domingo, 22 de setembro de 2024

Inquisição - Parte 1

 O Vírus da Inquisição 

Representação de Tomás de Aquino. Este "santo" acabou se infectando com o "vírus" da Inquisição, ou da vontade de matar e, com ele, contaminou outros
 

Inquisição é o ato de "inquirir", isto é: "perguntar" ou "investigar". No caso da Igreja Católica, ela é chamada de "santa" Inquisição. São processos do Tribunal do "Santo" Ofício, criado na Idade Medieval, com bases em organizações "judicativas" mundanas. A própria Igreja havia sido criada, no Século IV, nos moldes de organizações mundanas, como o Senado Romano, por exemplo.
A Igreja já era um forte poder temporal estabelecido no seio das nações, no Século XIII. Fortemente aliada aos reinos europeus, julgava que tinha o direito de definir a fé das pessoas dos locais onde estivesse instalada. E nem era necessário que seus clérigos se esforçassem para isso. Bastava que o governante do local fosse católico para que toda a pressão, política e religiosa, do local fosse exercida em favor da Igreja (Veja o caso da Rainha Maria 1ª, no prólogo desta matéria). A "conversão" teria que ser de todos, a força se necessário. A igreja Católica havia se transformado em, nada mais nada menos, do que mais um braço dos governos políticos do mundo. Não um braço de esperança e amor, mas um que trazia terror.
Mas como foi que a Igreja chegou a este estúpido patamar, que está muito longe de ser cristão, no trato com as populações?
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Para entender isso, é preciso voltar ao Século VII. Em 637 os muçulmanos tomaram Jerusalém das mãos dos católicos. Para a Igreja, que acredita ter o favor de Deus, inclusive nas guerras, isso foi uma grande frustração. Daquele ano até o Século XI, foram travadas muitas guerras entre católicos e muçulmanos pela cidade. Os católicos chegaram a controlar Jerusalém, mas em 1187, os muçulmanos reconquistaram-na e se estabeleceram fortemente nela, restringindo os domínios católicos apenas à Europa.
Inconformado com isso, o Papa Urbano II (1042 - 1099), no Concílio de Clermont, em 1095, convocou o que seria chamado mais tarde de "Primeira Cruzada". Segundo Urbano II, aquela "ação militar necessária", além de reconquistar, por uma "causa nobre", Jerusalém (por causa do "santo sepulcro") e conquistar a Palestina, "consolidaria a primazia da igreja Romana". No que consistiu essa cruzada?
Diferente do que se pensa hoje sobre o "cavaleiro cruzado que salva a princesa dos bandidos", eles eram homens opressivos, dispostos a matar qualquer um "em nome do Papa". Além disso, os cavaleiros eram minoria. A Cruzada em si era formada por uma turba desorganizada de maltrapilhos, que estavam nessa empreitada, não pela fé, mas para poderem saquear as vítimas. O saque seria a recompensa.
A esta sangrenta cruzada, onde os "cruzados" matavam e saqueavam todos no caminho, seguiu-se pelo menos outras oito (a última aconteceu em 1270), todas com derrotas flagrantes. Eles mataram muita gente, mas também perderam muita gente. Foram quase 200 anos de morticínio a toa. Por causa disso, muitos se questionaram sobre o real valor religioso delas. E o interesse em reconquistar o "santo" sepulcro sumiu. (Sobre as Cruzadas vamos falar pormenorizadamente, num outro assunto)
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A Igreja, a cada cruzada mal sucedida, se perguntava "por que falhou?". Foi por causa desses questionamentos que ela, através de seus prelados, começou a imaginar que a derrota só aconteceu por causa "de inimigos internos infiltrados". A Igreja Católica iria direcionar suas armas para o "inimigo interno", ou seja: as populações dos países onde exercia poder. Estava nascendo o "vírus" da Inquisição na mente da Igreja. Mas não só isso.
Questionando também a validade das cruzadas e a igreja que as promovia, o povo também se dividiu. Começo a surgir no Sul da França diversos grupos religiosos dissidentes. Mas ao contrário dos dissidentes mais antigos (a Igreja, desde o início, sempre se dividiu), estes eram grandes o suficiente para preocupar, pois tomavam conta de cidades inteiras
Assim, em 1184, na metade das empreitadas das cruzadas, no Concílio de Verona, pelo Papa Lucio III (1097 - 1185), instaurou a Inquisição para resolver o problema dos grupos de dissidentes.
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A Igreja, desde o princípio da Inquisição, nunca pretendeu lidar com o assunto de maneira a discutir com os dissidentes os motivos os levaram a isso. No Concílio de Verona, ela decretou que "qualquer pessoa que falasse, ou até mesmo pensasse ao contrário da doutrina católica fosse considerada anátema (herege), excomungada e castigada pelas autoridades seculares." E quem dirigiria os "processos" seriam os bispos. Por causa disso, a Inquisição foi, no seu início, chamado de Inquisição Episcopal.
Mas não ficaria só nos castigos. Na medida em que os fracassos das cruzadas iam se somando, o ódio aos "culpados" ia aumentando.
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Começou-se a pensar que apenas castigos não eram o suficiente. Por exemplo, um prelado católico, que viveu para ver o fim das Cruzadas, Tomás de Aquino (1225 - 1274), chamado hoje de "santo" pela igreja também achou que não estavam fazendo o suficiente. Ele equacionou o problema da seguinte maneira: "... se os falsificadores de dinheiro ou outros malfeitores são imediatamente mortos pelos príncipes seculares, quanto mais se pode não somente excomungar os hereges, assim que são achados culpados de sua heresia, mas também matar de modo justo.” - Summa Theologice - Pergunta XI, Art. 3, 2 a, 2 ae.
Este tipo de pensamento é consequência direta da frustração pelas Cruzadas mal sucedidas. Para este "santo" católico, uma vez que os príncipes mundanos estavam, pelas Leis mundanas, corretos em matar pessoas, a Igreja também também estaria certa se matasse por causa da fé.
E não demoraria para que o assassinato fizesse parte da doutrinação pela fé. De fato o órgão da igreja que cuidava da Inquisição se chamava Congregação para a "Doutrina da Fé".
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Continua

 

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