhes deste terrível período da História humana vermos nas próximas partes.



- Um Enxerto Desonesto -
A trindade, conforme vimos, foi se desenvolvendo através dos séculos. Vimos também que, após os apóstolos, ou mais de 300 anos depois deles, os "pais da Igreja", começaram a dizer que Jesus é Igual a Deus. mas não incluíram o Espírito Santo. Este, como "terceira pessoa igual a Deus e Jesus" só seria proposto no Concílio de Constantinopla, em 381. Assim, em algum momento, entre o Concílio de Nicéia (325) e o de Constantinopla, começou-se uma "procura" por um ser espiritual para ser colocado, como terceira "pessoa" do planejado deus trino católico, de inspiração pagã.
Embora os "pais da igreja" criassem um novo deus, que talvez tenha sido interpretado pelas palavras de Jesus que pedia para os apóstolos batizarem as pessoas "em nome do Pai, do filho e do espírito santo" (Mateus 28:19), houve desonestidade por parte dos modernos tradutores da Bíblia, que reconheceram que tal pedido de Jesus não explicava realmente a Trindade. Eles enxertaram palavras apócrifas no texto de 1ª João 5:7, colocando que "Deus, Jesus e Espírito Santo são um só".
No entanto, pesquisadores descobriram que estas palavras não se encontram em traduções bíblicas mais antigas. Assim, o professor universitário americano Bruce Manning Metzger (1914 - 2007), que lecionava grego e era tradutor bíblico diz em seu livro A Textual Commentary on the Greek New Testament (Comentário Textual sobre o Novo Testamento Grego): “Não há dúvida de que essas palavras são espúrias e não têm o direito de permanecer no Novo Testamento.
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- O Concílio de Constantinopla -
Se o espírito santo fosse uma pessoa, e ainda mais fazendo parte de Deus e Jesus, ele estaria, desde o início da Bíblia, nomeado e explicado. Seu papel na história humana, suas palavras e tudo a seu respeito seriam amplamente divulgados, como são divulgadas, na Bíblia inteira, as mesmas coisas com relação a Deus e Jesus.
No entanto, sempre que aparecem, na Bíblia, as palavras "espírito santo", elas se referem a qualidade de Deus. Deus é um espírito e ele é santo (sem pecados). Veja por exemplos: Isaías 63:10 (triste) e Isaías 63:11 (trabalhador). Nunca, na Bíblia, o espírito santo se refere a um ser espiritual personalizado.
Outro exemplo: Todos concordam que Jesus é filho de Deus. O próprio Deus disse isso (Mateus 17:5; Marcos 9:7 e Lucas 9:35), mas em Mateus 1:18,20 se diz que Maria engravidou do espírito santo. Se este espírito fosse uma pessoa, Jesus não seria filho de Deus, mas dessa outra pessoa.
Mesmo assim, no Concílio de Constantinopla (381), convocado, a exemplo do de Nicéia, por um imperador romano pagão, Teodósio 1 - o Grande (346 - 395), discutiu-se "a natureza de Deus". Julgou-se necessária esta discussão porque o Imperador Juliano (331 - 363) havia tentado restaurar a antiga religião politeísta romana, desfazendo temporariamente o catolicismo criado por Constantino em Nicéia.
Daquela vez, em Constantinopla, a coisa seria diferente. o catolicismo, agora definitivamente trinitário, voltaria a ser a religião oficial do império, mas as outras religiões, antes toleradas, seriam banidas. O catolicismo seria então, não mais incentivado para as pessoas, mas imposto pelo poder das espadas romanas, em todas as partes do império.
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- Poder Mundial -
Assim o Deus trindade, que ainda não estava totalmente "explicado" (e, de fato, é um "mistério" até os dias atuais) foi imposto aos povos conquistados. Depois daquele ato de Teodósio, a Igreja julgou-se "reino de Deus no mundo". Para isso, foram buscar, não na Bíblia, mas nas palavras de Agostinho (354 - 430): "O reino de Deus começou neste mundo com a instituição da Igreja Católica" - The New Encyclopædia Britannica, Macropédia, Volume 4, página 506. Se tivessem lido a Bíblia sobre o reino de Deus, teriam se deparado com o texto de João 15:19, no qual Jesus diz que seus discípulos "não fazem parte do mundo".
Foi a partir daquela época que a Igreja começou a se juntar com toda sorte de ações mundanas, incluindo as guerras. O historiador francês Paul Augustine Louis Rougier (1889 - 1982) disse: "Enquanto se difundia, o cristianismo passou por estranhas mudanças, a ponto de se tornar irreconhecível. . . . A primitiva igreja dos pobres, que vivia de caridade, tornou-se uma igreja triunfalista, que chegou a um acordo com as autoridades constituídas quando não conseguiu dominá-las.
Ou seja: A Igreja Católica da época do Concílio de Constantinopla era diferente da igreja Católica de 50 anos antes. Ela era "mais mundana". Quando o último imperador romano do Ocidente foi deposto por tribos germânicas, em 476, o Bispo de Roma Simplício (430 - 483), declarou ter direito a substituir o imperador e a Igreja Católica de substituir o império como um todo: A The New Encyclopædia Britannica (Nova Enciclopédia Britânica) registra: “Constituiu-se um novo poder: a Igreja Romana, a igreja do bispo de Roma. Esta igreja considerava-se sucessora do extinto Império Romano. Os papas de Roma . . . estenderam sua reivindicação secular do governo pela igreja além das fronteiras da igreja-estado e desenvolveram a chamada teoria das duas espadas, declarando que Cristo deu ao papa não somente o poder espiritual sobre a igreja, mas também poder secular sobre os reinos do mundo.”
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- O Reinado do Terror -
Essa nova condição da Igreja Católica, de uma instituição governamental, política e militar, ao estilo mundano, fez com que, a exemplo dos demais governos políticos, também se dividisse. Ainda no final do Século 5 ela se dividiu, dando origem as Igrejas Católicas da Armênia, da Síria e do Egito, que declararam não estar sujeitas ao bispo de Roma.
Durante os Séculos 11 e 12, surgiram muitos grupos dissidentes espalhados por todos os territórios, todos saídos da Igreja Católica, que resolveu radicalizar. Em novembro de 1184, no Sínodo (ou Concílio) de Verona, o Papa Lúcio 3 (1097 - 1185), em conluio com o Imperador do "Sacro" Império Romano Germânico, Frederico Barba-Roxa (1122 - 1190), publicou a Bula papal Ad Abolendam, que condenava como hereges e anátemas os seguidores do catarismo, arnoldismo, josephinismo, patarenesismo, humiliatismo, bem como os valdenses e os judeus. Estes deveriam ser "banidos da igreja e castigados pelas autoridades seculares", autoridades estas que, ironicamente, eram exercidas por clérigos locais.
A Inquisição, chamada de "santa" pela Igreja, então, começou com as Cruzadas. Os cavaleiros cruzados, que muitos hoje veem em filmes como heróis, eram, na verdade, caçadores de pessoas, inocentes ou não, para serem castigadas pelo simples motivo de pensarem diferente do que a Igreja Pregava.
Sim, o "reino de Deus na Terra", segundo Agostinho, a "igreja do deus trino", agora perseguia e castigava pessoas. Mas a coisa iria piorar e muito. Pelos próximos quase 6 séculos, a Inquisição iria ficar mais brutal, perseguindo toda e qualquer religião diferente da católica, com destaque para a Inquisição Espanhola, cujos efeitos duram até hoje, ocasionando a morte de milhões de pessoas (homens, mulheres e crianças), inocentes, indo acabar apenas 1834.
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- Desunião Cada Vez Mais -
Produziu a Inquisição a esperada união "para a maior glória de Deus", como se escrevia nos seus processos de julgamento? Não. Pelo contrário, a Igreja produziu cismas ainda maiores que antes. No Século 16, por exemplo, surgiram os reformadores. Lutero, Calvino, etc., todos eles antes padres católicos. Grandes religiões, a ponto da Igreja Católica não poder perseguir, foram formadas por eles. Religiões estas que duram até hoje.
Mas, e hoje? Como é a Igreja Católica nos dias atuais? O que ela prega e qual é o resultado de sua presença, cada vez menor, nos países ocidentais?
É o que vamos ver na próxima parte.
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Continua

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