segunda-feira, 23 de setembro de 2024

Inquisição - Parte 2

 Inquisição - As Primeiras Letras da Morte

A capa do livro Manual dos Inquisidores. Este livro, preservado historicamente até hoje, constitui prova incontestável da brutalidade de uma instituição religiosa que, dizendo-se "de Deus", tratava a criação Dele com ódio assassino. As palavras que este livro contém são de uma insensibilidade tal que só podem ser atribuídas como inspiradas por demônios. Deus jamais inspiraria que uma pessoa agisse de forma tão desastrosa com outras. O próprio Jesus, prevendo a Inquisição e outras barbaridades feitas em nome dele e de Seu Pai disse:
Eu lhes disse essas coisas para que vocês não tropecem... De fato, vem a hora em que quem matar vocês pensará que está prestando um serviço sagrado a Deus. Mas eles farão isso porque não conhecem nem ao Pai nem a mim. Contudo, eu lhes disse essas coisas para que, quando chegar a hora de acontecerem, vocês se lembrem de que lhes falei delas" - João 16:1-4

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(Material sensível - É recomendado cautela ao ler)
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- Pena de Morte Indireta -
A Inquisição iniciou, em caráter oficial, em 1184, já de forma brutal. Visava banir (excomungar) quem não fosse católico da igreja. A "bula" papal, que dava início a Inquisição, se chamava "Ad abolendam" ("abolição" ou "para a abolição"). Estipulava que "não somente os pais, mas também os filhos dos hereges " deviam ser banidos, pois "estavam destituídos da graça de Deus pelo pecado dos pais".
Além disso, os imperadores, todos eles católicos, começando por Frederico I Barba-Roxa (1122 - 1190), rei da Alemanha e Imperador do "Sacro" Império Romano-Germânico, tinham como obrigação castigar aqueles que fossem banidos.
Esses castigos incluíam chicotadas em praça pública. No caso dos "hereges", era feito com chicotes de couro mais pesados que os normais e com pontas de ferro que destruía fisicamente as vítimas e matava os mais fracos. Depois vinha a obrigação de usar por toda a vida, sob pena de prisão perpétua por descumprimento, "roupas" distintivas, meros sacos de mantimentos, com a palavra "herege" costurada neles.
O que significava esse banimento da igreja e os castigos em público? A pessoa banida e castigada não conseguia mais emprego, não podia comprar ou vender, não tinha proteção de qualquer espécie e era constantemente agredida nas ruas. Tinha sua casa invadida, incendiada ou confiscada pela igreja ou pelo reinado. Isso a obrigava a fugir, com toda a família, para lugares menos agressivos, o que era raro. Em todos os casos a pessoa se transformava num andarilho. Quem lhe desse abrigo seria também acusado de heresia e sofria o mesmo destino. Punia-se assim, não só o "crime" de não ser católico, mas também a piedade dos católicos para com seus semelhantes.
Em poucos meses a pessoa banida estaria morta quer fosse de fome, quer por abandono, quer de doença ou por linchamento. Ser banido da igreja era o mesmo que estar, indireta mas certeiramente, sob uma pena de morte. É por isso que, muitas vezes, famílias inteiras eram divididas ou ficavam arrasadas pela Inquisição, pois os parentes do "herege", mesmo os mais distantes, se reconhecidos como tais, também eram agredidos da mesma forma.
No entanto, essa chamada Inquisição Episcopal (sob direção dos bispos), que espalhou toda sorte de terror na Europa, não parecia agradar a Igreja. Ela desconfiava que alguns bispos não eram zelosos o suficiente para "descobrir todos os hereges".
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- Duas Inquisições -
Mesmo que os bispos, nas cidades europeias, se esforçassem para banir hereges, a sede da igreja em Roma não estava satisfeita. Os números de punições relatados nunca eram vistos como verdadeiros.
A Igreja não se preocupava em averiguar se houve injustiça nos "julgamentos". Então ela começou a mandar ou nomear "delegados", geralmente monges ou abades, através da Europa, que tinham o poder de promover uma Inquisição paralela. Esta foi chamada de Inquisição Delegada.
Assim, uma pessoa que tivesse passado pela Inquisição Episcopal e saísse ileso, o que era raro, podia novamente ser "inquirido" pela Inquisição Delegada. E dessa praticamente ninguém conseguia se livrar.
Os monges delegados eram mais duros que os bispos. Não levavam em conta o que o réu dizia. Este podia jurar - e provar - ser católico fervoroso que de nada adiantava. Para aqueles monges insensíveis, se o réu estava diante deles, por qualquer motivo que fosse, mesmo que fosse por calúnia de algum desafeto, era realmente culpado. Esse pensamento fez com que muito as pessoas, realmente católicos convictos e, portanto, inocentes do ponto de vista da própria igreja, fossem acusados, julgados, condenados e punidos.
Mas como era o processo inquisitorial?
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- O Processo "Judicial" da Inquisição -
Ironicamente os defensores da Igreja Católica, nos dias atuais, em fóruns de debates, ignorando o que a própria documentação da Inquisição diz, alegam que "os processos da Inquisição foram um avanço para o Direito e para a Justiça como um todo". Todavia, não se pode chamar aquilo de "avanço", ou ligar aquele tipo de "julgamento" com processos judiciais normais. O contrário foi verdade.
Desde os tempos bíblicos, processos de julgamentos, sempre realizados por autoridades seculares e não religiosas, eram muito mais justos do que os da Inquisição, onde o réu tinha direito a ampla defesa e os castigos eram proporcionais ao crime.
Mas os processos da Inquisição, pseudo-jurídicos, não julgavam crimes. Julgavam a fé, a consciência e o pensamento das pessoas, que não são crimes. Não facultava o direito a ampla defesa ao "réu" e aplicava castigos antes do resultado do "julgamento". Ou seja: Os "processos" da Inquisição, documentados pela própria Igreja, grotescos espetáculos de loucura e injustiça, constitui uma forte evidência contra o argumento de que ela é "cristã".
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- O Manual dos Inquisidores -
Os "historiadores" católicos, enviesados religiosamente, costumam dizer também, quando encontram pessoas que não sabem quase nada sobre a Inquisição que outros historiadores, em "perseguição" à Igreja, inventam. Sempre procuram amenizar o tema. Dizem que "não houve tortura nem morte na Inquisição" e que "houve só confisco de livros".
Se estão ou não usando de desonestidade neste argumento vai depender do conhecimento que eles próprios possuem sobre o assunto. Mas a farta documentação que existe, mostra, inclusive, que a maioria dos historiadores sérios "pega leve" quando diz que a Inquisição foi um período "muito triste" da humanidade. A Inquisição foi muito pior que simplesmente triste.
Por exemplo, o Manual dos Inquisidores, escrito por Nicolás Eymerich (1320 - 1399), um teólogo católico e inquisidor catalão na Espanha, passou a ser o documento de "procedimentos" dos inquisidores desde que foi lançado em 1376. Nicolás foi um padre ganancioso que estava disposto a acumular cargos, não só na Igreja (ele nomeou a si próprio de "Grande" Inquisidor), mas também nas cortes seculares. Ele chegou a ser, por um tempo, "Rei de Aragão" na Espanha.
Em seu livro "Directorium Inquisitorum" (ou "Manual dos Inquisidores"), de aproximadamente 800 páginas, escrito originalmente em latim mas traduzido para outras línguas, ele listava, entre outras coisas, não só os "suspeitos", mas também os doentes mentais como sendo "hereges".
Todos os "acusados", mesmo que de forma anônima por qualquer um, estavam sujeitos a 9 tipos de torturas durante o "julgamento", dentre as quais o esmagamento das genitálias, ter olhos e unhas arrancados e a 'estrapação'. Estrapação é o retalhamento do corpo humano preso em rodas sobre uma esteira de pregos ou serrotes.
O manual foi revisto e ampliado por Francisco de La Peña em 1578 e, a partir de então começou a ser publicado como um "livro norma" para os prelados (padres, abades, monges, etc) da Igreja, para dirigir-lhes o comportamento diário.
Assim, pode-se perguntar aos defensores da Igreja que minimizam a Inquisição: Como negar um documento desses, como prova?
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Continua
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- Links dos Papeis da Morte -
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O livro Manual dos Inquisidores, uma das publicações que embasa o escrito acima, foi traduzido para diversas línguas por diversos tradutores, na íntegra por alguns e condensados por outros. Está disponível em alguns sites. Este é um deles:
 
É interessante também o trabalho do Professor Durval de Noronha sobre o livro:
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A Bula papal Ad Abolendam também está disponível na Rede. Aqui um trabalho sobre ela, de Leandro Duarte Rust, da Universidade Federal do Mato Grosso:
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