segunda-feira, 29 de julho de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 10

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 10

O livro The Crucible of Christianity - 1969, de Arnold Joseph Toynbee. Nele, renomados historiadores relatam, de forma imparcial e didática, o nascedouro do catolicismo. Não existe edição em português. Se desejar pode baixar livro, em PDF e em inglês neste link:
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- Redução da Leitura da Bíblia -
Como explicaria você, se for católico, acreditar em coisas como "ir pro céu ou pro inferno", "comunicação com mortos", "Deus trino", "intercessão de santos", "purgatório", etc.? Quase as mesmas coisas podem ser perguntadas aos "evangélicos" que, com exceção de crer em 'santos', endossam todas as outras crenças católicas, incluindo, as vezes a "virgindade perpétua de Maria".
Tais "ensinamentos", contudo, não estão na Bíblia. Esses "ensinos" se encontram nos livros d e alguns dos antigos "pais da igreja", ou dos "santos", vistos nas partes 5 e 6 deste assunto. Aqueles líderes religiosos, para dizer que é "ensino bíblico subentendido", tiveram que lançar mão de interpretações de alguns textos da Bíblia. Mas esses textos são retirados dos contextos em que estão e, por isso, não tem o sentido que querem dar a eles.
Por exemplo, tanto católicos como "evangélicos" usam o texto de João 10:30, onde Jesus diz "eu e o pai somos um", para justificar o ensinamento de que eles são a mesma pessoa dentro de uma trindade.
Mas quando Jesus disse essas palavras, estava se referindo às obras que fazia "em nome do pai dele", como que representando-o . E ele estava respondendo aos judeus que não acreditavam nele (João 10:22-27). Jesus não estava "explicando a trindade" conforme alguns dizem. E muito menos a "explicaria" aos seus inimigos, que, de certa forma já acreditavam nessas coisas. isso seria como endossar as crenças deles. Além disso, mais tarde, Jesus explicou aos apóstolos o que claramente significa aquele "somos um". Ele pedia ao pai para os apóstolos também "fossem um" assim como ele e o pai também eram um. Por fim Jesus disse também que fossem os apóstolos "um" junto com ele e seu pai (João 17:11-14; 20-23). Como os apóstolos tinham que "ser um" com Cristo e Deus? É claro que se tratava de unidade em objetivos e não em substância carnal ou espiritual.
O ensinamento correto sobre os textos bíblicos não chega aos católicos (e "evangélicos") por não considerarem cabalmente o texto completo. E isso tem uma explicação: O domínio do paganismo nas religiões da cristandade. Os antigos "pais da Igreja", aos poucos foram solapando a leitura da Bíblia, por incentivarem a leitura de seus próprio compêndios filosóficos. Assim, os religiosos se afastam cada vez mais da mensagem verdadeira.
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- O Sincretismo Religioso -
Conforme já vimos, os "pais da Igreja" eram filósofos. Os filósofos costumam, em suas teses, não desprezar nada do que observam e a misturar tudo como se fosse uma coisa só. Assim, em sentido espiritual, eles não desprezam nenhuma crença. Procuram conhecê-la, compará-las e ver se tem algo em comum. Isso acarreta em misturar as crenças formando uma nova crença, híbrida. Um exemplo atual disso está aqui no Brasil, nos dias de hoje. A Igreja Católica pratica, principalmente no estado da Bahia, o Sincretismo Religioso, que é a mistura do catolicismo com as crenças da Umbanda e do Candomblé, crenças que ela mesma denuncia como paganismo em outras regiões.
E foi assim desde o início. Quando foi criada em Roma, no Século IV, a Igreja Católica, por ser a religião oficial do Império, passou a se misturar com as crenças dos romanos, ao ponto de substituir-lhes e apoderar-se como se fosse dela.

O historiador Will James Durant (1885 - 1981) explica: “A igreja não se limitou a tomar algumas formas e costumes religiosos da Roma [pagã] pré-cristã — a estola e outras vestes sacerdotais, o uso do incenso e da água benta nas purificações, os círios e a luz perpetuamente acesa nos altares, a veneração dos santos, a arquitetura da basílica, a lei romana como base da lei canônica, o título de Pontifex Maximus para o Supremo (ou Sumo) Pontífice, e no século IV o latim "como a "língua da Bíblia" . . . Em breve os bispos, em vez dos prefeitos romanos, seriam a fonte da ordem e a sede do poder nas cidades, os metropolitanos, ou arcebispos, iriam sustentar, senão suplantar, os governadores provinciais; e o sínodo dos bispos sucederia à Assembléia provincial. A Igreja Romana seguiu nas pegadas do Estado Romano.” — Fonte: "A História da Civilização" - Volume III — César e Cristo.

Assim, o que antes era considerado costume pagão, agora continuava como costume católico.
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- É Cristã na Teoria, Não na Prática -
Mas tal comportamento não era o dos apóstolos. Essa atitude de transigência com o mundo romano contrasta-se nitidamente com os ensinos de Cristo e dos apóstolos.
O apóstolo Pedro aconselhou: “Amados, . . . estou acordando as vossas claras faculdades de pensar por meio dum lembrete, para que vos lembreis das declarações anteriormente feitas pelos santos profetas e do mandamento do Senhor e Salvador por intermédio dos vossos apóstolos. Vós, portanto, amados, tendo este conhecimento adiantado, guardai-vos para que não sejais desviados com eles pelo erro dos que desafiam a lei e não decaiais da vossa firmeza.” Paulo aconselhou claramente: “Não vos ponhais em jugo desigual com incrédulos. Pois, que associação tem a justiça com o que é contra a lei? Ou que parceria tem a luz com a escuridão? . . . ‘“Portanto, saí do meio deles e separai-vos”... “e cessai de tocar em coisa impura”’; ‘“e eu vos acolherei.”" (2ª Pedro 3:1, 2, 17; 2ª Coríntios 6:14-17; Apocalipse 18:2-5).
Por não seguir a orientação dos apóstolos, será que a igreja que se diz "baseada neles", era mesmo cristã? Não. A Igreja Católica mostrou ser, na prática e, desde seu início, uma nova religião. Uma religião que apenas se dizia "cristã", que se dizia "baseada nos apóstolos e em Jesus", mas que, na verdade não tinha nada a ver com eles.
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- Mensagens Divinas Diferentes? -
Por que isso aconteceu? Por que as mensagens bíblicas, tão claras para todos, nada significaram para aqueles "pais da igreja"?
É que, apesar da clara admoestação bíblica quanto ao paganismo, aqueles "pais da Igreja", filósofos orgulhosos de si mesmos, se sentiram atraídos pelo luxo, riqueza e poder, oferecidos pela corte romana depois da "oficialização" da nova igreja no Concílio de Nicéia, em 325. A flagrante falta de conhecimento e fé nas palavras dos apóstolos fez ocm que não tivessem problemas nenhum em revestirem-se de paramentos e títulos romanos pagãos para ficarem imbuídos de misturar a filosofia grega com as crenças romanas, num pacote só para agradar o povo do Império.

O professor Harry Austryn Wolfson (1887 - 1974), da Universidade de Harvard, EUA, nesse sentido explica em um artigo na obra "The Crucible of Christianity" (de Arnold Joseph Toynbee [1889 - 1975]), que, no segundo século, houve um grande influxo de “gentios de formação filosófica” no cristianismo. "Estes admiravam a sabedoria dos gregos e julgavam ver similaridades entre a filosofia grega e os ensinos das Escrituras". Wolfson continua: “Diversificadamente, eles às vezes se expressam no sentido de que a filosofia é a dádiva especial de Deus aos gregos, através do raciocínio humano, assim como as Escrituras o são para os judeus, através de revelação direta.” Ele continua: “Os Pais da Igreja . . . deram início a seu empreendimento sistemático de mostrar como, por trás da despretensiosa linguagem que as Escrituras , estão os ensinamentos dos filósofos enunciados nos obscuros termos técnicos cunhados em suas Academias, Liceus e Pórticos [centros de conferências filosóficas].”

Isso significa dizer que Deus se comunicou diferentemente com os povos, lhes dando mensagens diferentes e tornando-as, mesmo diferentes e antagônicas como corretas. Pode lhe parecer ilógico, mas foi isso que os antigos pais da Igreja fizeram e é exatamente isso que a igreja Católica é hoje: Uma mistura de paganismo greco/romano com interpretações distorcidas de textos bíblicos.
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- O "Ovo" da Trindade -
Essa crença dos pais filósofos da Igreja em mensagens divinas diferentes para diferentes povos abriu o caminho para a infiltração da filosofia e da terminologia grega (e romana) nos ensinos da cristandade (cristandade significa o conjunto de igrejas que se dizem "cristãs"), especialmente nos campos da doutrina trinitarista e da crença numa alma imortal.
Como diz Wolfson: “Os Pais da igreja passaram a buscar nas reservas da terminologia filosófica dois termos técnicos, um dos quais seria usado para designar a realidade da distinção de cada membro da Trindade como indivíduo, e o outro para designar a sua fundamental união comum.” Todavia, tiveram de admitir que “o conceito de um Deus trino é um mistério que não pode ser solvido por raciocínio humano”.
Os antigos pais da igreja procuravam "solucionar" o cristianismo em termos de filosofia. Assim, o Deus único dos judeus e cristãos não poderia ser o que sempre foi. Ele tinha que mudar e ser um Deus com aspecto dos antigos deuses trinos pagãos para poder se adequar ao catolicismo.
Mas Paulo reconhecera claramente o perigo de tal contaminação da filosofia, que acarretaria no ‘desvirtuamento das boas novas’ quando escreveu aos cristãos gálatas e colossenses: “Acautelai-vos: talvez haja alguém que vos leve embora como presa sua, por intermédio de filosofia [grego: fi·lo·so·fí·as] e de vão engano, segundo a tradição de homens, segundo as coisas elementares do mundo e não segundo Cristo.” (Gálatas 1:7-9; Colossenses 2:8; 1ª Coríntios 1:22, 23).

Apesar disso, conforme vemos hoje, no catolicismo, o que impera não é o Deus único dos cristãos, mas um deus trino, "um mistério", com mensagens subliminares, não claras sobre seus propósitos. Tudo de acordo com os ditames dos filósofos pagãos e nada de acordo com a clareza bíblica.
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- Anulada a Esperança na Ressurreição -
Na próxima parte vamos nos aprofundar mais na questão do afastamento da mensagem bíblica por parte dos pais da Igreja, para compreendermos melhor como nasceram as atuais crenças dos católicos (e também dos "evangélicos"). Por exemplo: Qual é a esperança para quem morre? A Bíblia diz que é a ressurreição no restabelecido paraíso terrestre (João 11:25, 1ª Coríntios 15:21)). Ironicamente a "ressurreição da carne" está presente em uma reza católica, a Salve Rainha. Mas os ensinos filosóficos dos pais da Igreja anularam esta esperança em prol de uma "ida para algum lugar espiritual "merecido".
Como isso aconteceu?


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