terça-feira, 30 de julho de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 16

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte  16

Representação de Tertuliano, considerado o "pai da trindade". Curiosamente, a doutrina que ele propôs não era a que ensinava. Este filósofo do norte da África dizia coisas para agradar a todos, sem se importar se eram antagônicos. Suas falas eram contraditórias. Era capaz de responder "sim" e "não", para mesma pergunta, dependendo de quem a fizesse. Assim, sua proposta da trindade foi elaborada, não porque pensava daquele modo, mas para agradar os que queriam pensar daquele modo.

.
- Os Falsos Cristãos -
A Igreja Católica, num primeiro momento, diz que a trindade é bíblica. Mas, confrontados com sua própria literatura oficial que diz que "não é", conforme vimos na parte anterior, passa a dizer que ela foi ensinada pelos "sucessores dos apóstolos", numa espécie de "revelação posterior".
Dizer uma coisa dessa significa por por terra tudo o que foi dito e escrito antes pelos profetas, por Jesus e pelos apóstolos. Essa "revelação posterior" é o mesmo que dizer que Deus disse para esquecer tudo o que ele disse de si mesmo e abraçar o paganismo.
E, será mesmo que os primeiros pais da Igreja, chamados de "sucessores dos apóstolos" ensinavam a trindade? Como já vimos, nem a literatura oficial católica apoia tal ideia. Mas vamos ver o que os próprios primeiros "pais" disseram.
.
- Os Primeiros Pais da Igreja -
Quem foram eles? Foram os primeiros filósofos que surgiram logo no início do Século 2, chamados de "pais pré nicenos" (ou de "antes de Niceia").

Mas, já vimos que não poderia haver uma "sucessão apostólica". Então aqueles filósofos eram simplesmente pessoas que, de fora do grupo dos verdadeiros cristãos, começaram a tecer ideias próprias sobre o cristianismo. Eles acabaram formando "grupos cristãos" de seguidores. Seriam esses grupos verdadeiramente cristãos?
Não. Pois não seguiam os ensinamentos de Cristo, dos apóstolos ou das Escrituras. Seguiam o que seus filósofos lhes diziam. É óbvio que eles estavam bem distantes dos ensinamentos verdadeiros. Seus líderes deturpavam os ensinos verdadeiros misturando com filosofia grega e ideias próprias.
Mas, exatamente o que esses primeiros "líderes" religiosos, que se dizendo cristãos, ensinavam a respeito da trindade?
.
1 - Justino, o Mártir (100 - 165) -
Foi um filósofo das vertentes filosóficas estoica e platônica, nascido na Flávia Nápolis, um território onde hoje é a Síria. Justino dizia que "Jesus havia sido profetizado", não pelos profetas bíblicos, sobre os quais nada sabia, mas "pelos antigos filósofos gregos". Ele gostava de se expressar em termos gregos para pessoas de língua latina, demonstrando assim eloquência, inteligência e sofisticação. Dizia que "Jesus era o Logos" (ou "a palavra") que expressou uma "verdade obscura".
Justino não ensinava que Jesus era filho de Deus, conforme diz a Bíblia, mas que era "um anjo criado". Mesmo assim, examinando sumariamente três dos evangelhos (ele não examinou o evangelho de João), chegou a conclusão que Jesus “não é o mesmo que Deus, que fez todas as coisas”. Jesus "era inferior a Deus e nunca fez nada exceto o que o Criador . . . queria que ele fizesse e dissesse”.
Assim, Justino não ensinou sobre um deus trino.
Um detalhe interessante a respeito de Justino é que, embora seja ela reverenciado como "santo" pela igreja Católica, é reconhecido, nos meios acadêmicos católicos, que ele desconhecia a Bíblia. Ireneu de Lyon, outro convertido grego que se destacou entre os "pais da igreja", se opôs fortemente contra Justino por causa de seu desconhecimento das Escrituras. É provável que Ireneu tenha dito: "Como ele pode falar delas (das Escrituras) se não as conhecia?"
.
2 - Ireneu de Lyon (130 - 202)
Não se sabe bem onde Ireneu nasceu, sendo o lugar mais citado Esmirna, a atual Turquia. Não se sabe ao certo também se era filósofo de formação, embora simpatizasse e advogasse em prol das filosofias que norteavam a apostasia de sua época.
A vida de Ireneu se caracterizou, principalmente, pela sua briga contra o movimento gnóstico. O gnosticismo pregava uma interpretação filosófica dos livros apócrifos da Bíblia, que tentava achar um "meio termo" entre o platonismo e os "mistérios do cristianismo greco/romano". Ireneu considerava o gnosticismo como "séria ameaça" ao cristianismo.
Contra esse movimento ele escreveu, no ano de 180, a obra Adversus haereses ("Contra Heresias"), repleta de termos ofensivos e raivosos, sugerindo "autoridade" (autoridade no sentido policial) ao "sistema episcopal" (autoridade política de bispos), às "Escrituras sem os apócrifos" e a "tradição filosófica/cristã". Nessa linha de raciocínio, seus seguidores acabaram sendo perseguidores dos verdadeiros cristãos, então espalhados pelo Império que mantinham sua fé apenas por consciência.
A respeito de Jesus e Deus, Ireneu também não chamou Jesus de filho de Deus, mas de "pré-humano". Para Ireneu, Jesus teve uma existência diferente de Deus e "era inferior a este". Ele mostrou que Jesus não é igual ao “Um só verdadeiro e único Deus”, que “é supremo sobre todos, à parte de quem não há outro”.
Nesse sentido, Ireneu, hoje considerado "santo" por quatro denominações religiosas (Católica, Ortodoxa, Anglicana e Luterana) também não ensinou sobre uma "unicidade de Cristo e Deus" e nem sobre a trindade.
.
3 - Clemente de Alexandria - (150 - 215) -
Apologista da "filosofia como explicação para as Escrituras" nasceu em Atenas, na antiga Grécia. Também, como Ireneu, se destacou por ser contra o gnosticismo, mas não nos mesmos termos violentos de Ireneu. Concentrou-se mais no criador do movimento gnóstico, o filósofo Valentin (? - 160), também muito influente na apostasia.
Clemente hoje é venerado pela Igreja Católica, pela Igreja Copta e por certas correntes do anglicanismo.
Clemente chamou Jesus de "filho de Deus". o próprio Deus, era “o incriado e imperecível Deus e único Deus verdadeiro”. Já o Filho “vem logo depois do único Pai onipotente”, mas "não é igual a ele". De maneira que ele também não ensinou nada que pudesse dar suporte ao ensino da trindade.
.

4 - Tertuliano - (160 - 220)
Nasceu e morreu em Cartago, na África, sob domínio de Roma. Não se sabe ao certo sobre sua formação e pouco se sabe sobre sua vida, mas pela sua conversão ao "cristianismo" de sua época, deduz-se que simpatizava com a filosofia... mas só quando esta não conflitava com suas próprias ideias.
De modo geral, criticava a filosofia, que definia como "ensinamentos de homens e demônios". Uma vez ele disse: "Rejeito as tentativas de produzir um cristianismo corrupto de composição estoica, platônica e dialética".
Tertuliano era contraditório. Ao mesmo tempo em que defendia uma ideia, atacava-a. No final ninguém entendia bem qual o lado em que ele se posicionava. Por exemplo, no que toca a trindade, ele foi o primeiro que, utilizando-se de filosofia, a teorizou. Nesse sentido a obra The Theology of Tertulian (A Teologia de Tertuliano) diz que sua teoria (da trindade) era "uma mistura curiosa de ideias e termos jurídicos e filosóficos".
Ao mesmo tempo, Tertuliano contradizia sua própria teoria, dizendo que: “O Pai é diferente do Filho (outra pessoa), uma vez que é maior; assim como quem gera é diferente de quem é gerado; quem envia, diferente de quem é enviado.” Ele disse também: “Houve tempo em que o Filho não existia. . . . Antes de todas as coisas virem a existir, Deus estava sozinho.”
Apesar dessa contradição, foi, não o ensinamento que ministrava, mas sua teoria sobre a trindade, feita apenas para agradar as pessoas que queriam ouvir aquilo, a apresentada, mais tarde, no Concílio de Niceia, em 325, que serviu de base para o desenvolvimento da moderna Trindade que hoje conhecemos.
Tertuliano, apesar de ser considerado o "pai do trinitarismo" e um "pai da igreja", não é considerado "santo".
.
5 - Hipólito de Roma (160 - 235) -
Não se sabe se era de Roma. A História, sem comprovação, diz que foi discípulo de Policarpo de Esmirna (69 - 155) que, segundo a folclórica tradição católica, foi discípulo do apóstolo João.
Hipólito se destacou por ser contra os principais bispos de sua época (mais tarde colocados entre os "papas" pela Igreja). Por isso ele é chamado, hoje, de "primeiro anti-papa", a ponto de se separar dos "cristãos. Assim para ser considerado o "santo" que é hoje, a Igreja teve que criar a história de que Hipólito, no final da vida "se conciliou com a igreja". O que ensinava Hipólito sobre Deus?
Hipólito ensinava que Deus é “o Deus uno, o primeiro e o Único, o Fazedor e Senhor de tudo”, que “nada tinha de coevo (contemporâneo) com ele . . . Mas ele era Um Só, sozinho; que, querendo-o, trouxe à existência o que não existia antes”. Para Hipólito, Jesus foi criado, não sendo portanto igual ao seu Pai.
Nesse sentido o considerado pela igreja como "o mais importante teólogo do Século 3", também não ensinava a trindade.
.
6 - Orígenes de Alexandria (185 - 253)
Nasceu em Alexandria, no Egito e morreu em Cesareia na atual Turquia. Filósofo platônico (mais tarde reclassificado como "neoplatônico") Foi um eminente líder ("pai da igreja") de sua época, mas não produziu nada que "mexesse no caldeirão" da apostasia a qual pertencia.
Em 231 ele 'se castrou' por julgar estar "obedecendo a palavra de Deus". Quer seja por este motivo ou outro, começou a ficar famoso. Isso fez com que o bispo de Alexandria da época, Demétrio (? - 232) ficasse com ciúmes. Orígenes então, para não ser perseguido, fugiu para a Palestina e foi considerado como "herege" por Demétrio. Mas ele continuou sendo considerado importante para outros "pais da Igreja".
Hoje só não é considerado "santo" pela igreja por conta da crítica que Demétrio lhe fez.
No que toca ao ensino da trindade, Orígenes ensinava que “o Pai e o Filho são duas substâncias . . . duas coisas quanto à sua essência”, mas que “comparado com o Pai, [o Filho] é uma luz pequenina”. Ou seja: "diferentes".
Assim, o hoje considerado "maior erudito da igreja antiga" (sem ser "santo"), numa época em que a doutrina da unicidade de Cristo e Deus estava começando a ser proposta, não a endossou e não ensinou sobre ela.
.
- A Doutrina Estranha -
Fica evidente, pelo testemunho dos primeiros "pais da igreja", que a doutrina da trindade era estranha para eles. E, embora estivesse sendo cogitada, eles, como os principais expoentes da época não a aceitavam.

Resumindo essa evidência histórica, Alvan Lamson (1792 - 1864), Clérigo, Doutor e Professor de Harvard Divinity School, em Massachusetts - EUA, diz em The Church of the First Three Centuries (A Igreja dos Primeiros Três Séculos): “A moderna popular doutrina da Trindade . . . não deriva apoio da linguagem de Justino [o Mártir]: e esta observação pode-se estender a todos os Pais anteriores ao [credo de] Niceia; isto é, a todos os escritores cristãos por três séculos posteriores ao nascimento de Cristo. Eles de fato falam do Pai, Filho, e . . . Espírito santo, mas não como coiguais, não como uma só essência numérica, não como Três em Um, em qualquer sentido hoje aceito pelos trinitaristas. A verdade é exatamente o oposto.”

Assim, como se pergunta: Se a trindade não é bíblica, não era dos apóstolos e também não era nem dos primeiros apóstatas. Como é que ela apareceu no meio que se dizia "cristão", como um de seus importantes dogmas? É o que vamos ver na próxima parte.


Nenhum comentário:

Postar um comentário