sábado, 27 de julho de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 8

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 8

Uma cópia de página da obra de Agostinho,"Cidade de Deus", datada de 1487. O interessante desta obra é que nela está o pensamento dele sobre a igreja em que exercia poder. E, por analisarmos este pensamento, vemos que a igreja hoje, não se baseia totalmente nele como alega, pois, se se baseasse, estaria mais próxima da mensagem bíblica.

- Pedro Era Papa de Cristo -
É interessante observar que a própria Igreja Católica, ao citar o que considera "seu início", coloca, como os livros de História também seculares colocam, os Pais da Igreja em destaque. Assim, Justino, o Mártir (100-165 DC), Orígenes, de Alexandria (185-254), Agostinho de Hipona (354-430 DC) e outros, sempre são citados como os "originadores", ou pelo menos como aqueles que "definiram o que é a Igreja" que perdura até hoje. E fazem isso com base na História comprovada e não em suposições, teorias, tradições ou crenças.
Por outro lado, quando citam o apóstolo Pedro (os outros apóstolos não são citados), como fundador da Igreja, é por interpretações de textos bíblicos. Já que não se encontra na Bíblia nenhum texto que formalize tal designação, as interpretações - e não explicações claras - são necessárias. E Pedro é colocado como exercendo o papado a partir do ano 30 indo até 67.
O ano 30 soa estranho. Entre outras coisas, os católicos consideram que a "comissão" de Pedro como Papa, se deu quando Jesus falou-lhe, em Mateus 16:13, as seguintes palavras: "tu és Pedro e sobre esta pedra erguerei a minha igreja...".
Só que estas palavras de Jesus foram ditas no ano 33, perto da morte dele na estaca. Assim, a Igreja considera que Pedro, então Papa no ano 30, exercia a "chefia", quando Jesus começou a pregar.
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- A Mutante Lista de Papas -
Na verdade, não existe uma lista "oficial" de papas. Caso o papado fosse de origem bíblica, era para, em ao menos uma das cartas das Escrituras Gregas Cristãs (ou o "Novo Testamento") citar a sucessão de papas. Mas, até o ano 100, ano em que foi escrito o Apocalipse, nada foi escrito na Bíblia a respeito disso.
Além de não existir a lista, a Igreja, periodicamente relança uma lista criada séculos depois, em seu "Anuário Pontifício". Lista essa que tem sofrido modificações a cada relançamento. Por vontade do Papa no poder, alguns papas do passado podem ser retirados, colocados ou recolocados na lista, dependendo do que, em pesquisas históricas, se descobre sobre eles.
De qualquer forma, a Igreja Católica considera mais válida a palavra dos "santos", ou daqueles "pais da Igreja" do passado, do que as palavras da Bíblia. Nas literaturas católicas, são palavras, não dos apóstolos, mas desses "pais da igreja" que ressoam como ordens.
O que disseram esses "pais da Igreja"? O que eles disseram serve de base para entendermos que a Igreja Católica, na verdade, não se baseia nem nos apóstolos e nem nos "pais da Igreja".
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- A Crença na Política -
Volta e meia nos deparamos com escritos dos "santos", ou os "pais da igreja", sempre exortando a crer na Igreja ou a colocar a Igreja Católica sempre em evidência. Mas na verdade, o mais correto é que esses "pais da Igreja" nunca disseram tais coisas.
Por exemplo, o filósofo Agostinho (354-430 DC), chamado de "santo" pelos católicos, e tido por eles como "o maior doutor do mundo católico", viveu numa época em que a corte imperial de Roma e a nova Igreja Católica (criada em 325) eram unidas politicamente. Acreditava-se, por isso, que Deus apoiava o império e que o mundo seria subjugado ao catolicismo "com a ajuda de Deus". Isso aconteceria mesmo se fosse pelo poder da espada romana.
Mas em 410 DC, Roma foi derrotada pelos gôdos, um povo germânico. O povo romano disse que a derrota foi por causa de terem se voltado para o cristianismo e abandonado os antigos deuses romanos. Respondendo a este pensamento, Agostinho escreveu uma "resposta", de 22 livros, durante 14 anos (413 a 426).
Nesta obra, bem como nas outras, não se encontra nenhuma palavra de Agostinho exortando a crença na Igreja. Em sua época isso não era preciso. Eu se cria na igreja ou por ela seria considerado inimigo.
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- Agostinho em Defesa do "Protestantismo" -
Na obra de Agostinho, chamada de "Cidade de Deus", vista como "valiosa obra filosófica católica", há coisas interessantes, normalmente desprezadas pelos atuais católicos. Agostinho defendia, não o que dizia, mas a Bíblia (a "sola escritura" que os católicos desprezam como sendo "protestante") como "valor de fé e autoridade" e não a Tradição. Agostinho também propunha retirar do cânon bíblico os livros apócrifos (Tobias, Judite, Sabedoria, Macabeus, etc.) "porque os antigos pais (os apóstolos) não os conheciam".
Assim, Agostinho defendia, não a crença na Igreja Católica, mas a crença no que mais tarde os "protestantes" pregavam como verdade: a Sola Escritura (ou Somente a Bíblia).
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- Agostinho Não Defendida a Primazia de Pedro -
A respeito da "primazia de Pedro", Agostinho disse o seguinte: “Nós, os que somos cristãos re et ore, em atos e em nome, não cremos em Pedro, mas Naquele em quem Pedro cria." Na sua época, alguns bispos já estavam querendo, com interpretações filosóficas sofisticadas, colocar Pedro como o primeiro "chefe", mas Agostinho lhes respondeu: "não ficamos enfeitiçados pelos seus encantos, nem somos enganados pela sua mágica." Obviamente Agostinho não se deixava levar por aquelas interpretações de textos bíblicos que tentavam colocar Pedro como primaz dos apóstolos. Agostinho acreditava firmemente que a "pedra" mencionada em Mateus 16:18 era Jesus, não Pedro.
Todavia, apesar desse posicionamento correto perante esses pontos de vista bíblicos, não devemos esquecer que ele era um dos "pais da igreja". Por isso, embora parecesse correto em alguns pontos, subvertia outros.
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Se você for católico talvez nunca tenha ouvido um padre falar de Agostinho citando as palavras reais dele. No entanto a obra dele está preservada até hoje para consultas.
Visto que, a exemplo de Agostinho, os primitivos "pais da igreja" advogavam ideias contrárias ao que a Igreja prega hoje, por que ela se tornou o que é hoje, muito diferente do que pensavam seus "fundadores"?
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- O Desejo de Autoritarismo -
Ao contrário do cristianismo do primeiro século, que se baseava nas palavras de Cristo escritas na Bíblia, a Igreja Católica diz se basear no Papa como seu chefe supremo.
Mas, na verdade, mesmo sendo o Papa a maior autoridade no catolicismo, ela é muito dividida. Suas diversas divisões (ou "ordens", como a dos beneditinos, franciscanos, jesuítas, etc.), embora digam reconhecer o Papa como líder, tendem a ter pensamentos próprios e, não raro, críticos ao Papa.
Isso acontece por causa da sua formação. A Igreja Católica se formou a partir de um ambiente que demandava poder de um sobre outros: a corte do Imperador romano Constantino, no Século IV.
Os seus primeiros bispos, tornados "oficiais" a partir do Concílio de Niceia, eram tão gananciosos, por poder e luxo, como os senadores e governadores romanos. E eles brigavam entre si, não só do ponto de vista "teológico e filosófico", mas também do ponto de vista político. E brigavam para obter destaque perante outros.
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- Eusébio de Cesareia -
Um exemplo icônico de como se comportavam tais "bispos", é Eusébio de Cesareia (265 - 339). Ele viveu na época em que o imperador Diocleciano (243 - 312) perseguia e matava os "cristãos". Era para ter sido morto junto com milhares de outros, por ser "cristão", mas estranhamente escapou da perseguição. Alguns dizem que ele, ao ser preso, disse que não acreditava em nada daquilo do qual fazia parte e ainda fez sacrifícios aos deuses pagãos para convencer os romanos.
Seja como for, Eusébio podia transitar livremente entre aqueles que perseguiam os cristãos e até visitar cristãos na cadeia, antes destes serem mortos. Tornou-se Bispo de Cesareia em 313 ou pouco depois, sucedendo o bispo anterior, Agápio (258 - 303).
No Concílio de Niceia (maio a agosto de 325) que tornou aqueles bispos, os líderes da "religião oficial" do Império, Eusébio já era o favorito do imperador Constantino (272 - 337). Ficava num "lugar de destaque" e discursava como quem tinha autoridade (na verdade sua autoridade provinha da proteção do imperador).
Depois do Concílio, já com posição, prestígio e poder assegurados, começou a brigar com diversos outros Bispos a quem chamava de "oponentes".
Por exemplo, Eustácio, que foi bispo de Antioquia de 324 a 332, o acusou de "ter se afastado do credo niceno". Eusébio, embora não defendesse a unicidade de Cristo e Deus, acabou assinando o "Credo de Nicéia", que propunha o contrário do que ele acreditava . O resultado da briga? Graças ao prestígio do Eusébio junto a corte, foi a condenação e a deposição de Eustácio do cargo.
Outro "oponente" foi Atanásio, bispo de Alexandria (296 - 373). Este apresentou sua causa diretamente ao imperador Constantino. Mas como Eusébio era o favorito do imperador, Atanásio é que foi condenado ao exílio.
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- Nuvens Negras no Horizonte -
Esta era, e, de certa forma, ainda é, a organização da Igreja Católica. Está mais apoiada no jogo político do que em "doutrinas de fé".
Ao contrário da época dos apóstolos, quando os cristãos, mesmo espalhados por muitas terras acataram apenas os que os apóstolos, centralizados em Jerusalém, resolviam, a Igreja estava (e ainda está) dividida em "bispados", onde, o que vale não é o que a Bíblia diz, mas o que o bispo local diz.
E esta situação de divisão iria piorar ainda mais. Entre os anos de 440 a 461, a apostasia iria tomar rumos mais radicais e nocivos para as populações, com a aparecimento de um "chefe dos bispos", ou "papa".
E isso é o que vamos ver na próxima parte.
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Continua...



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