sábado, 24 de agosto de 2024

Os Apócrifos - Parte 2

 Os Apócrifos - Parte 2

Representação do encontro entre Tomás Caetano (de vermelho, sentado) e Martinho Lutero (1483 - 1546) de preto, em pé). Chamado de "Lâmpada da Igreja", tentou convencer Lutero a não se separar da Igreja. Também foi um ferrenho defensor do dogma da "infalibilidade papal", o que é algo ilógico: O Papa aceitava os Apócrifos como livros bíblicos e ele não.
 
.
- "Livros Alheios" -
Os primeiros "pais da Igreja", por serem filósofos, não conseguiam entender a mensagem bíblica. Elas não pareciam fazer sentido ou então, do ponto de vista filosófico deles, sempre estava faltando algo neles. Assim, logo cedo, a partir do 3º Século, começaram as interpretações dos textos da Bíblia. A simples mensagem bíblica, direta e clara, estava, na verdade, sempre querendo dizer outra coisa, mais complicada.
Naquele ambiente de debates filosóficos, os Apócrifos, descartados definitivamente pelos judeus, foram considerados também como que querendo dizer "algo mais", ou "algo desconsiderado pelos judeus".
A tendência para desconsiderar o Cânon judaico se acentuou mesmo a partir do 4º Século. E propostas de inclusão dos Apócrifos como canônicos foram postas "na mesa" sendo a primeira delas de Agostinho, de Hipona (354-430 EC). Porém, a proposta de Agostinho asseverou que "havia uma distinção definida entre os livros do cânon hebraico e tais livros alheios”.
A Igreja Católica, no Concílio de Cartago em 397 (comandado pelo Imperador romano Honório [384 - 423]), se reuniu para discutir sobre o 'cisma donatista', sobre os 'traditores" (mais duas divisões da Igreja descontentes com seus dogmas) e as propostas sobre os Apócrifos. Os donatistas e traditores foram considerados "apóstatas". Mas, no caso dos Apócrifos, optou ela por considerar o cânon judaico ou estudar as evidências bíblicas nas Escrituras propriamente ditas para resolver a questão? Não. Ela optou por oficializar a incerta e duvidosa proposta de Agostinho. Assim, o que aquele Concílio realmente fez foi "oficializar" - e aumentar ainda mais - as disputas em torno da questão.
.
- Exclusão de Livros "Bíblicos" -
Daí, mais de mil anos depois, em 1546 EC, em plena época da Reforma, a Igreja Católica Romana voltou a se reunir no Concílio de Trento. E confirmou, agora definitivamente, a aceitação dessas adições de Apócrifos no seu catálogo dos livros da Bíblia. Era preciso fazer isso, oficializar, porque reconhecia a divisão que as posições, a favor e contra, causava em seu meio.
Como exemplos dessa divisão, temos João Wycliffe (1328 - 1384), sacerdote católico e perito teólogo que fez a primeira tradução da Bíblia para o inglês, incluindo os Apócrifos, mas destacando no prefácio que os Apócrifos “não têm a autoridade de crença”. O cardeal dominicano Tomás Caetano (1469 - 1534 ), o mais destacado teólogo católico do seu tempo, chamado pelo Papa Clemente VII (1478 - 1534) de “lâmpada da Igreja”, também discriminou os Apócrifos do verdadeiro cânon hebraico. Ele apelou para os escritos de Jerônimo, que não continham os Apócrifos, como "autoridade bíblica católica".
Em meio a tanta divisão dogmática, é interessante notar também que o Concílio de Trento não aceitou todos os escritos anteriormente aprovados pelo anterior Concílio de Cartago Recusou três deles: a Oração de Manassés, e 1 e 2 Esdras [não os livros de 1 e 2 Esdras que, em algumas versões católicas, correspondem a Esdras e Neemias].
Assim, estes três escritos, que haviam aparecido por mais de 1.100 anos na aprovada Vulgata latina, foram então excluídos. E essa bagunça de "tira e põe" livros da Bíblia estava longe de acabar. Era óbvio que a Igreja colocava ou retirava os Apócrifos da Bíblia por não conhecer nem um e nem outro. Era tudo questão política e não de conhecimento.
.
- Contra Si Próprios -
E uma mostra desse desconhecimento, por parte da Igreja, tanto sobre a Bíblia como dos Apócrifos está nos próprios textos deles, que nos fornecem evidências de não canonicidade ainda maior que as evidências externas, ou os depoimentos históricos e religiosos.
Por exemplo: Todos os livros bíblicos, de Gênesis a Apocalipse, registram profecias. Mas em nenhum Apócrifo se lê qualquer previsão para o futuro, por menor que seja. Além disso, também são contraditórios entre si. Estão repletos de inexatidões históricas e geográficas, e de anacronismos. Os escritores, em alguns casos, são comprovadamente culpados de desonestidade, ao representarem falsamente suas obras como sendo de anteriores escritores inspirados.
Um elemento que deveria ser observado neles por quem se julga especialista (caso dos teólogos católicos que os aceita) é que mostram-se, claramente, sob influência grega pagã e recorrem a uma linguagem extravagante, de um estilo literário inteiramente estranho às Escrituras inspiradas. Enquanto todos os escritores dos livros bíblicos são declaradamente inspirados divinamente, dois dos escritores dos Apócrifos assumem que não foram inspirados (Veja o Prólogo de Eclesiástico, versão bíblica do Centro Bíblico Católico e 2ª Macabeus 2:24-32; 15:38-40, da versão Matos Soares.).
Assim, pode-se dizer que a melhor evidência contra a canonicidade dos Apócrifos são os próprios Apócrifos.
.
- Livros Perigosos -
Qual a lição que podemos tirar, hoje, disso? Que os livros Apócrifos são perigosos para a leitura. A pessoa que os confunde com os livros bíblicos corre o risco de se desvirtuar no entendimento da Bíblia. Não se pode entender, por exemplo, as profecias sobre o restabelecimento do Reino de Deus, esperança da humanidade e assunto central da Bíblia, contido em praticamente todos os livros da Bíblia, se lermos os textos Apócrifos que não falam nesse Reino. Católicos sinceros deveriam considerar o conselho de seu próprio "santo", Jerônimo, que lhes diz que os Apócrifos "devem ser evitados"
Na próxima parte vamos dar uma 'pincelada" no que esses livros dizem
.
.
Continua

Nenhum comentário:

Postar um comentário