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segunda-feira, 29 de julho de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 14

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 14

Um busto de Platão. A crença deste filósofo grego, numa alma imortal, nada tinha de bíblica ou cristã, mas era oriunda das religiões do paganismo grego. No entanto, a Igreja Católica, dizendo-se "cristã", adotou essa crença como sua e a mantém até hoje.
Texto do teólogo Werner Jaeger, reproduzido na Faculdade de Cambridge, em 1958, atesta que "houve tentativas", por parte da Igreja de se juntar a crença cristã na ressurreição com a crença pagã da imortalidade da alma:
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- Continuação Não, Restauração Sim -
Depois que a cultura grega infectou o judaísmo, alguns podem pensar que, como o cristianismo adveio do judaísmo seria "natural" que este também tivesse elementos do helenismo. Mas não se deu assim. Por quê?
Porque o criador do cristianismo, Jesus, não se misturou com o paganismo. Ao contrário da elite religiosa judaica de sua época ele condenou o paganismo e, "cumprindo a Lei" e não "destruí-la" (Mateus 5:17), iniciou um movimento puro . Além disso, havia profecias que alertavam para o fim do cristianismo naquela época (Atos 20:29,30), dando início ao "tempo dos gentios" (Daniel 7:14,25) e, quando este acabasse, a restauração da adoração pura "no devido tempo" (Atos 1:6,7; Daniel 2:44), iniciada por Cristo.
E isso se cumpriu. Quando os apóstolos morreram, o verdadeiro cristianismo, com seu "corpo governante" representado por eles, também acabou, para ser restituído assim que acabasse o "tempo dos gentios", ou "tempo designado das nações" (Daniel 4:25 e Lucas 21:24).
Segundo as profecias bíblicas não haveria uma "continuação" para o cristianismo iniciado por Cristo. Haveria, mais tarde (nos nossos dias), uma "restauração".
De maneira que o que se seguiu ao fim dos apóstolos, a formação de uma igreja "oficial" do império romano, que diz ser "continuação dos apóstolos" é, na verdade, outra coisa. Por não ser pura, como foi o cristianismo, é evidente que continha o paganismo dos gregos, que inclui a crença na imortalidade da alma, já em sua semente.
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- Admissão de Culpa -
É interessante como a própria literatura oficial católica admite que a crença em uma alma imortal é oriunda do paganismo grego, e não do cristianismo bíblico. Nesse sentido a A New Encyclopædia Britannica salienta: “A partir de meados do 2.º século AD, os "cristãos" que tinham conhecimentos de filosofia grega passaram a sentir necessidade de expressar a sua fé em termos desta, tanto para a sua própria satisfação intelectual como para converter pagãos instruídos. A filosofia que mais lhes convinha era o platonismo.”

Com essa dissertação, a New Catholic Encyclopedia concorda: "“Apenas com Orígenes (185-254 DC), no Oriente e com S. Agostinho (354-430 DC) no Ocidente é que a alma foi estabelecida como substância espiritual e se formou um conceito filosófico da sua natureza.”
Conforme já vimos, esses dois, Orígenes e Agostinho eram, na verdade, não cristãos, mas filósofos gregos da vertente platônica. Assim, se a própria Igreja admite que trata-se de uma crença pagã, não há como tentar justificá-la pela Bíblia. Mas em que base esses dois filósofos formularam, em "termos cristãos", tal crença pagã?
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- O Papel de Clemente de Alexandria -
Orígenes foi discípulo de Clemente de Alexandria (150 - 215 DC). Clemente foi “o primeiro dos Pais que explicitamente adotou a tradição grega referente à alma”, diz a New Catholic Encyclopedia. O que, de fato, pensava Clemente?
Clemente era grego, nascido em Atenas. Antes de ter contato com o "cristianismo", se tornou filósofo platonista. Ao "se converter", procurava "o conhecimento", não pela Bíblia ou pelas cartas dos apóstolos, mas nas lendas populares sobre elas, geralmente inventadas por pessoas iletradas e ignorantes. Misturando a filosofia platônica com essas lendas, admitidamente incompatíveis com o verdadeiro cristianismo, ele formulou o que seria "o entendimento" do cristianismo que seria melhor aceito por aquelas pessoas seguidoras de tradições folclóricas.
Daí, tudo o que Orígenes fez somente foi colocar em termos mais cultos as ideias popularescas de Clemente. Essas ideias, rebuscadas e recitadas de modo elegante, acabaram se tornando 'pilares de fé' das igrejas católicas orientais, igreja copta e, mais tarde, da anglicana.
Nesse sentido o teólogo alemão Werner Jaeger (1888 - 1961) admite: “[Orígenes] introduziu na doutrina cristã todo o drama cósmico da alma, que ele adotou de Platão”, observou o teólogo, que reconheceu a origem pagã da doutrina e admitiu que "houve tentativas" de conciliar as duas ideias (a ressurreição com a imortalidade da alma) - Fonte: The Harvard Theological Review.
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- Enxertos Bíblicos no Paganismo -
Agostinho (354 - 430 DC), outro filósofo platônico, veio depois de Orígenes. Ele é hoje considerado por alguns na cristandade atual como "o maior pensador da antiguidade", e a Igreja Católica ocidental o considera "santo". Ele se "converteu" na idade de 33 anos.
Tudo o que Agostinho fez foi transportar a ideia (da imortalidade da alma) de Orígenes para a cultura ocidental, acrescentando-lhe alguns enxertos (interpretações de textos bíblicos) para se adequar melhor ao povo que a receberia.
Nesse sentido a The New Encyclopædia Britannica diz: “Sua mente foi o cadinho em que a religião do Novo Testamento foi mais completamente fundida com a tradição platônica de filosofia grega”, diz . E a New Catholic Encyclopedia admite: "a doutrina [da alma, por parte de Agostinho], que até os fins do século 12 se tornou padrão no Ocidente, deve muito . . . ao neoplatonismo”.
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- Mil Anos de Briga -
Mas, não foi de um dia para outro que as ideias filosóficas de Orígenes e Agostinho foram totalmente aceitas pelas Igrejas Católicas (ocidental e oriental). Já vimos que os filósofos gregos, os "pais da Igreja", não eram unidos. Entre eles havia competição por poder e, não raro, um destruía o outro, mesmo que pensasse a mesma coisa, mas apenas para ter seu nome nos registros ao invés do "oponente".
Foi somente no século 13, que as disputas tiveram um certo "acordo". Naquele Século, os ensinos de Aristóteles (384 - 322 AC), outro filósofo platonista grego, ficaram populares na Europa, na maior parte pela disponibilidade em latim das obras de eruditos árabes que haviam comentado extensamente os escritos de Aristóteles.
Um erudito católico, de nome Tomás de Aquino (1225 - 1274) leu aquelas obras e ficou profundamente impressionado com o pensamento aristotélico. Daí, baseado nos escritos de Aristóteles, Aquino começou a escrever seus próprios conceitos. Por causa dos escritos de Aquino, os conceitos de Aristóteles, que eram mais práticos e "modernos", acabaram por exercer maior influência sobre o ensino da Igreja do que os de Platão. Esta tendência, porém, não afetou o "antigo" ensino da imortalidade da alma.
Mas o que pensava Aristóteles, em sentido religioso?
Aristóteles ensinava que a alma estava "inseparavelmente ligada ao corpo e não continuava a ter existência individual após a morte", e que, "se existia algo eterno no homem, era o intelecto abstrato, impessoal". Esta maneira de encarar a alma não estava em harmonia com a crença da Igreja, de que as almas pessoais sobrevivem à morte. Por isso, Aquino modificou o conceito de Aristóteles sobre a alma, afirmando que "a imortalidade da alma pode ser provada pela razão".
De qualquer modo, fosse qual fosse a maneira de encarar a "alma", a crença da Igreja nela continuou intacta. As ideias de Tomás de Aquino mudaram um pouco o pensamento da Igreja e chegou a convencer a maioria dos outros filósofos, mas apenas por uns 100 anos.
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- O "Retrocesso" ao Platonismo -
Nos séculos 14 e 15, no início da Renascença, no entanto, reavivou-se o interesse em Platão. A famosa família Médici, na Itália, até mesmo ajudou a fundar uma academia em Florença, para promover o estudo da filosofia platônica, nos moldes de como era antes. Por causa disso, durante os séculos 16 e 17, o interesse em Aristóteles diminuiu.
Trouxe esse retrocesso algum avanço para a Igreja? Não. Trouxe ainda mais disputas e divisões. Todavia, a crença na imortalidade da alma, nos moldes do antigo platonismo, é a que perdura até hoje na Igreja.
Paralela à discussão sobre a alma, a igreja, como um todo, a partir do Século 10 já estava totalmente corrupta do ponto de vista político, moral e social. Escorada em governos mundanos, uma sucessão de papas violentos emitiram ordens ditatoriais quanto à fé das pessoas, tentando proibir até o pensamento contrário às diretrizes da Igreja. Isso acabou levando a instituição à mortífira Inquisição, que produziu, em quase 600 anos, milhões de mortos, por questões de fé.
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- Um Desejo de Mudança -
Como reação à Igreja, houve a Reforma no século 16. Os "reformadores", chamados pela Igreja de "protestantes", Lutero e Calvino entre eles, eram sacerdotes católicos que não concordavam com algumas das políticas da Igreja. Em revolta, montaram seus próprios sistemas religiosos.
Dizendo que "retornariam à adoração verdadeira proposta na Bíblia", contudo mantiveram praticamente tudo o que a antiga Igreja possuía, incluindo a crença antibíblica a respeito da alma imortal. Em alguns casos, apenas mudaram os detalhes. Por exemplo, embora os Reformadores protestantes se opusessem ao ensino do purgatório, aceitaram a ideia de punição ou recompensa eternas. Qual a diferença disso dentro do paganismo? Nenhuma?
As igrejas "reformadas", ou "evangélicas" de hoje, nada mais são do que subdivisões da Igreja Católica, com praticamente os mesmos pilares da fé pagã da igreja da qual saíram.
E um desses "pilares" e a crença pagã num Deus trino (a combinação de 3 deuses num só).

E será sobre a Trindade que falaremos na próxima parte

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 12

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 12

Busto de Platão, filósofo grego. Sem saber, os católicos de hoje, acreditam numa alma imortal, que "vai" para algum lugar depois morte, devido não à Bíblia, mas a este filósofo. Platão também era "dualista", ou seja: ele defendia duas respostas diferentes para a mesma questão, mesmo que estas fossem conflitantes. Foi também o precursor do "discurso dialético", no qual, não é "o que" se diz que vale, mas "como" se diz. Os apóstolos já haviam rejeitado os ensinos filosóficos de pessoas como Platão. Mas a Igreja Católica se encantou com ele. "Santo" Agostinho, por exemplo, foi um dos muitos influenciados por Platão.

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- Entendimento Errado -
Por que é importante sabermos sobre a crença católica numa alma imortal que sobrevive à morte do corpo físico? Porque ela é o pilar de praticamente todas as crenças ditas "cristãs", católicas e "evangélicas".
Por exemplo, sem essa crença não haveria como acreditar nos muitos "santos" criados pela igreja a partir dos mortos, que, supostamente, já estão no céu, não para desfrutar da alegada "merecida paz", mas para ficarem "intercedendo por nós", junto a Deus. Também, sem essa crença, não haveria a crença na "virgem Maria", também no céu na posição de "mãe do Deus".
Já vimos que a crença na alma imortal não é bíblica. Não fazia parte das crenças judaicas e nem dos apóstolos. Ao contrário, a crença na "alma imortal" sempre fez parte das religiões inimigas do judaísmo e do cristianismo. O que veremos nesta parte é o que a Bíblia fala, exatamente sobre "alma", o que ela realmente é.
Vimos também, na parte anterior, que as conotações que a palavra portuguesa “alma” transmite à mente da maioria das pessoas não estão de acordo com o significado original das palavras hebraica e grega usadas na Bíblia.
Este fato tem obtido continuamente um reconhecimento mais amplo. Lá em 1897, no Journal of Biblical Literature (Revista de Literatura Bíblica; Vol. XVI, p. 30), a professora C. A. Briggs, em resultado de pormenorizada análise do uso de né·fesh, comentou: “Alma (soul), no seu uso em inglês, no tempo atual, transmite usualmente um significado muito diferente de נפש [né·fesh] em hebraico, e é fácil que o leitor incauto a interprete erroneamente.”
Ou seja: uma pessoa comum, nos dias de hoje, ao ouvir falar a palavra "alma", por causa da influência religiosa, sempre tem a ideia de que trata-se de um "ser espiritual".
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- Reconhecido Como ensino Pagão -
Mesmo lá atrás, na época de Cristo, os judeus já estavam influenciados pelo helenismo pagão. Os Saduceus, por exemplo, por causa da crença na imortalidade da alma, não acreditavam na ressurreição, mesmo sendo este um ensino das Sagradas Escrituras que tanto prezavam. Mas isso tem mudado nos dias atuais
Recentemente, quando a Sociedade Publicadora Judaica da América lançou uma nova tradução da Torá, ou dos primeiros cinco livros da Bíblia, o editor-chefe, H. M. Orlinsky, da Faculdade União Hebraica, declarou que a palavra “alma” tinha sido virtualmente eliminada desta tradução porque “a palavra hebraica em questão aqui é ‘Nefesh”. Acrescentou: “Outros tradutores a têm interpretado como significando ‘alma’; o que é inteiramente inexato. A Bíblia não diz que temos uma alma. ‘Nefesh’ é a própria pessoa, sua necessidade de alimento, o próprio sangue nas suas veias, seu ser.” - The New York Times, 12 de outubro de 1962.
Essa dificuldade para se entender o que significa "alma", em seu sentido original reside em que os significados popularmente atribuídos à palavra portuguesa “alma” provêm primariamente, não das Escrituras Hebraicas ou das Escrituras Gregas Cristãs, mas da antiga filosofia grega. As pessoas de hoje, quer sejam católicas, quer "evangélicas", estão assimiladas com o pensamento religioso pagão imaginando ser pensamento cristão.
Por exemplo, compare a crença católica na alma imortal com o que Platão (428 - 347 AC), filósofo grego, diz: “A alma . . . se ela partir pura, não arrastando consigo nada do corpo, . . . parte para o que é como ela mesma, para o invisível, divino, imortal e sábio, e quando chega ali, ela é feliz, liberta do erro, e da tolice, e do medo . . . e de todos os outros males humanos, e . . . vive em verdade por todo o porvir com os deuses.” — Phaedo (Fédon), 80, D, E; 81, A.
Em contraste direto com este ensino grego pagão sobre a psy·khé (alma) como imaterial, intangível, invisível e imortal, as Escrituras Sagradas mostram que tanto psy·khé como né·fesh, conforme usadas com referência a criaturas terrestres, referem-se àquilo que é material, tangível, visível e mortal.
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- Reconhecendo o Próprio Erro -
É interessante que a própria literatura oficial católica reconhece o verdadeiro significado da palavra "alma" contido na Bíblia.
A New Catholic Encyclopedia (Nova Enciclopédia Católica) diz: “Nepes [né·fesh] é um termo de muito maior extensão do que nossa ‘alma’, significando vida (Êxodo 21.23; Deuteronômio 19.21) e suas várias manifestações vitais: respiração (Gênesis 35.18; Jó 41.13[21]), sangue [Gênesis 9.4; Deuteronômio 12.23; Salmos 140(141).8], desejo (2ª Samuel 3.21; Provérbios 23.2). A alma no A[ntigo] T[estamento] significa, não uma parte do homem, mas o homem inteiro — o homem como ser vivente. Similarmente, no N[ovo] T[estamento] significa vida humana: a vida duma entidade individual, consciente (Mateus 2.20; 6.25; Lucas 12.22-23; 14.26; João 10.11, 15, 17 e 13.37).” — 1967, Vol. XIII, p. 467.
Também a tradução católica romana, The New American Bible (A Nova Bíblia Americana), em seu “Glossário de Termos de Teologia Bíblica” (pp. 27, 28), diz: “No Novo Testamento, ‘salvar a alma’ (Marcos 8:35) não significa salvar alguma parte ‘espiritual’ do homem, em contraste com o seu ‘corpo’ (no sentido platônico), mas a inteira pessoa, com ênfase no fato de que a pessoa está viva, desejando, amando e querendo, etc., em adição a ser concreta e física.” — Edição publicada por P. J. Kenedy & Sons, Nova York, 1970.
Né·fesh evidentemente provém duma raiz que significa “respirar”, e, num sentido literal, né·fesh poderia ser traduzido como “alguém que respira”. O Lexicon in Veteris Testamenti Libros (Léxico dos Livros do Velho Testamento; Leiden, 1958, p. 627), de Koehler e Baumgartner, define, desta forma a palavra que traduz "alma": “a substância respiradora, que torna o homem e o animal seres viventes (Gênesis 1:20) , a alma (estritamente distinta da noção grega da alma), cuja sede é o sangue (Gênesis 9:4; Levítico 17:11 e Deuteronômio 12:23) . . . alma = ser vivente, indivíduo, pessoa.”
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- Ensino da Religião, Não da Cultura Pagã -
Mais interessante ainda é ver que o ensino de uma alma imortal, qual "substância espiritual" só fazia parte da religião pagã da Grécia antiga, mas não da cultura local.
Quanto à palavra grega psy·khé, os léxicos grego-inglês fornecem definições tais como “vida” e “o eu consciente ou personalidade como centro de emoções, desejos e afeições”, “um ser vivente”, e mostram que até mesmo em obras gregas não bíblicas o termo era usado “para animais”. Naturalmente, essas fontes, que lidam primariamente com os escritos gregos clássicos, incluem todos os significados que os filósofos gregos, pagãos, davam à palavra, inclusive o de “espírito que partiu”, “a alma imaterial e imortal”, “o espírito do universo” e “o princípio imaterial do movimento e da vida”. Era isso, evidentemente, porque alguns dos filósofos pagãos ensinavam que a alma emergia do corpo na morte. O termo psy·khé também era aplicado à “borboleta ou mariposa”, criaturas estas que passam por uma metamorfose, transformando-se de lagarta em criatura alada. — Greek-English Lexicon (Léxico Grego-Inglês) de Liddell e Scott, revisado por H. Jones em 1968, páginas 2026 e 2027. Artigo anteriormente publicado em New Greek and English Lexicon (Novo Léxico Grego e Inglês) de Donnegan, 1836, página 1404.
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- Enxertos Pagãos no Catolicismo -
Os antigos escritores gregos aplicavam psy·khé de vários modos, todos diferentes do seu sentido original contido na Bíblia E não eram coerentes. Suas filosofias pessoais e religiosas influenciavam o uso do termo.
Sobre Platão, a cuja filosofia podem ser atribuídas as ideias comuns sobre a palavra portuguesa “alma” e como os católicos a entendem hoje, declara-se: “Ao passo que às vezes ele fala de uma das [supostas] três partes da alma, a ‘inteligível’, como necessariamente imortal, ao passo que as outras duas partes são mortais, ele também fala como se houvesse duas almas em um só corpo, uma imortal e divina, e a outra mortal.” — The Evangelical Quarterly (Publicação Trimestral Evangélica), Londres, 1931, Volume III, página 121: “Ideias sobre a Teoria Tripartida da Natureza Humana”, de A. McCaig.
Assim, podemos dizer que o catolicismo não se aproveitou da cultura grega ou da filosofia como material de ensino secular, mas apenas de sua parte folclórica, uma parte que, em tese, não era aceita nem por boa parte da sociedade grega. A igreja pegou essas histórias, claramente fantasiosas e as enxertou, como se fossem verdades, em seu rol de crenças.
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- O Que a Bíblia Diz Sobre Alma? -
Em vista de tal incoerência dos escritos não bíblicos, pergunta-se: Como é que a Igreja Católica, dizendo-se "baseada na Bíblia", pode se enxertar com ensinos que até mesmo no paganismo, não encontrava uma base sólida?
Por isso é essencial deixar claro que as Escrituras falem por si, mostrando o que os escritores inspirados queriam dizer ao usarem o termo psy·khé, bem como né·fesh.

Né·fesh ocorre 754 vezes no texto massorético das Escrituras Hebraicas, ao passo que psy·khé, a equivalente em grego, aparece, sozinha, 102 vezes nas Escrituras Gregas Cristãs, perfazendo um total de 856 ocorrências. Esta frequência de ocorrências torna possível um conceito claro do sentido que tais termos transmitiam à mente dos inspirados escritores bíblicos e o sentido que seus escritos devem transmitir à nossa mente.
Um exame dos contextos em que essas palavras aparecem mostra que, embora o sentido destes termos seja amplo, com diferentes matizes de significado, entre os escritores bíblicos não havia nenhuma incoerência, confusão ou desarmonia quanto à natureza do homem, tal como a existente entre os filósofos gregos.
As ocorrências iniciais de né·fesh se encontram em Gênesis 1:20-23, e nos mostram que as "primeiras almas" a habitar a Terra foram animais. No quinto “dia” criativo, Deus disse: “‘Produzam as águas um enxame de almas [né·fesh] viventes e voem criaturas voadoras sobre a terra . . .’ E Deus passou a criar os grandes monstros marinhos e toda alma [né·fesh] vivente que se move, que as águas produziram em enxames segundo as suas espécies, e toda criatura voadora alada segundo a sua espécie.” Similarmente, no sexto “dia” criativo, né·fesh é aplicado ao "animal doméstico, e animal movente, e animal selvático da terra” como “almas viventes”. — Gênesis 1:24.

Depois da criação do homem, a instrução que Deus lhe deu usava de novo o termo né·fesh com respeito à criação animal, “tudo o que se move sobre a terra, em que há vida como alma [literalmente, em que há alma (né·fesh) vivente]” (Gênesis 1:30).
Outros exemplos de animais serem chamados de "almas" encontram-se em Gênesis 2:19; 9:10-16; Levítico 11:10, 46; 24:18; Números 31:28 e Ezequiel 47:9.
Notavelmente, as Escrituras Gregas Cristãs coincidem em aplicar a palavra grega psy·khé aos animais, como em Apocalipse 8:9 e 16:3, onde é usada para com as criaturas marinhas.
Assim, as Escrituras mostram claramente que né·fesh e psy·khé, as mesmas palavras que traduzem "alma" e "almas", são usadas também para denominar a criação dos animais.
Mas, e quanto ao homem? Seria diferente?
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- A Alma Humana -
Não é diferente para o ser humano. Precisamente a mesma frase hebraica usada para a criação animal, a saber, né·fesh hhai·yáh ("alma vivente"), é aplicada a Adão. Quando, depois de Deus ter formado o homem do pó do solo e soprado em suas narinas o fôlego da vida, “o homem veio a ser uma alma vivente”. (Gênesis 2:7).
Mesmo assim, o homem se distinguia dos animais. Mas esta distinção não se deve a ser o homem uma né·fesh (alma), visto que os animais também eram "almas viventes". Antes, o registro mostra que era diferente porque somente o homem foi criado “à imagem de Deus” (Gênesis 1:26, 27).
Ele foi criado com qualidades morais semelhantes às de Deus, com poder e sabedoria muito superiores aos animais. Por isso, ele podia ter em sujeição todas as formas inferiores de vida de criaturas (Gênesis 1:26, 28).
O organismo do homem era mais complexo, bem como mais versátil, do que o dos animais. (1ª Coríntios 15:39.). Semelhantemente, Adão possuía, mas perdeu, a perspectiva de vida eterna; isto nunca foi expresso com relação às criaturas inferiores ao homem. — Gênesis 2:15-17 e 3:22-24.
O homem, como "feito a imagem de Deus", podia ser, diferente dos outros animais, ser chamado de "filho de Deus" (1ª João 3:1). E, com esta prerrogativa, tinha a perspectiva de viver, como Seu Pai, eternamente, embora fosse da mesma consistência física que os animais, ou feito "do pó" como todos os animais também foram feitos.
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- Uma Fraca Interpretação -
É verdade que o relato afirma que ‘Deus passou a soprar nas narinas do homem o fôlego [uma forma de nesha·máh] de vida’, ao passo que não se declara isso no relato sobre a criação animal. Por isso alguns interpretam esse "assopro" como Deus colocando uma "alma" no corpo do homem. Mas esta interpretação não se sustenta diante do inteiro relato, muito mais pormenorizado da criação dos animais e do homem.
Gênesis 7:21-23, ao descrever a destruição, causada pelo Dilúvio, de “toda a carne” fora da arca, alista as criaturas animais junto com a humanidade, e diz: “Morreu tudo em que o fôlego [uma forma de nesha·máh] da força da vida estava ativo nas suas narinas, a saber, todos os que estavam em solo seco.”
Obviamente, o fôlego de vida das criaturas animais também proveio originalmente do "assopro" do Criador, quando os fez. Assim também o “espírito” (hebraico: rú·ahh e grego: pneú·ma) ou força de vida do homem não é distinto da força de vida dos animais, conforme demonstrado por Eclesiastes 3:19-21, que declara que “todos eles têm apenas um só espírito [weruʹach]”.
O relato de Gênesis mostra que uma alma vivente, seja ser humano ou animal, resulta da combinação do corpo físico com o fôlego de vida. A expressão “fôlego da força da vida [literalmente, fôlego do espírito, ou força ativa (rú·ahh), de vida]” (Gênesis 7:22) indica que é por respirar ar que é sustentada a força de vida ou “espírito” em todas as criaturas, o homem e os animais. Esta força de vida se encontra em cada célula do corpo da criatura.
De maneira que se o corpo do homem "tivesse uma alma", ao invés de "ser uma alma", a vida do corpo não dependeria dessa respiração do ar material para viver.
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- O Conceito Pagão no Catolicismo -
Há muitos outros exemplos na Bíblia que mostram a "alma" como sendo material, ligada a atividade humana e animal. Mas não há nenhuma que a ligue com algo espiritual (os anjos, por exemplo, não são chamados de "almas").
Por fim, a Bíblia ensina que a "alma" como ser vivo terrestre pode morrer. A expressão ‘alma falecida ou morta’ também aparece várias vezes, significando simplesmente “uma pessoa morta”. — Levítico 19:28; 21:1, 11; 22:4; Números 5:2; 6:6; Ageu 2:13 e Números 19:11, 13.
Assim, a "alma", ao contrário de ser imortal, é simplesmente um ser vivo, terrestre. Quando este ser vivo morre, é a "alma" que morreu.

Apesar disso, a Igreja Católica, endossou um ensino totalmente contrário ao que a Bíblia diz. E o fez de forma hipócrita já que reconhece ser um ensino pagão. Então, quando e como tal conceito de "alma imortal" se infiltrou na religião que diz ser baseada na Bíblia?

É o que veremos na próxima parte