segunda-feira, 29 de julho de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 14

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 14

Um busto de Platão. A crença deste filósofo grego, numa alma imortal, nada tinha de bíblica ou cristã, mas era oriunda das religiões do paganismo grego. No entanto, a Igreja Católica, dizendo-se "cristã", adotou essa crença como sua e a mantém até hoje.
Texto do teólogo Werner Jaeger, reproduzido na Faculdade de Cambridge, em 1958, atesta que "houve tentativas", por parte da Igreja de se juntar a crença cristã na ressurreição com a crença pagã da imortalidade da alma:
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- Continuação Não, Restauração Sim -
Depois que a cultura grega infectou o judaísmo, alguns podem pensar que, como o cristianismo adveio do judaísmo seria "natural" que este também tivesse elementos do helenismo. Mas não se deu assim. Por quê?
Porque o criador do cristianismo, Jesus, não se misturou com o paganismo. Ao contrário da elite religiosa judaica de sua época ele condenou o paganismo e, "cumprindo a Lei" e não "destruí-la" (Mateus 5:17), iniciou um movimento puro . Além disso, havia profecias que alertavam para o fim do cristianismo naquela época (Atos 20:29,30), dando início ao "tempo dos gentios" (Daniel 7:14,25) e, quando este acabasse, a restauração da adoração pura "no devido tempo" (Atos 1:6,7; Daniel 2:44), iniciada por Cristo.
E isso se cumpriu. Quando os apóstolos morreram, o verdadeiro cristianismo, com seu "corpo governante" representado por eles, também acabou, para ser restituído assim que acabasse o "tempo dos gentios", ou "tempo designado das nações" (Daniel 4:25 e Lucas 21:24).
Segundo as profecias bíblicas não haveria uma "continuação" para o cristianismo iniciado por Cristo. Haveria, mais tarde (nos nossos dias), uma "restauração".
De maneira que o que se seguiu ao fim dos apóstolos, a formação de uma igreja "oficial" do império romano, que diz ser "continuação dos apóstolos" é, na verdade, outra coisa. Por não ser pura, como foi o cristianismo, é evidente que continha o paganismo dos gregos, que inclui a crença na imortalidade da alma, já em sua semente.
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- Admissão de Culpa -
É interessante como a própria literatura oficial católica admite que a crença em uma alma imortal é oriunda do paganismo grego, e não do cristianismo bíblico. Nesse sentido a A New Encyclopædia Britannica salienta: “A partir de meados do 2.º século AD, os "cristãos" que tinham conhecimentos de filosofia grega passaram a sentir necessidade de expressar a sua fé em termos desta, tanto para a sua própria satisfação intelectual como para converter pagãos instruídos. A filosofia que mais lhes convinha era o platonismo.”

Com essa dissertação, a New Catholic Encyclopedia concorda: "“Apenas com Orígenes (185-254 DC), no Oriente e com S. Agostinho (354-430 DC) no Ocidente é que a alma foi estabelecida como substância espiritual e se formou um conceito filosófico da sua natureza.”
Conforme já vimos, esses dois, Orígenes e Agostinho eram, na verdade, não cristãos, mas filósofos gregos da vertente platônica. Assim, se a própria Igreja admite que trata-se de uma crença pagã, não há como tentar justificá-la pela Bíblia. Mas em que base esses dois filósofos formularam, em "termos cristãos", tal crença pagã?
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- O Papel de Clemente de Alexandria -
Orígenes foi discípulo de Clemente de Alexandria (150 - 215 DC). Clemente foi “o primeiro dos Pais que explicitamente adotou a tradição grega referente à alma”, diz a New Catholic Encyclopedia. O que, de fato, pensava Clemente?
Clemente era grego, nascido em Atenas. Antes de ter contato com o "cristianismo", se tornou filósofo platonista. Ao "se converter", procurava "o conhecimento", não pela Bíblia ou pelas cartas dos apóstolos, mas nas lendas populares sobre elas, geralmente inventadas por pessoas iletradas e ignorantes. Misturando a filosofia platônica com essas lendas, admitidamente incompatíveis com o verdadeiro cristianismo, ele formulou o que seria "o entendimento" do cristianismo que seria melhor aceito por aquelas pessoas seguidoras de tradições folclóricas.
Daí, tudo o que Orígenes fez somente foi colocar em termos mais cultos as ideias popularescas de Clemente. Essas ideias, rebuscadas e recitadas de modo elegante, acabaram se tornando 'pilares de fé' das igrejas católicas orientais, igreja copta e, mais tarde, da anglicana.
Nesse sentido o teólogo alemão Werner Jaeger (1888 - 1961) admite: “[Orígenes] introduziu na doutrina cristã todo o drama cósmico da alma, que ele adotou de Platão”, observou o teólogo, que reconheceu a origem pagã da doutrina e admitiu que "houve tentativas" de conciliar as duas ideias (a ressurreição com a imortalidade da alma) - Fonte: The Harvard Theological Review.
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- Enxertos Bíblicos no Paganismo -
Agostinho (354 - 430 DC), outro filósofo platônico, veio depois de Orígenes. Ele é hoje considerado por alguns na cristandade atual como "o maior pensador da antiguidade", e a Igreja Católica ocidental o considera "santo". Ele se "converteu" na idade de 33 anos.
Tudo o que Agostinho fez foi transportar a ideia (da imortalidade da alma) de Orígenes para a cultura ocidental, acrescentando-lhe alguns enxertos (interpretações de textos bíblicos) para se adequar melhor ao povo que a receberia.
Nesse sentido a The New Encyclopædia Britannica diz: “Sua mente foi o cadinho em que a religião do Novo Testamento foi mais completamente fundida com a tradição platônica de filosofia grega”, diz . E a New Catholic Encyclopedia admite: "a doutrina [da alma, por parte de Agostinho], que até os fins do século 12 se tornou padrão no Ocidente, deve muito . . . ao neoplatonismo”.
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- Mil Anos de Briga -
Mas, não foi de um dia para outro que as ideias filosóficas de Orígenes e Agostinho foram totalmente aceitas pelas Igrejas Católicas (ocidental e oriental). Já vimos que os filósofos gregos, os "pais da Igreja", não eram unidos. Entre eles havia competição por poder e, não raro, um destruía o outro, mesmo que pensasse a mesma coisa, mas apenas para ter seu nome nos registros ao invés do "oponente".
Foi somente no século 13, que as disputas tiveram um certo "acordo". Naquele Século, os ensinos de Aristóteles (384 - 322 AC), outro filósofo platonista grego, ficaram populares na Europa, na maior parte pela disponibilidade em latim das obras de eruditos árabes que haviam comentado extensamente os escritos de Aristóteles.
Um erudito católico, de nome Tomás de Aquino (1225 - 1274) leu aquelas obras e ficou profundamente impressionado com o pensamento aristotélico. Daí, baseado nos escritos de Aristóteles, Aquino começou a escrever seus próprios conceitos. Por causa dos escritos de Aquino, os conceitos de Aristóteles, que eram mais práticos e "modernos", acabaram por exercer maior influência sobre o ensino da Igreja do que os de Platão. Esta tendência, porém, não afetou o "antigo" ensino da imortalidade da alma.
Mas o que pensava Aristóteles, em sentido religioso?
Aristóteles ensinava que a alma estava "inseparavelmente ligada ao corpo e não continuava a ter existência individual após a morte", e que, "se existia algo eterno no homem, era o intelecto abstrato, impessoal". Esta maneira de encarar a alma não estava em harmonia com a crença da Igreja, de que as almas pessoais sobrevivem à morte. Por isso, Aquino modificou o conceito de Aristóteles sobre a alma, afirmando que "a imortalidade da alma pode ser provada pela razão".
De qualquer modo, fosse qual fosse a maneira de encarar a "alma", a crença da Igreja nela continuou intacta. As ideias de Tomás de Aquino mudaram um pouco o pensamento da Igreja e chegou a convencer a maioria dos outros filósofos, mas apenas por uns 100 anos.
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- O "Retrocesso" ao Platonismo -
Nos séculos 14 e 15, no início da Renascença, no entanto, reavivou-se o interesse em Platão. A famosa família Médici, na Itália, até mesmo ajudou a fundar uma academia em Florença, para promover o estudo da filosofia platônica, nos moldes de como era antes. Por causa disso, durante os séculos 16 e 17, o interesse em Aristóteles diminuiu.
Trouxe esse retrocesso algum avanço para a Igreja? Não. Trouxe ainda mais disputas e divisões. Todavia, a crença na imortalidade da alma, nos moldes do antigo platonismo, é a que perdura até hoje na Igreja.
Paralela à discussão sobre a alma, a igreja, como um todo, a partir do Século 10 já estava totalmente corrupta do ponto de vista político, moral e social. Escorada em governos mundanos, uma sucessão de papas violentos emitiram ordens ditatoriais quanto à fé das pessoas, tentando proibir até o pensamento contrário às diretrizes da Igreja. Isso acabou levando a instituição à mortífira Inquisição, que produziu, em quase 600 anos, milhões de mortos, por questões de fé.
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- Um Desejo de Mudança -
Como reação à Igreja, houve a Reforma no século 16. Os "reformadores", chamados pela Igreja de "protestantes", Lutero e Calvino entre eles, eram sacerdotes católicos que não concordavam com algumas das políticas da Igreja. Em revolta, montaram seus próprios sistemas religiosos.
Dizendo que "retornariam à adoração verdadeira proposta na Bíblia", contudo mantiveram praticamente tudo o que a antiga Igreja possuía, incluindo a crença antibíblica a respeito da alma imortal. Em alguns casos, apenas mudaram os detalhes. Por exemplo, embora os Reformadores protestantes se opusessem ao ensino do purgatório, aceitaram a ideia de punição ou recompensa eternas. Qual a diferença disso dentro do paganismo? Nenhuma?
As igrejas "reformadas", ou "evangélicas" de hoje, nada mais são do que subdivisões da Igreja Católica, com praticamente os mesmos pilares da fé pagã da igreja da qual saíram.
E um desses "pilares" e a crença pagã num Deus trino (a combinação de 3 deuses num só).

E será sobre a Trindade que falaremos na próxima parte

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