terça-feira, 30 de julho de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 15

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 15

Representações de deuses trinos pertencentes a diversos povos pagãos notadamente inimigos dos judeus, que adoravam um único Deus. A partir do 4º Século, a Igreja Católica também adotou a adoração, "em termos cristãos", desses antigos deuses pagãos.

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- Ensina a Bíblia a Trindade? -
Conforme vimos nas partes anteriores deste assunto, A igreja que foi montada, a partir do Século 4, pelo Império Romano, apesar de se dizer "apostólica", ou "dos apóstolos", nada tinha a ver com eles. Ela tinha (e tem) a ver com as crenças pagãs da época.
Uma dessas crenças é a de um 'deus trino', ou uma "tríade de deuses" combinados num só. A Igreja Católica chama o Deus Criador de "Santíssima Trindade", dizendo que ele não é um, mas, de "forma misteriosa e incompreensível", três deuses num só.
Ensina a Bíblia que Deus é uma trindade? Não. Em parte alguma dela se ensina isso. Assim, a Igreja, que em realidade advoga o paganismo apesar de se dizer "da Bíblia", lança mão, novamente de interpretações de textos para dizer que este ensino está "subentendido" nela. A trindade está presente, não na Bíblia, mas nas palavras dos "pais da Igreja". Mas, conforme já vimos, os "pais da igreja" não eram cristãos. Eram filósofos.
E como poderia tal ensino da filosofia pagã estar "subentendido" na Bíblia? Não estão. As cartas (ou livros) bíblicas não foram escritos de forma subliminar, misteriosa ou em códigos para serem decifrados por especialistas. Foram escritas, principalmente as das escrituras gregas cristãs (ou o "Novo Testamento"), por pessoas comuns para pessoas comuns. Inspiradas por Deus, visavam esclarecer as coisas referentes a vontade de Deus para conosco, e não complicá-las.
Nesta parte vamos ver o que a própria literatura oficial católica (e também "evangélica") dizem a respeito disso.
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- Usando as Escrituras -
É preciso levar em conta que Jesus e os apóstolos usavam as Escrituras como base para seus ensinamentos. E em momento algum eles disseram que havia alguma "mensagem oculta" nas palavras que liam, ou que algo estava "subentendido que deveria ser assim apesar de não estar escrito".
Assim, se a Trindade fosse realmente um ensino bíblico, devia estar clara e coerentemente apresentada na Bíblia que liam para o povo. Por quê? Porque, como afirmaram os apóstolos, a Bíblia é "a revelação que Deus fez de si mesmo à humanidade" (Romanos 1:20; 1ª João 4:8). Por exemplo: Deus nos diz que ele "é amor". Nós conhecemos bem o amor e podemos explicá-lo de forma clara, sem precisar de palavras codificadas para deixá-lo "subentendido". Se o amor fosse incompreensível como é a trindade, Deus não poderia dizer que é amor.
E, visto que, primeiramente, temos de conhecer a Deus para, então, poder adorá-lo aceitavelmente, a Bíblia deve ser - e é - clara em nos dizer quem exatamente ele é.
Os cristãos do primeiro século aceitavam as Escrituras como a autêntica revelação de Deus. Era a base para as suas crenças, a autoridade final. Por exemplo, quando o apóstolo Paulo pregou a pessoas da cidade de Beréia, elas ‘receberam a palavra com o maior anelo mental, examinando cuidadosamente as Escrituras, cada dia, quanto a se estas coisas eram assim’ (Atos 17:10, 11). E sobre o que é Deus, existem muitos relatos, tanto sobre o que Ele é quanto às suas qualidades. As qualidade de Deus, como "poder", "força" e "bondade" nós conhecemos. Não são coisas misteriosas para nós. Se tais qualidades fossem "misteriosas" e não pudéssemos compreendê-las, como é que Deus poderia nos dizer que as possui?
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- Mistério Insondável ou Revelado Claramente? -
As coisas referentes ao que Deus é, são explicadas. Não permanecem obscuras como no caso da trindade. Em Atos 17:2, 3 lemos: “Segundo o costume de Paulo, ele . . . raciocinou com eles à base das Escrituras, explicando e provando com referências [das Escrituras].”
O próprio Jesus deu o exemplo. Ele explicou a si mesmo por usar as Escrituras.. Ele dizia frequentemente: “Está escrito.” “Interpretou-lhes em todas as Escrituras (hebraicas) as coisas referentes a si mesmo.” — Mateus 4:4, 7; Lucas 24:27. Se Jesus, tido pela Igreja como "parte da trindade", fosse um "mistério insondável", ele próprio teria dito isso ao invés de se revelar claramente.

Portanto, Jesus, Paulo e os crentes sabiam que “toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ensinar, para repreender, para endireitar as coisas, para disciplinar em justiça, a fim de que o homem de Deus seja plenamente competente, completamente equipado para toda boa obra”. — 2ª Timóteo 3:16, 17; veja também 1ª Coríntios 4:6; 1ª Tessalonicenses 2:13 e 2ª Pedro 1:20, 21. Se as Escrituras são para "ensinar", como é que se pode dizer que nelas estão contidos, mesmo que "subentendidos", "mistérios insondáveis"?
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- "Admitimos: Não é Bíblica!" -
Em face de tal escrutínio minucioso, não há argumentos contrários que possam ser dados.
É interessante que a literatura oficial, tanto da Igreja Católica quanto das "evangélicas", admitem que a doutrina da Trindade "não está na Bíblia".
Diz a publicação "evangélica" O Novo Dicionário Bíblico, de Russel Norman Champlin (1933 - 2018), PHD "protestante" em Línguas Clássicas da Universidade de Utah : “A palavra ‘trindade’ não pode ser encontrada na Bíblia . . . e não encontrou lugar formal na teologia da Igreja senão já no quarto século.” E uma publicação católica 'autorizada' diz que a Trindade “não é . . . direta e linearmente [a] palavra de Deus”. — Nova Enciclopédia Católica.
Além disso, a Enciclopédia Católica diz também: “Na Escritura ainda não existe um único termo através do qual as Três Pessoas Divinas sejam classificadas juntas. A palavra τρίας [trí·as] (da qual se traduz a palavra latina trinitas) é pela primeira vez encontrada em Teófilo, de Antioquia, por volta de 180 A.D. . . . Pouco depois aparece na sua forma latina trinitas, em Tertuliano.”
Mas o próprio Tertuliano (160 - 220), que apesar de ser considerado pela Igreja Católica como um dos seus "fundadores", era desconhecido. Não se sabe, ao certo, nem se era filósofo ou ligado aos primeiros pais da Igreja.
E Tertuliano não ensinou a Trindade. A obra católica Trinitas — A Theological Encyclopedia of the Holy Trinity (Trinitas — Enciclopédia Teológica da Santíssima Trindade) admite, a respeito da Trindade ensinada por Tertuliano, dizendo que "algumas das palavras de Tertuliano foram mais tarde usadas (interpretadas) por outros para descrever a Trindade". Daí, faz o alerta: “Mas, não se podem tirar conclusões apressadas a respeito do uso, pois ele não aplica essas suas palavras à teologia trinitarista.”
Assim, segundo a própria literatura católica (e "evangélica"), a doutrina da trindade não é bíblica e também desconhecida dos primeiros pais da igreja até o terceiro Século.
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- Não Está no "Antigo Testamento" -
Se a trindade fosse bíblica ela deveria ser ensinada desde o início, no livro de Gênesis. Mas não é. Não existe um único texto, de Gênesis a Malaquias (ou todo o "antigo testamento"), que sequer deixe "subentendida" tal doutrina.
Nesse sentido a obra católica The Encyclopedia of Religion (Enciclopédia de Religião) admite: “Os teólogos hoje concordam que a Bíblia Hebraica (o antigo testamento) não contém uma doutrina da Trindade.” E a Nova Enciclopédia Católica também diz: “A doutrina da Santíssima Trindade não é ensinada no Velho Testamento.”
Similarmente, em seu livro The Triune God (O Deus Trino), o jesuíta Edmund Fortman, Padre jesuíta, admite: “O Velho Testamento . . . nada nos fala explicitamente, ou através de necessária dedução, a respeito de um Deus Trino que seja Pai, Filho e Espírito Santo. . . . Não há evidência de que qualquer escritor sacro sequer suspeitasse da existência de uma Trindade na Divindade. . . . Até mesmo enxergar no “Velho Testamento” sugestões ou prefigurações, ou ‘sinais velados’ da trindade de pessoas, significa ir além das palavras e da intenção dos escritores sacros.”.
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- Não Está no "Novo Testamento" -
Se a trindade não está no "antigo testamento", será que estaria nas Escrituras Gregas Cristãs (o “Novo Testamento”)? Se as Escrituras Gregas (o novo testamento), é, na verdade, uma continuidade das Escrituras Hebraicas (o antigo testamento), obviamente também não estaria lá.
Assim, novamente, tanto livros históricos como as literaturas oficiais, católica e "evangélicas", são obrigadas a admitir novamente que não.
A Enciclopédia de Religião diz: “Os teólogos concordam que o Novo Testamento também não contém uma explícita doutrina da Trindade.”
Fortman declara: “Os escritores do Novo Testamento . . . não nos deram nenhuma doutrina formal ou formulada da Trindade, nenhum ensino explícito de que em um só Deus há três pessoas divinas coiguais. . . . Em parte alguma encontramos alguma doutrina trinitária de três diferentes personagens de vida e atividade divinas na mesma Divindade.”

Obras de referência acadêmica também registram a inexistência da trindade no "novo testamento". A The New Encyclopædia Britannica (Nova Enciclopédia Britânica) observa: “Nem a palavra Trindade, nem a doutrina explícita constam no Novo Testamento.”
Bernhard Lohse (1928 - 1997), teólogo e historiador da Reforma Luterana e da Patrística Católica, diz em A Short History of Christian Doctrine (Breve História da Doutrina Cristã): “No que tange ao Novo Testamento, não se encontra nele uma real doutrina da Trindade.”
O livro "evangélico" The New International Dictionary of New Testament Theology (Novo Dicionário Internacional da Teologia do Novo Testamento), de Karl Barth (1886 - 1968), considerado o maior teólogo "protestante" do Século XX, diz similarmente: “O Novo Testamento não contém a produzida doutrina da Trindade". ‘Não existe na Bíblia uma declaração expressa de que o Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam de igual essência’,

Soma-se a esses depoimentos, as de notáveis historiadores. O professor P.H.D. da Universidade de Yale (EUA), E. Washburn Hopkins (1857 - 1932) , afirmou: “Jesus e Paulo aparentemente desconheciam a doutrina da trindade; . . . nada dizem a seu respeito.” — Origin and Evolution of Religion (Origem e Evolução da Religião). E Arthur Weigall (1880 - 1934), historiador e egiptólogo, diz: “Jesus Cristo nunca mencionou tal fenômeno, e, em parte alguma do Novo Testamento aparece a palavra ‘Trindade’. A ideia foi adotada pela Igreja somente trezentos anos depois da morte de nosso Senhor.” — O Paganismo no Nosso Cristianismo.
Assim, se você for católico ou evangélico e quiser se aprofundar no ensinamento da trindade pela própria literatura "oficial" de suas religiões, ao invés de se deparar com um fortalecimento de sua crença, vai encontrar negativas "oficiais" do que lhes ensinam.
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- Mais Admissões -
E não para por aí. Na literatura católica "oficial" também encontramos constatações de que os cristãos primitivos não eram trinitaristas e nem ensinavam sobre um deus trino? Note os seguintes comentários, de historiadores e teólogos:
1 - “O cristianismo primitivo não tinha uma doutrina explícita da Trindade, da forma como foi depois elaborada nos credos.” — Novo Dicionário Internacional da Teologia do Novo Testamento. de Verlyn D. Verbrugge, editor teológico americano.
2 - “Os cristãos primitivos, porém, não pensaram de início aplicar a ideia da [Trindade] à sua própria fé. Prestavam as suas devoções a Deus, o Pai, e a Jesus Cristo, o Filho de Deus, e reconheciam o . . . Espírito Santo; mas não se imaginava que esses três fossem uma autêntica Trindade, coigual e unida em Um.” — O Paganismo no Nosso Cristianismo.
3 - “De início, a fé cristã não era trinitarista . . . Não era assim nas eras apostólica e pós-apostólica, como se reflete no Novo Testamento e em outros primitivos escritos cristãos.” — Encyclopædia of Religion and Ethics (Enciclopédia de Religião e Ética), de James Hastings (1852 - 1922), teólogo presbiteriano escocês.
4 - “A formulação de ‘um só Deus em três Pessoas’ não foi solidamente estabelecida, de certo não plenamente assimilada na vida cristã e na sua profissão de fé, antes do fim do 4.º século. . . . Entre os Pais Apostólicos, não havia nada, nem mesmo remotamente, que se aproximasse de tal mentalidade ou perspectiva.” — Nova Enciclopédia Católica.

Resumindo esta parte: Se você se deparar com um eminente defensor da fé católica (ou evangélica) que "bata o pé", dizendo que o ensino da trindade está em "seus pilares", tenha certeza que ele simplesmente não conhece sua própria literatura oficial
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- Na Próxima Parte -
Tais depoimentos, de importantes figuras religiosas e históricas, retiram totalmente o crédito que se dá de que os cristãos primitivos ensinavam a trindade.
Mesmo assim, alguns podem argumentar: "O ensino da Trindade pode não estar na Bíblia, mas foi ensinada pelos "santos" (ou os "pais da igreja").
Será que foi mesmo? É o que veremos na próxima parte.


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