domingo, 5 de maio de 2024

Sonetos - Tudo Sobre

 

Sonetos
Fórmulas de rimas usadas por alguns sonetistas

Iniciando
Soneto é um poema que deve narrar, em 14 linhas um assunto inteiro, que pode ser uma simples passagem, um momento da vida, um sentimento, etc.
Deve ter início que pode ser enigmático, um desenrolar do assunto no meio e uma finalização fechando o tema toda. Nos sonetos tradicionais o início é usado no 1º quarteto, o desenrolar é usado no 2º quarteto e no 1º terceto e a finalização é usada no 2º terceto. Assim, antes de escrever um soneto é preciso pensar em um tema: Sobre o que escrever? Como dividir o tema?
É aconselhável estudar o tema fazendo rascunhos. Também é necessário pensar nas rimas e escrever, de antemão, as palavras que vão ser usadas nos finais de cada linha. É de bom alvitre usar palavras conjuminantes em suas épocas de uso. Não fica bem usar apenas uma ou duas palavra arcaicas em um soneto com maioria de palavras modernas.
Depois é preciso, como em qualquer texto, verificar a pessoa (do plural ou do singular) e o tempo (presente, passado, futuro, etc) em que o soneto será escrito. Não se alterna frases da 2ª e da 5ª pessoas (Tu e Vós) com as de outras pessoas. Por exemplo, não se diz: "Tu vais ao campo de algodão tão branco" e na linha seguinte:  "Sei, eis que você lá é necessário".
As 14 linhas tem de tratar do mesmo tema. Não se pode começar escrevendo sobre um assunto e terminar com outro.

Tipos de Sonetos
Existem 3 tipos de sonetos: Italiano, Inglês e Monostrófico.
O Italiano é formado de 2 quartetos (4 linhas) e 2 tercetos (3 linhas)
o Inglês é formado de 3 quartetos e 1 dístico (2 linhas)
o Monostrófico é formado de 1 estrofe de 14 linhas


A Métrica dos Sonetos
A métrica se refere ao número de sílabas poéticas de cada linha. Existem 2 formas: Os decassílabos, de 10 sílabas poéticas,  e os dodecassílabos (Alexandrinos), de 12 sílabas poéticas
A sílaba poética é diferente de uma sílaba comum. Ela pode unir duas ou mais palavras - como elas são faladas nas conversações -  em apenas uma.
Veja o verso abaixo:

Lá comemoro meu esforço ferrenho! (Acyr Campos)

A última sílaba poética (a 10ª) do soneto tem de ser a sílaba tônica da última palavra da linha, não importando que (ou se) venham outras depois. De maneira que contamos as sílabas poéticas assim:

| co | me |mo | ro | meu es | for | ço | ferre | nho!  -  1  |  2  | 3  |4 | 5 |6 | 7  |8 |  9  |10|
No caso a sílaba poética está na 6ª casa e a contagem acaba da sílaba "re" de 'ferrenho.

Dependendo de como é escrita a linha, a sílaba poética, pela musicalidade da leitura pode ser dividida. A isso damos o nome de escansão:

Pois | tudo is | so é | meu! | Es | for | ço | de | lu | ta!  -  A escansão está entre as casas 5 e 6.

Um exemplo de soneto Alexandrino, com 12 sílabas poéticas pode ser visto aqui: Recuso-me a Ir


A Posição das Rimas

Além da métrica, outra característica importante de um soneto é o posicionamento de rimas
É livre a disposição, desde que as rimas estejam em sintonia com a 'musicalidade' do soneto. Mas existem três formas principais de posicionamento nos quartetos:

Entrelaçadas ou Opostas - ABBA (o primeiro verso rima com o quarto, o segundo rima com o terceiro).
Alternadas - ABAB (o primeiro verso rima com o terceiro, o segundo rima com o quarto).
Emparelhadas - AABB (o primeiro verso rima com o segundo, o terceiro rima com o quarto).

Detalhe: Não é de bom nível colocar rimas somente no 2º terceto para as palavras do 1º (entrelaçamento), muito embora as rimas do 2º possam rimar com as do 1º.
Veja um exemplo (de Acyr Campos) de um soneto cuja fórmula de rimas é ABAB: Nesse caso as rimas do 2º terceto são somente semelhantes ao do 1º, mas isso não os entrelaça.

Gagueira


As lembranças da turba que sorria
da cor da minha face: Vermelho tinto!
Falhava o vernáculo, rubro ardia
de tristeza, mesmo n'um dia lindo!

Jovem tolhido qual gato que mia...
Diante de cães ladradores seguindo
aprendendo a perceber ironia
nas retóricas vozes retinindo

Prosaicos fonemas eu repetia
enquanto a farândola me rugia
n'um desterrado tempo agora findo!

Mas Deus me fez ver o que antes não via!
Desfraldei da minha boca a fé qual guia
que da minha língua destravou-lhe o trinco!


Nos tercetos a disposição das rimas com relação ao posicionamento pode (e deve) ser entrelaçada.
Veja um exemplo de estrutura CDC EDE nesses tercetos de Fernando Pessoa

"Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.

Mas - esta é boa! - era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação?..."


Versos Brancos e Livres
Os sonetos acima são clássicos, onde as regras são seguidas, mas há sonetistas modernos que não usam essas regras. Preferem usar  Versos Brancos (sem rima), embora possuam métrica em suas composições. Veja por exemplo este quarteto de Carlos Drummond de Andrade:

"Negro jardim onde violas soam
e o mal da vida em ecos se dispersa:
à toa uma canção envolve os ramos
como a estátua indecisa se reflete..."

Os Versos Livres não possuem métrica e nem rima.


A Sonoridade

Um componente importante do soneto, que não deve faltar em hipótese alguma - sob pena do soneto ser considerado apenas um texto comum, mesmo que feito sob todas as outras regras, é a sonoridade (musicalidade).
O soneto quando lido deve ter um ritmo do início ao fim. Nas sílabas tônicas (ou fortes) de cada palavra colocada a leitura deve seguir uma cadência específica fazendo com que o soneto pareça uma canção. O sonetista ao escrever deve ter em mente a cadência com que será lido. É livre a formação da cadência, segundo a orientação de cada sonetista, mas há dois tipos de sonoridades identificadas (quando estão presentes) nos sonetos bem trabalhados:

Heróicos - Que dão ênfase na 6ª e na 10ª sílaba poética
Sáficos - Que dão ênfase na 4ª, na 8ª e na 10ª sílaba poética.
Alexandrinos - Ênfase na 4ª, 8ª e 12ª sílaba poética  -  ou então na 6ª, 10ª e 12ª

Veja um exemplo de sonoridade safírica:

"Adeus! Meu mulo por lá que fique! (Acyr Campos me Me Esqueça).

Essa sonoridade deve estar presente nas 14 linhas do soneto de maneira uniforme, não sendo recomendável mudar a cadência da leitura de uma linha para outra - exceto quando a intenção é entrelaçar a musicalidade dos quartetos e dos tercetos nas linhas correspondentes (a 4ª com a 8ª linha por exemplo).


As Rimas:

As rimas são sons semelhantes, na terminação de duas ou mais frases, assim, nos versos que contém rimas, temos:

A - Quanto à Sonoridade:

1 - Rimas Perfeitas:
 São aquelas em que o som é semelhante nas palavras. Exemplo: ovo e povo.

2 - Rimas Imperfeita:
São aquelas onde há semelhança apenas nas vogais tônicas das palavras que devem rimar, não tendo contudo o mesmo som. Exemplo: batata e bala. bode e troque


B - Quanto aos Valores:

3 - Rimas Ricas:
São aquelas compostas por palavras de classe gramatical diferente como uma em substantivo e outra em verbo. Exemplo: alegria (substantivo) e queria (verbo).

4 - Rimas Pobres:
São aquelas muito comuns (nas músicas por exemplo) e com palavras de mesma classe gramatical como as com terminações de gerúndio: andando e falando, e nos diminutivos ou aumentativos: amar e gostar; florzinha e pequenininha, amor e flor...

5 - Rimas Raras:
São aquelas que ocorrem entre palavras de difícil combinação tanto nos textos como em melodias.
Exemplo: cisne e tisne

6 - Rimas Preciosas.
Sãos aquelas que ocorrem entre verbo-pronome com outra palavras.
Exemplo: tê-la e estrela, amar-te e Marte


C - Quanto à Tonicidade

7 - Agudas ou masculinas:
Quando a rima acontece entre palavras oxítonas ou monossilábicas.
Exemplo: valor e amor, és e viés

8 - Graves ou femininas: 
Quando a rima acontece entre palavras paroxítonas.
Exemplo: santa e planta, mala e sala, toque e choque.

9 - Esdrúxulas: 
Quando a rima acontece entre palavras proparoxítonas.
Exemplo: mágico e trágico, fábula e tábula.

Espera que, nos sonetos, as rimas sejam perfeitas quanto à sonoridade e que não sejam pobres, mas no Modernismo - movimento que rompe com todas as regras existentes da arte - se permite a construção de sonetos sem que se siga as regras. Vai de cada um. A qualidade do soneto, porém é medida quando existe nele essas regras.



Até mais.

Acyr Campos Filho - 16/09/2013

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