domingo, 28 de julho de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 9

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 9

Representação artística do bispo de Roma Calisto, que foi chamado de "papa" pelos seus correligionários. De um simples apelido bajulador a um um título clerical.


- Organização Descentralizada -
Conforme vimos, na 7ª Parte, a Igreja Católica se organizou em torno dos bispos. Por todas as cidades do império romano, e além, haviam congregações "chefiadas por um bispo. Não havia mais os apóstolos em Jerusalém como o "corpo governante" deles, guiando-os à base da Bíblia. Agora era a palavra desses bispos, não as da Bíblia, a "lei" para aqueles "cristãos" sob seu comando. E como os bispos não eram unidos, a Igreja Católica, em seu início era descentralizada. Não havia um "centro de comando". Mas, como esses "bispos" surgiram?.
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- Predito O Início da Apostasia -
No tempo dos apóstolos, não haviam, entre eles, pessoas que pudessem ser reconhecidas como "chefes". Não há um único relato na Bíblia no qual os apóstolos foram chamados de "líderes", "pais" ou qualquer outro título que os colocassem acima dos outros (Mateus 23:9-12). Os apóstolos, os anciãos, e todos os discípulos participavam igualmente, na pregação.
Por exemplo, em Atos 15:22,23, lemos que se reuniram não só os apóstolos e os anciãos mas também toda a congregação. E juntos, a congregação inteira, escreveram uma carta aos irmãos de Antioquia, que chegaria com aqueles "que enviaram junto com Paulo e Barnabé", a saber: "Judas e Silas". Estes "tomavam a dianteira (liderança) entre os irmãos". 
É interessante que, mesmo dizendo que esses irmãos "tomavam a liderança", eles foram enviados. Isso significa que a "dianteira", ou a "liderança" entre eles, era apenas em sentido espiritual, de aprendizado, e não como "chefes" ao estilo do mundo.
Para os cristãos verdadeiros, todos os que se convertiam, homens ou mulheres, eram, do "apostolado". Participavam da pregação, pregando as mesmas coisas que os apóstolos falavam. Em cada congregação havia, não um homem que comandava, mas um corpo de anciãos, sem número definido, como se fosse 'por vagas'. Isso quer dizer que todos em uma congregação podiam ser anciãos, responsáveis por executar as decisões  de Jerusalém, a congregação da qual, nas decisões, todos os convertidos participavam. O ministério cristão era para todos. Todos eram ministros de Cristo.
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- Surgem os Primeiros Rebeldes -
"Ancião" (ou "homem mais velho") vem da palavra grega pre·sbý·te·roi, da qual se derivou o moderno "presbítero". Ancião não era um título, mas apenas um indicativo de alguém mais experiente no manejo da verdade e da pregação. E, talvez tenha sido dentre esses, que mais tarde surgiram alguns rebeldes. Paulo previu o aparecimento desses rebeldes (Atos 20:29, 30; 1ª Timóteo 4:1,2). Paulo não citou especificamente que seria dentre os anciãos que os rebeldes surgiriam. Portanto podiam ser de qualquer grupo, incluindo o dos novos convertidos.
De início, por causa dos apóstolos, esses rebeldes nada podiam fazer além de causarem distúrbios. Eles não aceitavam o que os apóstolos falavam e viviam de intrigas. Por fim, acabavam se afastando da congregação.
Mas quando os apóstolos faleceram não havia mais quem os segurasse. E eles começaram a exigir autoridade sobre os outros irmãos.
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- Surgem os "Bispos" -
Era da congregação de Jerusalém que se supervisionava todas as outras congregações. Por isso, eles eram chamados, em grego, de e·pí·sko·pos, ou "superintendentes". Logo, em todas as congregações haviam anciãos que se tornavam "superintendentes". Eles não usavam roupas distintivas ou títulos, nem tinham autoridade sobre as pessoas. Eram unicamente responsáveis pela forma certa de se pregar.
Uma vez, sem os apóstolos, alguns deles passaram, aos poucos, a se definir como "bispos", que é basicamente a mesma coisa de "superintendente" mas que lhes dava um aspecto "diferente". 
De fato, o livro "História de La Iglesia Católica" do historiador jesuíta Bernardino Llorca (1898 - 19858), registra: "a distinção (dos 'bispos') se tornou mais clara, passando o nome bispo a designar os superintendentes mais importantes, que detinham a suprema autoridade sacerdotal e o direito de ordenar sacerdotes pela imposição das mãos.”
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- O Paganismo Se Acentua -
Os "bispos" começaram a imitar o modo de vida do mundo para se destacar. Com o tempo, e aos poucos, começaram a formar uma hierarquia, algo que, se os apóstolos estivessem vivos, não permitiriam.
Quando esses "bispos" começaram a se impor como chefes até mesmo dos anciãos. Por causa deles, já não havia mais como encontrar a mensagem verdadeira de Cristo, que não permite a chefia de um  homem sobre outro homem no que diz respeito a servir a Deus.
Por volta do Concílio de Niceia, no início do Século IV, as congregações ditas "cristãs", mas que na verdade eram apóstatas, já estavam impregnadas de paganismo. Os bispos passaram a usar roupas distintivas, a se comportar com arrogância e autoridade e exigir honrarias. Não participavam das pregações e publicavam livros com suas próprias ideias filosóficas, não dirigidos ao público, mas às autoridades políticas locais. Também não deixavam os "fieis" pregarem, se não fossem pelas suas ideias. A pregação do evangelho, de casa em casa, conforme era feita no tempo dos apóstolos, havia parado. Agora eram as pessoas que tinham que ir até eles (os "bispos"), em lugares específicos para ouvir-lhes.
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- Surge o Papado -
Durante o 2º século, o do domínio dos bispos, ninguém foi chamado de "papa". Foi somente no início do 3º Século que Calisto, bispo de Roma de 217 a 222, foi chamado de 'papa'. 
Papa significa "pai" em italiano. Aparentemente não seguiram a ordem de Cristo escrita em Mateus 21:9,10, que ordenava que não chamassem ninguém na terra de "pai" e "lider".
O termo 'papa', naquele simples início, ainda não estava definido como um título. Até o início do 5º Século, 'papa' era apenas o apelido do bispo de Roma. Mas, outros bispos de outras localidades, também podiam ser chamados de "papas".
Isso mudou nos anos do "bispado" de Leão 1 (440 - 461) de Roma. Ele passou a considerar "papa", não mais como uma palavra comum, mas como um título. Criava-se assim, mais um título hierárquico entre os bispos. Nas congregações, o "bispo" que se destacasse perante os outros, se transformava no "papa" deles. 
Mas o bispo de Roma exigia autoridade sobre todos os outros "papas". Leão 1, usou de uma interpretação das palavras de Cristo em Mateus 16:18,19 para deixar claro que "se o imperador exercia poder temporal, em Constantinopla, no Oriente, ele, exercia poder espiritual, a partir de Roma, no Ocidente". 
Para este "papa", a"igreja de Pedro", não estava em Jerusalém, mas em Roma. E, se ele era da igreja de Pedro em Roma, "esta deveria ter primazia sobre todas as outras". Uma primazia baseada apenas na localidade e proximidade com o poder político de Roma, e não na madureza espiritual que julgavam ter.
Por causa disso, houve disputas entre outros bispos, também chamados de "papas", mas no Século 11, segundo a obra História Ilustrada dos Papas (em inglês), somente o bispo de Roma podia insistir que este título pertencia só a ele.
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- O "Santo" Império -
O fato é: Com sua hierarquia aos moldes dos governos mundanos, a Igreja Católica estava, desde o Concílio de Niceia e a suposta "conversão" (por motivos políticos) de Constantino, o Grande (306 - 337), fixada como mais um poder político temporal, que trabalhava em prol das questões do mundo e não das questões espirituais.
Um exemplo dessa união entre igreja e estado aconteceu no ano 800. O Papa Leão 3º (750 - 816) coroou Carlos Magno (742 - 814) como o Imperador do "Santo" Império Romano. E por onde o "santo" Império se expandia, pelo poder da espada, lá estava a igreja Católica, acompanhando a cúpula e impondo-se como "religião oficial" do novo território conquistado.
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- Uma Religião Estranha ao Cristianismo -
Quanta diferença da época dos apóstolos! No 1º Século, os apóstolos e demais cristãos realmente se espalharam pelo mundo, pregando o restabelecimento do reino de Deus, que era a mensagem de Cristo. E realmente os cristãos já estavam, desde o Século 1, nos lugares onde mais tarde chegou o Império com sua "religião oficial" a Igreja Católica. Mas eles não se uniram a governos ou mudaram seus costumes. A mensagem cristã era para todos e era questão pessoal, de coração, de cada um, escolhê-la ou não para sua vida. 
Mas com o catolicismo, uma religião estranha ao cristianismo, isso mudaria. Para a opulenta religião do império, a religião das pessoas era uma questão regional do império e não coração de cada um. Ela seria imposta e aqueles que não a aceitassem (notadamente aqueles que persistiam em se apegar às palavras da Bíblia) sofreriam Seriam chamados de "hereges", seriam banidos de empregos, perseguidos, difamados, etc. E tudo numa escala de violência sempre crescente.

Na próxima parte vamos ver detalhes do acentuamento do paganismo naquela religião imperial e o início do que ela se tornou: Mais uma arma nas mãos dos poderosos do que uma mensageira de esperança.
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Continua


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