terça-feira, 30 de julho de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 16

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte  16

Representação de Tertuliano, considerado o "pai da trindade". Curiosamente, a doutrina que ele propôs não era a que ensinava. Este filósofo do norte da África dizia coisas para agradar a todos, sem se importar se eram antagônicos. Suas falas eram contraditórias. Era capaz de responder "sim" e "não", para mesma pergunta, dependendo de quem a fizesse. Assim, sua proposta da trindade foi elaborada, não porque pensava daquele modo, mas para agradar os que queriam pensar daquele modo.

.
- Os Falsos Cristãos -
A Igreja Católica, num primeiro momento, diz que a trindade é bíblica. Mas, confrontados com sua própria literatura oficial que diz que "não é", conforme vimos na parte anterior, passa a dizer que ela foi ensinada pelos "sucessores dos apóstolos", numa espécie de "revelação posterior".
Dizer uma coisa dessa significa por por terra tudo o que foi dito e escrito antes pelos profetas, por Jesus e pelos apóstolos. Essa "revelação posterior" é o mesmo que dizer que Deus disse para esquecer tudo o que ele disse de si mesmo e abraçar o paganismo.
E, será mesmo que os primeiros pais da Igreja, chamados de "sucessores dos apóstolos" ensinavam a trindade? Como já vimos, nem a literatura oficial católica apoia tal ideia. Mas vamos ver o que os próprios primeiros "pais" disseram.
.
- Os Primeiros Pais da Igreja -
Quem foram eles? Foram os primeiros filósofos que surgiram logo no início do Século 2, chamados de "pais pré nicenos" (ou de "antes de Niceia").

Mas, já vimos que não poderia haver uma "sucessão apostólica". Então aqueles filósofos eram simplesmente pessoas que, de fora do grupo dos verdadeiros cristãos, começaram a tecer ideias próprias sobre o cristianismo. Eles acabaram formando "grupos cristãos" de seguidores. Seriam esses grupos verdadeiramente cristãos?
Não. Pois não seguiam os ensinamentos de Cristo, dos apóstolos ou das Escrituras. Seguiam o que seus filósofos lhes diziam. É óbvio que eles estavam bem distantes dos ensinamentos verdadeiros. Seus líderes deturpavam os ensinos verdadeiros misturando com filosofia grega e ideias próprias.
Mas, exatamente o que esses primeiros "líderes" religiosos, que se dizendo cristãos, ensinavam a respeito da trindade?
.
1 - Justino, o Mártir (100 - 165) -
Foi um filósofo das vertentes filosóficas estoica e platônica, nascido na Flávia Nápolis, um território onde hoje é a Síria. Justino dizia que "Jesus havia sido profetizado", não pelos profetas bíblicos, sobre os quais nada sabia, mas "pelos antigos filósofos gregos". Ele gostava de se expressar em termos gregos para pessoas de língua latina, demonstrando assim eloquência, inteligência e sofisticação. Dizia que "Jesus era o Logos" (ou "a palavra") que expressou uma "verdade obscura".
Justino não ensinava que Jesus era filho de Deus, conforme diz a Bíblia, mas que era "um anjo criado". Mesmo assim, examinando sumariamente três dos evangelhos (ele não examinou o evangelho de João), chegou a conclusão que Jesus “não é o mesmo que Deus, que fez todas as coisas”. Jesus "era inferior a Deus e nunca fez nada exceto o que o Criador . . . queria que ele fizesse e dissesse”.
Assim, Justino não ensinou sobre um deus trino.
Um detalhe interessante a respeito de Justino é que, embora seja ela reverenciado como "santo" pela igreja Católica, é reconhecido, nos meios acadêmicos católicos, que ele desconhecia a Bíblia. Ireneu de Lyon, outro convertido grego que se destacou entre os "pais da igreja", se opôs fortemente contra Justino por causa de seu desconhecimento das Escrituras. É provável que Ireneu tenha dito: "Como ele pode falar delas (das Escrituras) se não as conhecia?"
.
2 - Ireneu de Lyon (130 - 202)
Não se sabe bem onde Ireneu nasceu, sendo o lugar mais citado Esmirna, a atual Turquia. Não se sabe ao certo também se era filósofo de formação, embora simpatizasse e advogasse em prol das filosofias que norteavam a apostasia de sua época.
A vida de Ireneu se caracterizou, principalmente, pela sua briga contra o movimento gnóstico. O gnosticismo pregava uma interpretação filosófica dos livros apócrifos da Bíblia, que tentava achar um "meio termo" entre o platonismo e os "mistérios do cristianismo greco/romano". Ireneu considerava o gnosticismo como "séria ameaça" ao cristianismo.
Contra esse movimento ele escreveu, no ano de 180, a obra Adversus haereses ("Contra Heresias"), repleta de termos ofensivos e raivosos, sugerindo "autoridade" (autoridade no sentido policial) ao "sistema episcopal" (autoridade política de bispos), às "Escrituras sem os apócrifos" e a "tradição filosófica/cristã". Nessa linha de raciocínio, seus seguidores acabaram sendo perseguidores dos verdadeiros cristãos, então espalhados pelo Império que mantinham sua fé apenas por consciência.
A respeito de Jesus e Deus, Ireneu também não chamou Jesus de filho de Deus, mas de "pré-humano". Para Ireneu, Jesus teve uma existência diferente de Deus e "era inferior a este". Ele mostrou que Jesus não é igual ao “Um só verdadeiro e único Deus”, que “é supremo sobre todos, à parte de quem não há outro”.
Nesse sentido, Ireneu, hoje considerado "santo" por quatro denominações religiosas (Católica, Ortodoxa, Anglicana e Luterana) também não ensinou sobre uma "unicidade de Cristo e Deus" e nem sobre a trindade.
.
3 - Clemente de Alexandria - (150 - 215) -
Apologista da "filosofia como explicação para as Escrituras" nasceu em Atenas, na antiga Grécia. Também, como Ireneu, se destacou por ser contra o gnosticismo, mas não nos mesmos termos violentos de Ireneu. Concentrou-se mais no criador do movimento gnóstico, o filósofo Valentin (? - 160), também muito influente na apostasia.
Clemente hoje é venerado pela Igreja Católica, pela Igreja Copta e por certas correntes do anglicanismo.
Clemente chamou Jesus de "filho de Deus". o próprio Deus, era “o incriado e imperecível Deus e único Deus verdadeiro”. Já o Filho “vem logo depois do único Pai onipotente”, mas "não é igual a ele". De maneira que ele também não ensinou nada que pudesse dar suporte ao ensino da trindade.
.

4 - Tertuliano - (160 - 220)
Nasceu e morreu em Cartago, na África, sob domínio de Roma. Não se sabe ao certo sobre sua formação e pouco se sabe sobre sua vida, mas pela sua conversão ao "cristianismo" de sua época, deduz-se que simpatizava com a filosofia... mas só quando esta não conflitava com suas próprias ideias.
De modo geral, criticava a filosofia, que definia como "ensinamentos de homens e demônios". Uma vez ele disse: "Rejeito as tentativas de produzir um cristianismo corrupto de composição estoica, platônica e dialética".
Tertuliano era contraditório. Ao mesmo tempo em que defendia uma ideia, atacava-a. No final ninguém entendia bem qual o lado em que ele se posicionava. Por exemplo, no que toca a trindade, ele foi o primeiro que, utilizando-se de filosofia, a teorizou. Nesse sentido a obra The Theology of Tertulian (A Teologia de Tertuliano) diz que sua teoria (da trindade) era "uma mistura curiosa de ideias e termos jurídicos e filosóficos".
Ao mesmo tempo, Tertuliano contradizia sua própria teoria, dizendo que: “O Pai é diferente do Filho (outra pessoa), uma vez que é maior; assim como quem gera é diferente de quem é gerado; quem envia, diferente de quem é enviado.” Ele disse também: “Houve tempo em que o Filho não existia. . . . Antes de todas as coisas virem a existir, Deus estava sozinho.”
Apesar dessa contradição, foi, não o ensinamento que ministrava, mas sua teoria sobre a trindade, feita apenas para agradar as pessoas que queriam ouvir aquilo, a apresentada, mais tarde, no Concílio de Niceia, em 325, que serviu de base para o desenvolvimento da moderna Trindade que hoje conhecemos.
Tertuliano, apesar de ser considerado o "pai do trinitarismo" e um "pai da igreja", não é considerado "santo".
.
5 - Hipólito de Roma (160 - 235) -
Não se sabe se era de Roma. A História, sem comprovação, diz que foi discípulo de Policarpo de Esmirna (69 - 155) que, segundo a folclórica tradição católica, foi discípulo do apóstolo João.
Hipólito se destacou por ser contra os principais bispos de sua época (mais tarde colocados entre os "papas" pela Igreja). Por isso ele é chamado, hoje, de "primeiro anti-papa", a ponto de se separar dos "cristãos. Assim para ser considerado o "santo" que é hoje, a Igreja teve que criar a história de que Hipólito, no final da vida "se conciliou com a igreja". O que ensinava Hipólito sobre Deus?
Hipólito ensinava que Deus é “o Deus uno, o primeiro e o Único, o Fazedor e Senhor de tudo”, que “nada tinha de coevo (contemporâneo) com ele . . . Mas ele era Um Só, sozinho; que, querendo-o, trouxe à existência o que não existia antes”. Para Hipólito, Jesus foi criado, não sendo portanto igual ao seu Pai.
Nesse sentido o considerado pela igreja como "o mais importante teólogo do Século 3", também não ensinava a trindade.
.
6 - Orígenes de Alexandria (185 - 253)
Nasceu em Alexandria, no Egito e morreu em Cesareia na atual Turquia. Filósofo platônico (mais tarde reclassificado como "neoplatônico") Foi um eminente líder ("pai da igreja") de sua época, mas não produziu nada que "mexesse no caldeirão" da apostasia a qual pertencia.
Em 231 ele 'se castrou' por julgar estar "obedecendo a palavra de Deus". Quer seja por este motivo ou outro, começou a ficar famoso. Isso fez com que o bispo de Alexandria da época, Demétrio (? - 232) ficasse com ciúmes. Orígenes então, para não ser perseguido, fugiu para a Palestina e foi considerado como "herege" por Demétrio. Mas ele continuou sendo considerado importante para outros "pais da Igreja".
Hoje só não é considerado "santo" pela igreja por conta da crítica que Demétrio lhe fez.
No que toca ao ensino da trindade, Orígenes ensinava que “o Pai e o Filho são duas substâncias . . . duas coisas quanto à sua essência”, mas que “comparado com o Pai, [o Filho] é uma luz pequenina”. Ou seja: "diferentes".
Assim, o hoje considerado "maior erudito da igreja antiga" (sem ser "santo"), numa época em que a doutrina da unicidade de Cristo e Deus estava começando a ser proposta, não a endossou e não ensinou sobre ela.
.
- A Doutrina Estranha -
Fica evidente, pelo testemunho dos primeiros "pais da igreja", que a doutrina da trindade era estranha para eles. E, embora estivesse sendo cogitada, eles, como os principais expoentes da época não a aceitavam.

Resumindo essa evidência histórica, Alvan Lamson (1792 - 1864), Clérigo, Doutor e Professor de Harvard Divinity School, em Massachusetts - EUA, diz em The Church of the First Three Centuries (A Igreja dos Primeiros Três Séculos): “A moderna popular doutrina da Trindade . . . não deriva apoio da linguagem de Justino [o Mártir]: e esta observação pode-se estender a todos os Pais anteriores ao [credo de] Niceia; isto é, a todos os escritores cristãos por três séculos posteriores ao nascimento de Cristo. Eles de fato falam do Pai, Filho, e . . . Espírito santo, mas não como coiguais, não como uma só essência numérica, não como Três em Um, em qualquer sentido hoje aceito pelos trinitaristas. A verdade é exatamente o oposto.”

Assim, como se pergunta: Se a trindade não é bíblica, não era dos apóstolos e também não era nem dos primeiros apóstatas. Como é que ela apareceu no meio que se dizia "cristão", como um de seus importantes dogmas? É o que vamos ver na próxima parte.


Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 15

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 15

Representações de deuses trinos pertencentes a diversos povos pagãos notadamente inimigos dos judeus, que adoravam um único Deus. A partir do 4º Século, a Igreja Católica também adotou a adoração, "em termos cristãos", desses antigos deuses pagãos.

.
- Ensina a Bíblia a Trindade? -
Conforme vimos nas partes anteriores deste assunto, A igreja que foi montada, a partir do Século 4, pelo Império Romano, apesar de se dizer "apostólica", ou "dos apóstolos", nada tinha a ver com eles. Ela tinha (e tem) a ver com as crenças pagãs da época.
Uma dessas crenças é a de um 'deus trino', ou uma "tríade de deuses" combinados num só. A Igreja Católica chama o Deus Criador de "Santíssima Trindade", dizendo que ele não é um, mas, de "forma misteriosa e incompreensível", três deuses num só.
Ensina a Bíblia que Deus é uma trindade? Não. Em parte alguma dela se ensina isso. Assim, a Igreja, que em realidade advoga o paganismo apesar de se dizer "da Bíblia", lança mão, novamente de interpretações de textos para dizer que este ensino está "subentendido" nela. A trindade está presente, não na Bíblia, mas nas palavras dos "pais da Igreja". Mas, conforme já vimos, os "pais da igreja" não eram cristãos. Eram filósofos.
E como poderia tal ensino da filosofia pagã estar "subentendido" na Bíblia? Não estão. As cartas (ou livros) bíblicas não foram escritos de forma subliminar, misteriosa ou em códigos para serem decifrados por especialistas. Foram escritas, principalmente as das escrituras gregas cristãs (ou o "Novo Testamento"), por pessoas comuns para pessoas comuns. Inspiradas por Deus, visavam esclarecer as coisas referentes a vontade de Deus para conosco, e não complicá-las.
Nesta parte vamos ver o que a própria literatura oficial católica (e também "evangélica") dizem a respeito disso.
.
- Usando as Escrituras -
É preciso levar em conta que Jesus e os apóstolos usavam as Escrituras como base para seus ensinamentos. E em momento algum eles disseram que havia alguma "mensagem oculta" nas palavras que liam, ou que algo estava "subentendido que deveria ser assim apesar de não estar escrito".
Assim, se a Trindade fosse realmente um ensino bíblico, devia estar clara e coerentemente apresentada na Bíblia que liam para o povo. Por quê? Porque, como afirmaram os apóstolos, a Bíblia é "a revelação que Deus fez de si mesmo à humanidade" (Romanos 1:20; 1ª João 4:8). Por exemplo: Deus nos diz que ele "é amor". Nós conhecemos bem o amor e podemos explicá-lo de forma clara, sem precisar de palavras codificadas para deixá-lo "subentendido". Se o amor fosse incompreensível como é a trindade, Deus não poderia dizer que é amor.
E, visto que, primeiramente, temos de conhecer a Deus para, então, poder adorá-lo aceitavelmente, a Bíblia deve ser - e é - clara em nos dizer quem exatamente ele é.
Os cristãos do primeiro século aceitavam as Escrituras como a autêntica revelação de Deus. Era a base para as suas crenças, a autoridade final. Por exemplo, quando o apóstolo Paulo pregou a pessoas da cidade de Beréia, elas ‘receberam a palavra com o maior anelo mental, examinando cuidadosamente as Escrituras, cada dia, quanto a se estas coisas eram assim’ (Atos 17:10, 11). E sobre o que é Deus, existem muitos relatos, tanto sobre o que Ele é quanto às suas qualidades. As qualidade de Deus, como "poder", "força" e "bondade" nós conhecemos. Não são coisas misteriosas para nós. Se tais qualidades fossem "misteriosas" e não pudéssemos compreendê-las, como é que Deus poderia nos dizer que as possui?
.
- Mistério Insondável ou Revelado Claramente? -
As coisas referentes ao que Deus é, são explicadas. Não permanecem obscuras como no caso da trindade. Em Atos 17:2, 3 lemos: “Segundo o costume de Paulo, ele . . . raciocinou com eles à base das Escrituras, explicando e provando com referências [das Escrituras].”
O próprio Jesus deu o exemplo. Ele explicou a si mesmo por usar as Escrituras.. Ele dizia frequentemente: “Está escrito.” “Interpretou-lhes em todas as Escrituras (hebraicas) as coisas referentes a si mesmo.” — Mateus 4:4, 7; Lucas 24:27. Se Jesus, tido pela Igreja como "parte da trindade", fosse um "mistério insondável", ele próprio teria dito isso ao invés de se revelar claramente.

Portanto, Jesus, Paulo e os crentes sabiam que “toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ensinar, para repreender, para endireitar as coisas, para disciplinar em justiça, a fim de que o homem de Deus seja plenamente competente, completamente equipado para toda boa obra”. — 2ª Timóteo 3:16, 17; veja também 1ª Coríntios 4:6; 1ª Tessalonicenses 2:13 e 2ª Pedro 1:20, 21. Se as Escrituras são para "ensinar", como é que se pode dizer que nelas estão contidos, mesmo que "subentendidos", "mistérios insondáveis"?
.
- "Admitimos: Não é Bíblica!" -
Em face de tal escrutínio minucioso, não há argumentos contrários que possam ser dados.
É interessante que a literatura oficial, tanto da Igreja Católica quanto das "evangélicas", admitem que a doutrina da Trindade "não está na Bíblia".
Diz a publicação "evangélica" O Novo Dicionário Bíblico, de Russel Norman Champlin (1933 - 2018), PHD "protestante" em Línguas Clássicas da Universidade de Utah : “A palavra ‘trindade’ não pode ser encontrada na Bíblia . . . e não encontrou lugar formal na teologia da Igreja senão já no quarto século.” E uma publicação católica 'autorizada' diz que a Trindade “não é . . . direta e linearmente [a] palavra de Deus”. — Nova Enciclopédia Católica.
Além disso, a Enciclopédia Católica diz também: “Na Escritura ainda não existe um único termo através do qual as Três Pessoas Divinas sejam classificadas juntas. A palavra τρίας [trí·as] (da qual se traduz a palavra latina trinitas) é pela primeira vez encontrada em Teófilo, de Antioquia, por volta de 180 A.D. . . . Pouco depois aparece na sua forma latina trinitas, em Tertuliano.”
Mas o próprio Tertuliano (160 - 220), que apesar de ser considerado pela Igreja Católica como um dos seus "fundadores", era desconhecido. Não se sabe, ao certo, nem se era filósofo ou ligado aos primeiros pais da Igreja.
E Tertuliano não ensinou a Trindade. A obra católica Trinitas — A Theological Encyclopedia of the Holy Trinity (Trinitas — Enciclopédia Teológica da Santíssima Trindade) admite, a respeito da Trindade ensinada por Tertuliano, dizendo que "algumas das palavras de Tertuliano foram mais tarde usadas (interpretadas) por outros para descrever a Trindade". Daí, faz o alerta: “Mas, não se podem tirar conclusões apressadas a respeito do uso, pois ele não aplica essas suas palavras à teologia trinitarista.”
Assim, segundo a própria literatura católica (e "evangélica"), a doutrina da trindade não é bíblica e também desconhecida dos primeiros pais da igreja até o terceiro Século.
.
- Não Está no "Antigo Testamento" -
Se a trindade fosse bíblica ela deveria ser ensinada desde o início, no livro de Gênesis. Mas não é. Não existe um único texto, de Gênesis a Malaquias (ou todo o "antigo testamento"), que sequer deixe "subentendida" tal doutrina.
Nesse sentido a obra católica The Encyclopedia of Religion (Enciclopédia de Religião) admite: “Os teólogos hoje concordam que a Bíblia Hebraica (o antigo testamento) não contém uma doutrina da Trindade.” E a Nova Enciclopédia Católica também diz: “A doutrina da Santíssima Trindade não é ensinada no Velho Testamento.”
Similarmente, em seu livro The Triune God (O Deus Trino), o jesuíta Edmund Fortman, Padre jesuíta, admite: “O Velho Testamento . . . nada nos fala explicitamente, ou através de necessária dedução, a respeito de um Deus Trino que seja Pai, Filho e Espírito Santo. . . . Não há evidência de que qualquer escritor sacro sequer suspeitasse da existência de uma Trindade na Divindade. . . . Até mesmo enxergar no “Velho Testamento” sugestões ou prefigurações, ou ‘sinais velados’ da trindade de pessoas, significa ir além das palavras e da intenção dos escritores sacros.”.
.
- Não Está no "Novo Testamento" -
Se a trindade não está no "antigo testamento", será que estaria nas Escrituras Gregas Cristãs (o “Novo Testamento”)? Se as Escrituras Gregas (o novo testamento), é, na verdade, uma continuidade das Escrituras Hebraicas (o antigo testamento), obviamente também não estaria lá.
Assim, novamente, tanto livros históricos como as literaturas oficiais, católica e "evangélicas", são obrigadas a admitir novamente que não.
A Enciclopédia de Religião diz: “Os teólogos concordam que o Novo Testamento também não contém uma explícita doutrina da Trindade.”
Fortman declara: “Os escritores do Novo Testamento . . . não nos deram nenhuma doutrina formal ou formulada da Trindade, nenhum ensino explícito de que em um só Deus há três pessoas divinas coiguais. . . . Em parte alguma encontramos alguma doutrina trinitária de três diferentes personagens de vida e atividade divinas na mesma Divindade.”

Obras de referência acadêmica também registram a inexistência da trindade no "novo testamento". A The New Encyclopædia Britannica (Nova Enciclopédia Britânica) observa: “Nem a palavra Trindade, nem a doutrina explícita constam no Novo Testamento.”
Bernhard Lohse (1928 - 1997), teólogo e historiador da Reforma Luterana e da Patrística Católica, diz em A Short History of Christian Doctrine (Breve História da Doutrina Cristã): “No que tange ao Novo Testamento, não se encontra nele uma real doutrina da Trindade.”
O livro "evangélico" The New International Dictionary of New Testament Theology (Novo Dicionário Internacional da Teologia do Novo Testamento), de Karl Barth (1886 - 1968), considerado o maior teólogo "protestante" do Século XX, diz similarmente: “O Novo Testamento não contém a produzida doutrina da Trindade". ‘Não existe na Bíblia uma declaração expressa de que o Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam de igual essência’,

Soma-se a esses depoimentos, as de notáveis historiadores. O professor P.H.D. da Universidade de Yale (EUA), E. Washburn Hopkins (1857 - 1932) , afirmou: “Jesus e Paulo aparentemente desconheciam a doutrina da trindade; . . . nada dizem a seu respeito.” — Origin and Evolution of Religion (Origem e Evolução da Religião). E Arthur Weigall (1880 - 1934), historiador e egiptólogo, diz: “Jesus Cristo nunca mencionou tal fenômeno, e, em parte alguma do Novo Testamento aparece a palavra ‘Trindade’. A ideia foi adotada pela Igreja somente trezentos anos depois da morte de nosso Senhor.” — O Paganismo no Nosso Cristianismo.
Assim, se você for católico ou evangélico e quiser se aprofundar no ensinamento da trindade pela própria literatura "oficial" de suas religiões, ao invés de se deparar com um fortalecimento de sua crença, vai encontrar negativas "oficiais" do que lhes ensinam.
.
- Mais Admissões -
E não para por aí. Na literatura católica "oficial" também encontramos constatações de que os cristãos primitivos não eram trinitaristas e nem ensinavam sobre um deus trino? Note os seguintes comentários, de historiadores e teólogos:
1 - “O cristianismo primitivo não tinha uma doutrina explícita da Trindade, da forma como foi depois elaborada nos credos.” — Novo Dicionário Internacional da Teologia do Novo Testamento. de Verlyn D. Verbrugge, editor teológico americano.
2 - “Os cristãos primitivos, porém, não pensaram de início aplicar a ideia da [Trindade] à sua própria fé. Prestavam as suas devoções a Deus, o Pai, e a Jesus Cristo, o Filho de Deus, e reconheciam o . . . Espírito Santo; mas não se imaginava que esses três fossem uma autêntica Trindade, coigual e unida em Um.” — O Paganismo no Nosso Cristianismo.
3 - “De início, a fé cristã não era trinitarista . . . Não era assim nas eras apostólica e pós-apostólica, como se reflete no Novo Testamento e em outros primitivos escritos cristãos.” — Encyclopædia of Religion and Ethics (Enciclopédia de Religião e Ética), de James Hastings (1852 - 1922), teólogo presbiteriano escocês.
4 - “A formulação de ‘um só Deus em três Pessoas’ não foi solidamente estabelecida, de certo não plenamente assimilada na vida cristã e na sua profissão de fé, antes do fim do 4.º século. . . . Entre os Pais Apostólicos, não havia nada, nem mesmo remotamente, que se aproximasse de tal mentalidade ou perspectiva.” — Nova Enciclopédia Católica.

Resumindo esta parte: Se você se deparar com um eminente defensor da fé católica (ou evangélica) que "bata o pé", dizendo que o ensino da trindade está em "seus pilares", tenha certeza que ele simplesmente não conhece sua própria literatura oficial
.

- Na Próxima Parte -
Tais depoimentos, de importantes figuras religiosas e históricas, retiram totalmente o crédito que se dá de que os cristãos primitivos ensinavam a trindade.
Mesmo assim, alguns podem argumentar: "O ensino da Trindade pode não estar na Bíblia, mas foi ensinada pelos "santos" (ou os "pais da igreja").
Será que foi mesmo? É o que veremos na próxima parte.


segunda-feira, 29 de julho de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 14

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 14

Um busto de Platão. A crença deste filósofo grego, numa alma imortal, nada tinha de bíblica ou cristã, mas era oriunda das religiões do paganismo grego. No entanto, a Igreja Católica, dizendo-se "cristã", adotou essa crença como sua e a mantém até hoje.
Texto do teólogo Werner Jaeger, reproduzido na Faculdade de Cambridge, em 1958, atesta que "houve tentativas", por parte da Igreja de se juntar a crença cristã na ressurreição com a crença pagã da imortalidade da alma:
bit.ly/4cOLi86

.

- Continuação Não, Restauração Sim -
Depois que a cultura grega infectou o judaísmo, alguns podem pensar que, como o cristianismo adveio do judaísmo seria "natural" que este também tivesse elementos do helenismo. Mas não se deu assim. Por quê?
Porque o criador do cristianismo, Jesus, não se misturou com o paganismo. Ao contrário da elite religiosa judaica de sua época ele condenou o paganismo e, "cumprindo a Lei" e não "destruí-la" (Mateus 5:17), iniciou um movimento puro . Além disso, havia profecias que alertavam para o fim do cristianismo naquela época (Atos 20:29,30), dando início ao "tempo dos gentios" (Daniel 7:14,25) e, quando este acabasse, a restauração da adoração pura "no devido tempo" (Atos 1:6,7; Daniel 2:44), iniciada por Cristo.
E isso se cumpriu. Quando os apóstolos morreram, o verdadeiro cristianismo, com seu "corpo governante" representado por eles, também acabou, para ser restituído assim que acabasse o "tempo dos gentios", ou "tempo designado das nações" (Daniel 4:25 e Lucas 21:24).
Segundo as profecias bíblicas não haveria uma "continuação" para o cristianismo iniciado por Cristo. Haveria, mais tarde (nos nossos dias), uma "restauração".
De maneira que o que se seguiu ao fim dos apóstolos, a formação de uma igreja "oficial" do império romano, que diz ser "continuação dos apóstolos" é, na verdade, outra coisa. Por não ser pura, como foi o cristianismo, é evidente que continha o paganismo dos gregos, que inclui a crença na imortalidade da alma, já em sua semente.
.
- Admissão de Culpa -
É interessante como a própria literatura oficial católica admite que a crença em uma alma imortal é oriunda do paganismo grego, e não do cristianismo bíblico. Nesse sentido a A New Encyclopædia Britannica salienta: “A partir de meados do 2.º século AD, os "cristãos" que tinham conhecimentos de filosofia grega passaram a sentir necessidade de expressar a sua fé em termos desta, tanto para a sua própria satisfação intelectual como para converter pagãos instruídos. A filosofia que mais lhes convinha era o platonismo.”

Com essa dissertação, a New Catholic Encyclopedia concorda: "“Apenas com Orígenes (185-254 DC), no Oriente e com S. Agostinho (354-430 DC) no Ocidente é que a alma foi estabelecida como substância espiritual e se formou um conceito filosófico da sua natureza.”
Conforme já vimos, esses dois, Orígenes e Agostinho eram, na verdade, não cristãos, mas filósofos gregos da vertente platônica. Assim, se a própria Igreja admite que trata-se de uma crença pagã, não há como tentar justificá-la pela Bíblia. Mas em que base esses dois filósofos formularam, em "termos cristãos", tal crença pagã?
.
- O Papel de Clemente de Alexandria -
Orígenes foi discípulo de Clemente de Alexandria (150 - 215 DC). Clemente foi “o primeiro dos Pais que explicitamente adotou a tradição grega referente à alma”, diz a New Catholic Encyclopedia. O que, de fato, pensava Clemente?
Clemente era grego, nascido em Atenas. Antes de ter contato com o "cristianismo", se tornou filósofo platonista. Ao "se converter", procurava "o conhecimento", não pela Bíblia ou pelas cartas dos apóstolos, mas nas lendas populares sobre elas, geralmente inventadas por pessoas iletradas e ignorantes. Misturando a filosofia platônica com essas lendas, admitidamente incompatíveis com o verdadeiro cristianismo, ele formulou o que seria "o entendimento" do cristianismo que seria melhor aceito por aquelas pessoas seguidoras de tradições folclóricas.
Daí, tudo o que Orígenes fez somente foi colocar em termos mais cultos as ideias popularescas de Clemente. Essas ideias, rebuscadas e recitadas de modo elegante, acabaram se tornando 'pilares de fé' das igrejas católicas orientais, igreja copta e, mais tarde, da anglicana.
Nesse sentido o teólogo alemão Werner Jaeger (1888 - 1961) admite: “[Orígenes] introduziu na doutrina cristã todo o drama cósmico da alma, que ele adotou de Platão”, observou o teólogo, que reconheceu a origem pagã da doutrina e admitiu que "houve tentativas" de conciliar as duas ideias (a ressurreição com a imortalidade da alma) - Fonte: The Harvard Theological Review.
.
- Enxertos Bíblicos no Paganismo -
Agostinho (354 - 430 DC), outro filósofo platônico, veio depois de Orígenes. Ele é hoje considerado por alguns na cristandade atual como "o maior pensador da antiguidade", e a Igreja Católica ocidental o considera "santo". Ele se "converteu" na idade de 33 anos.
Tudo o que Agostinho fez foi transportar a ideia (da imortalidade da alma) de Orígenes para a cultura ocidental, acrescentando-lhe alguns enxertos (interpretações de textos bíblicos) para se adequar melhor ao povo que a receberia.
Nesse sentido a The New Encyclopædia Britannica diz: “Sua mente foi o cadinho em que a religião do Novo Testamento foi mais completamente fundida com a tradição platônica de filosofia grega”, diz . E a New Catholic Encyclopedia admite: "a doutrina [da alma, por parte de Agostinho], que até os fins do século 12 se tornou padrão no Ocidente, deve muito . . . ao neoplatonismo”.
.
- Mil Anos de Briga -
Mas, não foi de um dia para outro que as ideias filosóficas de Orígenes e Agostinho foram totalmente aceitas pelas Igrejas Católicas (ocidental e oriental). Já vimos que os filósofos gregos, os "pais da Igreja", não eram unidos. Entre eles havia competição por poder e, não raro, um destruía o outro, mesmo que pensasse a mesma coisa, mas apenas para ter seu nome nos registros ao invés do "oponente".
Foi somente no século 13, que as disputas tiveram um certo "acordo". Naquele Século, os ensinos de Aristóteles (384 - 322 AC), outro filósofo platonista grego, ficaram populares na Europa, na maior parte pela disponibilidade em latim das obras de eruditos árabes que haviam comentado extensamente os escritos de Aristóteles.
Um erudito católico, de nome Tomás de Aquino (1225 - 1274) leu aquelas obras e ficou profundamente impressionado com o pensamento aristotélico. Daí, baseado nos escritos de Aristóteles, Aquino começou a escrever seus próprios conceitos. Por causa dos escritos de Aquino, os conceitos de Aristóteles, que eram mais práticos e "modernos", acabaram por exercer maior influência sobre o ensino da Igreja do que os de Platão. Esta tendência, porém, não afetou o "antigo" ensino da imortalidade da alma.
Mas o que pensava Aristóteles, em sentido religioso?
Aristóteles ensinava que a alma estava "inseparavelmente ligada ao corpo e não continuava a ter existência individual após a morte", e que, "se existia algo eterno no homem, era o intelecto abstrato, impessoal". Esta maneira de encarar a alma não estava em harmonia com a crença da Igreja, de que as almas pessoais sobrevivem à morte. Por isso, Aquino modificou o conceito de Aristóteles sobre a alma, afirmando que "a imortalidade da alma pode ser provada pela razão".
De qualquer modo, fosse qual fosse a maneira de encarar a "alma", a crença da Igreja nela continuou intacta. As ideias de Tomás de Aquino mudaram um pouco o pensamento da Igreja e chegou a convencer a maioria dos outros filósofos, mas apenas por uns 100 anos.
.
- O "Retrocesso" ao Platonismo -
Nos séculos 14 e 15, no início da Renascença, no entanto, reavivou-se o interesse em Platão. A famosa família Médici, na Itália, até mesmo ajudou a fundar uma academia em Florença, para promover o estudo da filosofia platônica, nos moldes de como era antes. Por causa disso, durante os séculos 16 e 17, o interesse em Aristóteles diminuiu.
Trouxe esse retrocesso algum avanço para a Igreja? Não. Trouxe ainda mais disputas e divisões. Todavia, a crença na imortalidade da alma, nos moldes do antigo platonismo, é a que perdura até hoje na Igreja.
Paralela à discussão sobre a alma, a igreja, como um todo, a partir do Século 10 já estava totalmente corrupta do ponto de vista político, moral e social. Escorada em governos mundanos, uma sucessão de papas violentos emitiram ordens ditatoriais quanto à fé das pessoas, tentando proibir até o pensamento contrário às diretrizes da Igreja. Isso acabou levando a instituição à mortífira Inquisição, que produziu, em quase 600 anos, milhões de mortos, por questões de fé.
.
- Um Desejo de Mudança -
Como reação à Igreja, houve a Reforma no século 16. Os "reformadores", chamados pela Igreja de "protestantes", Lutero e Calvino entre eles, eram sacerdotes católicos que não concordavam com algumas das políticas da Igreja. Em revolta, montaram seus próprios sistemas religiosos.
Dizendo que "retornariam à adoração verdadeira proposta na Bíblia", contudo mantiveram praticamente tudo o que a antiga Igreja possuía, incluindo a crença antibíblica a respeito da alma imortal. Em alguns casos, apenas mudaram os detalhes. Por exemplo, embora os Reformadores protestantes se opusessem ao ensino do purgatório, aceitaram a ideia de punição ou recompensa eternas. Qual a diferença disso dentro do paganismo? Nenhuma?
As igrejas "reformadas", ou "evangélicas" de hoje, nada mais são do que subdivisões da Igreja Católica, com praticamente os mesmos pilares da fé pagã da igreja da qual saíram.
E um desses "pilares" e a crença pagã num Deus trino (a combinação de 3 deuses num só).

E será sobre a Trindade que falaremos na próxima parte

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 13

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 13

Um busto de Alexandre o Grande, um rei grego. O que tem a ver a crença dos católicos numa alma imortal com ele? Foi pela "conquista amistosa" dos judeus pelos gregos, que se possibilitou a helenização do judaísmo que, por fim, pavimentou também a helenização dos "cristãos" do segundo Século.
Se desejar, pode ler ou baixar, neste link (Books Google), o livro Heaven, A History, o livro que relata a helenização do povo judeu, em pormenores:
bit.ly/3WaXZ63
.
- O Helenismo Invade o Judaísmo -
Exatamente quando e como o conceito de uma alma imortal, que já vimos ser antibíblico, se infiltrou na religião que se diz baseada na Bíblia? Para respondermos a isso, é preciso levar em conta alguns fatores.
Primeiro o conceito se infiltrou no judaísmo. E foi do judaísmo que surgiu o cristianismo, visto ser Cristo o objetivo das profecias do antigo judaísmo.
As raízes do judaísmo remontam a uns 4 mil anos, ao tempo de Abraão. Os escritos sagrados hebraicos tiveram início no século 16 AEC e estavam completos na época em que Sócrates (470 - 399 AC) e Platão (428 - 347 AC), filósofos gregos, deram forma à teoria da imortalidade da alma.
Mas, na época em que as Escrituras Hebraicas, que terminam em Malaquias, estavam sendo escritas, o conceito da alma imortal não existia para os judeus. A Enciclopédia Judaica responde: “Somente no período pós-bíblico é que a crença firme e clara na imortalidade da alma se estabeleceu . . . e se tornou um dos fundamentos das crenças judaica.” Ela declara também: “No período bíblico, a pessoa era considerada como um todo. De modo que a alma não era nitidamente diferenciada do corpo.” Os judeus primitivos criam na ressurreição dos mortos, e isto “deve ser distinguido da crença [na] imortalidade da alma”.
Mas como, um povo, escolhido pelo próprio Deus, que havia visto seus milagres, pode se afastar Dele e rumar em direção ao que sabia ser falso?
.

- O Papel de Alexandre o Grande -
A História fornece a resposta. Em 332 AC, Alexandre, o Grande (356 - 323 AC), rei da Grécia, conquistou grande parte do Oriente Médio numa vitória rápida. Quando ele chegou a Jerusalém, os judeus o acolheram de braços abertos.
Segundo o historiador judeu Flávio Josefo (37 - 100), do primeiro século, eles até lhe mostraram a profecia do livro de Daniel, escrita mais de 200 anos antes, que descreve claramente as conquistas de Alexandre no papel de “o rei da Grécia” (Daniel 8:5-8, 21). Depois disso, de certa forma, os judeus passaram a ser um povo em um território grego. Alexandre não conquistou e escravizou os judeus. Ao invés disso ele os acolheu como seus súditos, e os judeus gostaram disso
Os sucessores de Alexandre levaram avante seu plano de helenização dos povos conquistados, permeando todas as partes do império com a língua, a cultura e a filosofia gregas. A amizade entre gregos e judeus, o respeito mútuo e a aceitação de argumentos em "conversas respeitosas", foi determinante. A fusão das duas culturas — a grega e a judaica — foi inevitável.
Assim, no começo do terceiro século AC, quando foi iniciada a primeira tradução das Escrituras Hebraicas para o grego, chamada de Septuaginta, muitos gentios (gregos) passaram a respeitar a religião judaica e a familiarizar-se com ela, alguns até mesmo se convertendo. E os judeus, por outro lado, tornaram-se entendidos no pensamento grego, e alguns se tornaram filósofos, algo inteiramente novo para eles. Por exemplo, Filo de Alexandria (15 AC - 50 DC), foi um filósofo judeu.
.
- O Papel de Filo de Alexandria -
Alguns judeus, seduzidos pela "modernidade da Grécia", queriam participar desse "desenvolvimento", e ingressaram na sociedade e escolas gregas de filosofia.
Filo, apesar de judeu de formação, se tornou filósofo grego, da esfera platônica. Ele reverenciava Platão e tentou explicar o judaísmo em termos da filosofia grega.
Por criar uma síntese ímpar de filosofia platônica e tradição bíblica”, diz o livro Heaven—A History (Céu — Uma História), “Filo preparou o caminho para posteriores pensadores cristãos [bem como judeus]”.
E qual era a crença de Filo a respeito da alma? O livro prossegue: “Para ele, a morte restabelece a alma no seu estado pré-natal, original. Visto que a alma pertence ao mundo espiritual, a vida no corpo torna-se nada mais do que um episódio breve, muitas vezes desafortunado.” Sem dúvida, ele estava, não só influenciado pela filosofia platônica, mas também a ensinava a outros.
Os pensamentos de Filo influenciaram outros pensadores judeus, durante muito tempo. Eles também criam na imortalidade da alma. Isaac Israeli (832 - 932), bem conhecido médico judeu, e Moisés Mendelssohn (1729 - 1786), filósofo judeu-alemão estavam entre esses.
Assim, não é de se estranhar que os judeus, principalmente da liderança religiosa, desde antes de Cristo, não conseguiam entender as profecias a respeito da vinda de Cristo e nem aceitavam o cristianismo como previsto pela Lei Mosaica que eles próprios respeitavam. Os conceitos pagãos dos gregos estavam infiltrados em suas mentalidades, cegando-os.
.
- O Papel do Talmude e da Cabala -
Após a influência dos gregos pagãos na sociedade judaica e também dos filósofos judeus, apareceu um livro que influenciou - e continua influenciado - profundamente as ideias e a vida dos judeus. É o Talmude. O que é o Talmude?
É, em suma, a consequência da mistura entre filosofia grega com tradições judaicas. Por isso é um resumo escrito, com posteriores comentários e explicações, da chamada "lei oral", compilado por rabinos a partir do segundo século EC até a Idade Média. “Os rabinos do Talmude”, diz a Enciclopédia Judaica, “criam na existência continuada da alma após a morte”.
No que diz respeito a crença na imortalidade da alma, o Talmude, mesmo dizendo ser a "explicação da Bíblia", a contradiz e vai além dos conceitos gregos. Nele se fala, pela influência e "desenvolvimento da alma" do platonismo e de "mortos contatarem vivos", algo expressamente proibido na Bíblia (Levítico 19:31; 20:6; 20:27; Deuteronômio 18:9-12). Diz a Encyclopædia of Religion and Ethics (Enciclopédia de Religião e Ética) sobre isso: “[os rabinos] criam na preexistência das almas”.
Apareceu também outra literatura judaica, tão mística quanto o Talmude: a Cabala. Este livro não só mistura interpretações da Bíblia através do helenismo mas também "à luz" de crenças tribais mais antigas. Na Cabala, por exemplo, se ensina a reencarnação.
Sobre esta crença na reencarnação, diz The New Standard Jewish Encyclopedia (Nova Enciclopédia Judaica Padrão): “A ideia parece ter-se originado na Índia. . . . Na Cabala ela se apresenta pela primeira vez no livro Bahir, e depois, de Zohar em diante, foi comumente aceita por místicos, desempenhando um papel importante na crença e na literatura do hassidismo.”
É por isso que no Israel atual, a reencarnação é amplamente aceita como ensino judaico.
.
Assim, visto que o povo do antigo pacto, o judeu, estava bem helenizado, não é difícil, para as pessoas de hoje em dia, quer sejam católicas quer "evangélicas", acreditarem em alma imortal. Imaginam que se o antigo povo judeu acreditava nisso, eles também devem acreditar. Na verdade não era o povo judeu que acreditava nessas coisas, mas apenas alguns judeus seduzidos por outras culturas.
Então, quando, entre os judeus, apareceu o cristianismo na Terra, a ideia de uma alma imortal já estava bem enraizada. Conforme vimos, no primeiro século, quando os apóstolos estavam vivos, essas ideias foram abolidas daqueles que se convertiam ao cristianismo e a verdade da antiga Lei foi novamente compreendida como prevendo o cristianismo, livre do paganismo do resto do mundo.

Mas quando os apóstolos morreram, esse conceito retornou, com força. E é isso o que veremos na próxima parte.


Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 12

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 12

Busto de Platão, filósofo grego. Sem saber, os católicos de hoje, acreditam numa alma imortal, que "vai" para algum lugar depois morte, devido não à Bíblia, mas a este filósofo. Platão também era "dualista", ou seja: ele defendia duas respostas diferentes para a mesma questão, mesmo que estas fossem conflitantes. Foi também o precursor do "discurso dialético", no qual, não é "o que" se diz que vale, mas "como" se diz. Os apóstolos já haviam rejeitado os ensinos filosóficos de pessoas como Platão. Mas a Igreja Católica se encantou com ele. "Santo" Agostinho, por exemplo, foi um dos muitos influenciados por Platão.

.
- Entendimento Errado -
Por que é importante sabermos sobre a crença católica numa alma imortal que sobrevive à morte do corpo físico? Porque ela é o pilar de praticamente todas as crenças ditas "cristãs", católicas e "evangélicas".
Por exemplo, sem essa crença não haveria como acreditar nos muitos "santos" criados pela igreja a partir dos mortos, que, supostamente, já estão no céu, não para desfrutar da alegada "merecida paz", mas para ficarem "intercedendo por nós", junto a Deus. Também, sem essa crença, não haveria a crença na "virgem Maria", também no céu na posição de "mãe do Deus".
Já vimos que a crença na alma imortal não é bíblica. Não fazia parte das crenças judaicas e nem dos apóstolos. Ao contrário, a crença na "alma imortal" sempre fez parte das religiões inimigas do judaísmo e do cristianismo. O que veremos nesta parte é o que a Bíblia fala, exatamente sobre "alma", o que ela realmente é.
Vimos também, na parte anterior, que as conotações que a palavra portuguesa “alma” transmite à mente da maioria das pessoas não estão de acordo com o significado original das palavras hebraica e grega usadas na Bíblia.
Este fato tem obtido continuamente um reconhecimento mais amplo. Lá em 1897, no Journal of Biblical Literature (Revista de Literatura Bíblica; Vol. XVI, p. 30), a professora C. A. Briggs, em resultado de pormenorizada análise do uso de né·fesh, comentou: “Alma (soul), no seu uso em inglês, no tempo atual, transmite usualmente um significado muito diferente de נפש [né·fesh] em hebraico, e é fácil que o leitor incauto a interprete erroneamente.”
Ou seja: uma pessoa comum, nos dias de hoje, ao ouvir falar a palavra "alma", por causa da influência religiosa, sempre tem a ideia de que trata-se de um "ser espiritual".
.
- Reconhecido Como ensino Pagão -
Mesmo lá atrás, na época de Cristo, os judeus já estavam influenciados pelo helenismo pagão. Os Saduceus, por exemplo, por causa da crença na imortalidade da alma, não acreditavam na ressurreição, mesmo sendo este um ensino das Sagradas Escrituras que tanto prezavam. Mas isso tem mudado nos dias atuais
Recentemente, quando a Sociedade Publicadora Judaica da América lançou uma nova tradução da Torá, ou dos primeiros cinco livros da Bíblia, o editor-chefe, H. M. Orlinsky, da Faculdade União Hebraica, declarou que a palavra “alma” tinha sido virtualmente eliminada desta tradução porque “a palavra hebraica em questão aqui é ‘Nefesh”. Acrescentou: “Outros tradutores a têm interpretado como significando ‘alma’; o que é inteiramente inexato. A Bíblia não diz que temos uma alma. ‘Nefesh’ é a própria pessoa, sua necessidade de alimento, o próprio sangue nas suas veias, seu ser.” - The New York Times, 12 de outubro de 1962.
Essa dificuldade para se entender o que significa "alma", em seu sentido original reside em que os significados popularmente atribuídos à palavra portuguesa “alma” provêm primariamente, não das Escrituras Hebraicas ou das Escrituras Gregas Cristãs, mas da antiga filosofia grega. As pessoas de hoje, quer sejam católicas, quer "evangélicas", estão assimiladas com o pensamento religioso pagão imaginando ser pensamento cristão.
Por exemplo, compare a crença católica na alma imortal com o que Platão (428 - 347 AC), filósofo grego, diz: “A alma . . . se ela partir pura, não arrastando consigo nada do corpo, . . . parte para o que é como ela mesma, para o invisível, divino, imortal e sábio, e quando chega ali, ela é feliz, liberta do erro, e da tolice, e do medo . . . e de todos os outros males humanos, e . . . vive em verdade por todo o porvir com os deuses.” — Phaedo (Fédon), 80, D, E; 81, A.
Em contraste direto com este ensino grego pagão sobre a psy·khé (alma) como imaterial, intangível, invisível e imortal, as Escrituras Sagradas mostram que tanto psy·khé como né·fesh, conforme usadas com referência a criaturas terrestres, referem-se àquilo que é material, tangível, visível e mortal.
.
- Reconhecendo o Próprio Erro -
É interessante que a própria literatura oficial católica reconhece o verdadeiro significado da palavra "alma" contido na Bíblia.
A New Catholic Encyclopedia (Nova Enciclopédia Católica) diz: “Nepes [né·fesh] é um termo de muito maior extensão do que nossa ‘alma’, significando vida (Êxodo 21.23; Deuteronômio 19.21) e suas várias manifestações vitais: respiração (Gênesis 35.18; Jó 41.13[21]), sangue [Gênesis 9.4; Deuteronômio 12.23; Salmos 140(141).8], desejo (2ª Samuel 3.21; Provérbios 23.2). A alma no A[ntigo] T[estamento] significa, não uma parte do homem, mas o homem inteiro — o homem como ser vivente. Similarmente, no N[ovo] T[estamento] significa vida humana: a vida duma entidade individual, consciente (Mateus 2.20; 6.25; Lucas 12.22-23; 14.26; João 10.11, 15, 17 e 13.37).” — 1967, Vol. XIII, p. 467.
Também a tradução católica romana, The New American Bible (A Nova Bíblia Americana), em seu “Glossário de Termos de Teologia Bíblica” (pp. 27, 28), diz: “No Novo Testamento, ‘salvar a alma’ (Marcos 8:35) não significa salvar alguma parte ‘espiritual’ do homem, em contraste com o seu ‘corpo’ (no sentido platônico), mas a inteira pessoa, com ênfase no fato de que a pessoa está viva, desejando, amando e querendo, etc., em adição a ser concreta e física.” — Edição publicada por P. J. Kenedy & Sons, Nova York, 1970.
Né·fesh evidentemente provém duma raiz que significa “respirar”, e, num sentido literal, né·fesh poderia ser traduzido como “alguém que respira”. O Lexicon in Veteris Testamenti Libros (Léxico dos Livros do Velho Testamento; Leiden, 1958, p. 627), de Koehler e Baumgartner, define, desta forma a palavra que traduz "alma": “a substância respiradora, que torna o homem e o animal seres viventes (Gênesis 1:20) , a alma (estritamente distinta da noção grega da alma), cuja sede é o sangue (Gênesis 9:4; Levítico 17:11 e Deuteronômio 12:23) . . . alma = ser vivente, indivíduo, pessoa.”
.
- Ensino da Religião, Não da Cultura Pagã -
Mais interessante ainda é ver que o ensino de uma alma imortal, qual "substância espiritual" só fazia parte da religião pagã da Grécia antiga, mas não da cultura local.
Quanto à palavra grega psy·khé, os léxicos grego-inglês fornecem definições tais como “vida” e “o eu consciente ou personalidade como centro de emoções, desejos e afeições”, “um ser vivente”, e mostram que até mesmo em obras gregas não bíblicas o termo era usado “para animais”. Naturalmente, essas fontes, que lidam primariamente com os escritos gregos clássicos, incluem todos os significados que os filósofos gregos, pagãos, davam à palavra, inclusive o de “espírito que partiu”, “a alma imaterial e imortal”, “o espírito do universo” e “o princípio imaterial do movimento e da vida”. Era isso, evidentemente, porque alguns dos filósofos pagãos ensinavam que a alma emergia do corpo na morte. O termo psy·khé também era aplicado à “borboleta ou mariposa”, criaturas estas que passam por uma metamorfose, transformando-se de lagarta em criatura alada. — Greek-English Lexicon (Léxico Grego-Inglês) de Liddell e Scott, revisado por H. Jones em 1968, páginas 2026 e 2027. Artigo anteriormente publicado em New Greek and English Lexicon (Novo Léxico Grego e Inglês) de Donnegan, 1836, página 1404.
.
- Enxertos Pagãos no Catolicismo -
Os antigos escritores gregos aplicavam psy·khé de vários modos, todos diferentes do seu sentido original contido na Bíblia E não eram coerentes. Suas filosofias pessoais e religiosas influenciavam o uso do termo.
Sobre Platão, a cuja filosofia podem ser atribuídas as ideias comuns sobre a palavra portuguesa “alma” e como os católicos a entendem hoje, declara-se: “Ao passo que às vezes ele fala de uma das [supostas] três partes da alma, a ‘inteligível’, como necessariamente imortal, ao passo que as outras duas partes são mortais, ele também fala como se houvesse duas almas em um só corpo, uma imortal e divina, e a outra mortal.” — The Evangelical Quarterly (Publicação Trimestral Evangélica), Londres, 1931, Volume III, página 121: “Ideias sobre a Teoria Tripartida da Natureza Humana”, de A. McCaig.
Assim, podemos dizer que o catolicismo não se aproveitou da cultura grega ou da filosofia como material de ensino secular, mas apenas de sua parte folclórica, uma parte que, em tese, não era aceita nem por boa parte da sociedade grega. A igreja pegou essas histórias, claramente fantasiosas e as enxertou, como se fossem verdades, em seu rol de crenças.
.
- O Que a Bíblia Diz Sobre Alma? -
Em vista de tal incoerência dos escritos não bíblicos, pergunta-se: Como é que a Igreja Católica, dizendo-se "baseada na Bíblia", pode se enxertar com ensinos que até mesmo no paganismo, não encontrava uma base sólida?
Por isso é essencial deixar claro que as Escrituras falem por si, mostrando o que os escritores inspirados queriam dizer ao usarem o termo psy·khé, bem como né·fesh.

Né·fesh ocorre 754 vezes no texto massorético das Escrituras Hebraicas, ao passo que psy·khé, a equivalente em grego, aparece, sozinha, 102 vezes nas Escrituras Gregas Cristãs, perfazendo um total de 856 ocorrências. Esta frequência de ocorrências torna possível um conceito claro do sentido que tais termos transmitiam à mente dos inspirados escritores bíblicos e o sentido que seus escritos devem transmitir à nossa mente.
Um exame dos contextos em que essas palavras aparecem mostra que, embora o sentido destes termos seja amplo, com diferentes matizes de significado, entre os escritores bíblicos não havia nenhuma incoerência, confusão ou desarmonia quanto à natureza do homem, tal como a existente entre os filósofos gregos.
As ocorrências iniciais de né·fesh se encontram em Gênesis 1:20-23, e nos mostram que as "primeiras almas" a habitar a Terra foram animais. No quinto “dia” criativo, Deus disse: “‘Produzam as águas um enxame de almas [né·fesh] viventes e voem criaturas voadoras sobre a terra . . .’ E Deus passou a criar os grandes monstros marinhos e toda alma [né·fesh] vivente que se move, que as águas produziram em enxames segundo as suas espécies, e toda criatura voadora alada segundo a sua espécie.” Similarmente, no sexto “dia” criativo, né·fesh é aplicado ao "animal doméstico, e animal movente, e animal selvático da terra” como “almas viventes”. — Gênesis 1:24.

Depois da criação do homem, a instrução que Deus lhe deu usava de novo o termo né·fesh com respeito à criação animal, “tudo o que se move sobre a terra, em que há vida como alma [literalmente, em que há alma (né·fesh) vivente]” (Gênesis 1:30).
Outros exemplos de animais serem chamados de "almas" encontram-se em Gênesis 2:19; 9:10-16; Levítico 11:10, 46; 24:18; Números 31:28 e Ezequiel 47:9.
Notavelmente, as Escrituras Gregas Cristãs coincidem em aplicar a palavra grega psy·khé aos animais, como em Apocalipse 8:9 e 16:3, onde é usada para com as criaturas marinhas.
Assim, as Escrituras mostram claramente que né·fesh e psy·khé, as mesmas palavras que traduzem "alma" e "almas", são usadas também para denominar a criação dos animais.
Mas, e quanto ao homem? Seria diferente?
.
- A Alma Humana -
Não é diferente para o ser humano. Precisamente a mesma frase hebraica usada para a criação animal, a saber, né·fesh hhai·yáh ("alma vivente"), é aplicada a Adão. Quando, depois de Deus ter formado o homem do pó do solo e soprado em suas narinas o fôlego da vida, “o homem veio a ser uma alma vivente”. (Gênesis 2:7).
Mesmo assim, o homem se distinguia dos animais. Mas esta distinção não se deve a ser o homem uma né·fesh (alma), visto que os animais também eram "almas viventes". Antes, o registro mostra que era diferente porque somente o homem foi criado “à imagem de Deus” (Gênesis 1:26, 27).
Ele foi criado com qualidades morais semelhantes às de Deus, com poder e sabedoria muito superiores aos animais. Por isso, ele podia ter em sujeição todas as formas inferiores de vida de criaturas (Gênesis 1:26, 28).
O organismo do homem era mais complexo, bem como mais versátil, do que o dos animais. (1ª Coríntios 15:39.). Semelhantemente, Adão possuía, mas perdeu, a perspectiva de vida eterna; isto nunca foi expresso com relação às criaturas inferiores ao homem. — Gênesis 2:15-17 e 3:22-24.
O homem, como "feito a imagem de Deus", podia ser, diferente dos outros animais, ser chamado de "filho de Deus" (1ª João 3:1). E, com esta prerrogativa, tinha a perspectiva de viver, como Seu Pai, eternamente, embora fosse da mesma consistência física que os animais, ou feito "do pó" como todos os animais também foram feitos.
.
- Uma Fraca Interpretação -
É verdade que o relato afirma que ‘Deus passou a soprar nas narinas do homem o fôlego [uma forma de nesha·máh] de vida’, ao passo que não se declara isso no relato sobre a criação animal. Por isso alguns interpretam esse "assopro" como Deus colocando uma "alma" no corpo do homem. Mas esta interpretação não se sustenta diante do inteiro relato, muito mais pormenorizado da criação dos animais e do homem.
Gênesis 7:21-23, ao descrever a destruição, causada pelo Dilúvio, de “toda a carne” fora da arca, alista as criaturas animais junto com a humanidade, e diz: “Morreu tudo em que o fôlego [uma forma de nesha·máh] da força da vida estava ativo nas suas narinas, a saber, todos os que estavam em solo seco.”
Obviamente, o fôlego de vida das criaturas animais também proveio originalmente do "assopro" do Criador, quando os fez. Assim também o “espírito” (hebraico: rú·ahh e grego: pneú·ma) ou força de vida do homem não é distinto da força de vida dos animais, conforme demonstrado por Eclesiastes 3:19-21, que declara que “todos eles têm apenas um só espírito [weruʹach]”.
O relato de Gênesis mostra que uma alma vivente, seja ser humano ou animal, resulta da combinação do corpo físico com o fôlego de vida. A expressão “fôlego da força da vida [literalmente, fôlego do espírito, ou força ativa (rú·ahh), de vida]” (Gênesis 7:22) indica que é por respirar ar que é sustentada a força de vida ou “espírito” em todas as criaturas, o homem e os animais. Esta força de vida se encontra em cada célula do corpo da criatura.
De maneira que se o corpo do homem "tivesse uma alma", ao invés de "ser uma alma", a vida do corpo não dependeria dessa respiração do ar material para viver.
.
- O Conceito Pagão no Catolicismo -
Há muitos outros exemplos na Bíblia que mostram a "alma" como sendo material, ligada a atividade humana e animal. Mas não há nenhuma que a ligue com algo espiritual (os anjos, por exemplo, não são chamados de "almas").
Por fim, a Bíblia ensina que a "alma" como ser vivo terrestre pode morrer. A expressão ‘alma falecida ou morta’ também aparece várias vezes, significando simplesmente “uma pessoa morta”. — Levítico 19:28; 21:1, 11; 22:4; Números 5:2; 6:6; Ageu 2:13 e Números 19:11, 13.
Assim, a "alma", ao contrário de ser imortal, é simplesmente um ser vivo, terrestre. Quando este ser vivo morre, é a "alma" que morreu.

Apesar disso, a Igreja Católica, endossou um ensino totalmente contrário ao que a Bíblia diz. E o fez de forma hipócrita já que reconhece ser um ensino pagão. Então, quando e como tal conceito de "alma imortal" se infiltrou na religião que diz ser baseada na Bíblia?

É o que veremos na próxima parte


Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 11

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 11

Um quadro de Gustave Doré (1832 - 1883), ilustrador francês, que se destacou por ilustrar a obra A Divina Comédia, de Dante Alighieri (1265 - 1321), escritor e poeta italiano. As duas criações, tanto o livro de Dante quanto os quadros de Doré, atiçaram a imaginação das pessoas quanto "a forma" do inferno, da crença católica. Nelas as pessoas imaginam toda sorte de sofrimento, horrível e eterno, algo totalmente incompatível com a Bíblia e com os propósitos de Deus para com os seres humanos. Com isso ficam cativas, pelo medo, da igreja.
A parte da A Divina Comédia que fala do alegórico "inferno", de Dante, pode ser baixada aqui, em PDF, neste link:

.
- O Objetivo da Religião -
Alguns linguistas traduzem "religião" por "religar" e outros por "Ler de novo". Seja como for, religião é, em síntese, o ato da procura de Deus pelo homem, a fim de se salvar. Se salvar do quê?
O homem tem consciência de que vai morrer e esta ideia o apavora, afinal esta foi a sentença que Deus deu a Adão, quando este pecou no Jardim (Gênesis 2:17). Assim, o homem, que tem a fé num ser superior entre os seus sentidos, o procura para obter o perdão e a salvação. Essa procura é feita através de seu modo de vida, em escolhas que envolve a consciência , que pode ser intenso ou não.
E o homem tem tentado, à sua maneira, agradar o ser superior, invisível, ao qual venera.
Seriam estas tentativas válidas? Pelo histórico da História do homem na Terra, tudo indica que não. A "procura", quase sempre acaba em decepção e incertezas. Por que isso acontece? Porque o homem procura agradar ao "ser superior" fazendo o que acha que vai agradá-lo. Assim, ao que tudo indica, para se agradar a Deus, é preciso fazer as coisas do modo como Ele quer e não do modo como nós queremos.
E desde o princípio, o verdadeiro Deus, aquele que verdadeiramente mora em nossas consciências, nos forneceu os meios para voltar a ter o Seu Favor e voltar viver eternamente de novo. Isso incluiu o sacrifício de seu próprio filho como regaste do pecado. Ele restaurará a Terra e ela voltará a ser do modo como Ele pretendeu desde o início. E esse meio de salvação Ele deixou registrado em Seu Livro, a Bíblia. Além disso, proveu também um canal de comunicação entre Ele e nós, através dos profetas.
Assim, pelo exame do que Ele nos diz em sua palavra, qual a esperança para o homem que está "religado" com Deus, da maneira correta? É a de viver para sempre na Terra (Isaías 57:13; Ezequiel 47:13,14; Mateus 5:5).
.
- A Ressurreição -
Mas surge a pergunta: "E aqueles que já morreram"? Para esses, desde o princípio do mundo, começando com o justo Abel (filho de Adão e morto injustamente por seu irmão Caim) até os inocentes mortos nos dias atuais, a Bíblia fornece a esperança da ressurreição. De fato, a própria palavra 'ressurreição', aparece nas Escrituras Gregas Cristãs (o "Novo Testamento") 42 vezes. Por exemplo, Jesus a ensinava em sua pregação a respeito do reino de Deus restabelecido na Terra (Mateus 22:31; Marcos 12:26,27; Lucas 14:14; João 5:29 e 11:23-25).
É óbvio que precisamos conhecer a Bíblia como sendo Palavra de Deus, pois é lá que Ele nos diz o que quer que façamos. É pela palavra Dele que sabemos sobre o Seu Reino restabelecido e sobre o que podemos fazer para estar nele. De fato, Jesus em sua pregação ensinava sobre este reino (Mateus 6:10). As palavras "reino de Deus", desta forma, aparecem nos ensinamentos de Jesus 53 vezes, embora ele tenha dito muito mais devido a Atos 1:3. Na forma "o reino", que é o mesmo ensinamento, estão registradas 54 vezes em seus ensinamentos. Assim, o "reino de Deus", restabelecido na Terra, foi registrado 107 vezes nas palavras de Jesus. E os apóstolos continuaram a usar esses termos em suas pregações.
.
- O Objetivo do Catolicismo -
Pelo visto acima, qualquer um que frequente os cultos católicos (e também os cultos "evangélicos") não recebem estes ensinamentos. Assim, como podemos estar com o favor de Deus, através de uma religião que não ensina sobre o bíblico reino de Deus restabelecido na Terra e sobre a bíblica esperança de ressurreição dos mortos para aqui viverem neste reino? E se a Igreja Católica não oferece o Reino de Deus, ensinado por Jesus e os apóstolos, o que ela oferece?
Já vimos que os "pais da Igreja" são filósofos. Assim, os seus ensinamentos não poderiam ser os mesmos da Bíblia. Teriam que ter o viés filosófico. E, pelo viés filosófico, é quase que obrigatório se crer em uma "alma imortal", que sobrevive à morte física.
O filósofo grego Platão (428 - 347 AC), que desenvolveu, em termos filosóficos, a ideia da alma imortal, influenciou os antigos pais da Igreja. E influencia até hoje. A Filosofia e suas modernas ramificações, continua sendo matéria de ponta nos cursos de teologia (para a formação de "padres"), ao passo que a Bíblia não.
É interessante que a literatura oficial da Igreja, em geral, reconhece que a ideia de uma alma imortal vivendo em corpos carnais é "um dogma filosófico pagão". Miguel de Unamuno (1864 - 1936), filósofo espanhol, publicou em sua obra La Agonia Del Cristianismo que esse "dogma filosófico pagão" acabou, por fim, se infiltrando nos ensinamentos daqueles antigos filósofos e pais da igreja. tudo o que aqueles pais da igreja fizeram foi modelar o ensinamento platônico de "uma substância" humana que sobrevive à morte física para se adequar a nova religião.
Assim, para o catolicismo, quando uma pessoa morre, não tem a esperança de uma ressurreição. Ela "vai" para um "lugar espiritual" determinado, quer seja para um "paraíso" ou para num "inferno", para "viver" ali eternamente.
Em outras palavras, para o catolicismo não existe a morte. Isso é exatamente o que as antigas religiões do paganismo celta ensinavam. Nesse sentido, o escritor alemão Gerhard Herm (1931 - 2014), em sua obra 'Celtas - O Povo que Saiu da Obscuridade', destacou que a crença numa alma imortal vivendo num "lugar espiritual", quer para sofrimento quer para prazeres, pertencia originalmente ao "paganismo dos bárbaros"
.
- O Que É Alma? -
Nas Escrituras Hebraicas (o "Velho Testamento"), a palavra portuguesa “alma” traduz a palavra hebraica né·fesh, que ocorre nelas mais de 750 vezes. Seu equivalente nas Escrituras Gregas (o "Novo Testamento") é psy·khé, nas quais ocorre mais de 100 vezes.
A Tradução do Novo Mundo das Escrituras Sagradas (das Testemunhas de Jeová) traduz essas palavras uniformemente por “alma”. Outras Bíblias usam uma variedade de palavras para traduzir o mesmo termo. Algumas das maneiras de a Versão Rei Jaime (em inglês) traduzir né·fesh são: alma, apetite, coisa, coração, corpo, (corpo) morto, criatura, desejo, fera, fôlego, homem, mente, pessoa, si mesmo, vida. E traduz psy·khé por: alma, coração, mente, vida. Mas, em nenhuma destas versões da Bíblia, mesmo nas católicas, "alma" possui sentido de alguma "substância espiritual" dentro de corpos físicos.
O ensino numa alma imortal e lugares espirituais de destino para elas demanda em anular a promessa bíblica de ressurreição. Por isso tais ensinos são anti-bíblicos. Mas, mesmo sendo ensinamento antibíblico e reconhecido como pagão, a Igreja Católica o endossou como um de seus "pilares de fé". A Nova Enciclopédia Católica diz que a "doutrina da alma imortal é um dos fundamentos" das religiões da cristandade" porque "Deus criou a alma e a implantou no corpo por ocasião da concepção". Uma vez que Deus "criou" a alma para aquele corpo, ela jamais morre.
Isso significa que Deus continua, até hoje, criando bilhões de almas até hoje, colocando-as aqui na Terra para sofrerem, numa espécie de infindável "disputa com o mau", e depois, no caso da grande maioria, continuar sofrendo muito mais, eternamente, num "lugar" muito pior.
Isso lhe parece lógico? Será que a Bíblia ensina essas coisas? Obviamente que não. Isso seria incompatível com um Deus de "amor" (1ª João 4:8).
.
- Vida Eterna Aqui na Terra -
Entre outras coisas, o ensino numa alma imortal, vivendo num inferno ou num paraíso espiritual anula a promessa de Deus de que o homem justo viverá na Terra "para sempre" (Salmo 37:29). Se ele, conforme diz a Igreja Católica "tivesse" uma alma, não haveria a vida eterna aqui na Terra (Salmo 37:29)
Quando Deus criou o homem, este tinha, caso obedecesse as ordens de Deus, a perspectiva de viver eternamente aqui na Terra. É por isso que lhe foi feito o aviso de que se ele desobedecesse, "certamente morreria" (Gênesis 2:17). Não lhe foi dito que "passaria" para outra dimensão, mas simplesmente que deixaria de existir. De fato, Adão foi formado do pó e "ao pó" voltou (Gênesis 3:19).
Não há na Bíblia inteira nenhuma referência que diga que há algo depois da morte para o homem. Ao contrário disso, a Bíblia nos ensina que nós "somos" almas, não que a temos (Gênesis 2:7; 1ª Corintios 15:45). Os animais também são chamados de "almas" (Gênesis 1:24). Além disso, a Bíblia diz que a morte existe e é nossa "inimiga", e não uma mera "passagem" (1ª Coríntios 15:26).
.
- Na Próxima Parte -
Assim, visto que a crença antibíblica numa alma imortal demanda a crença em "lugares espirituais" de prazer ou sofrimento. Como, exatamente, se desenvolveu tal crença? E como ela se infiltrou na religião do império romano, a ponto de permanecer até hoje?
Por incrível que pareça, tal crença não foi implantada mediante interpretações de textos bíblicos, e também demorou séculos até se tornar o que é hoje. E isso é o que veremos na próxima parte.