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quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 19

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 19

Uma tortura feita durante a Inquisição. Será que Deus aprovaria atitudes como essa, para a "sua maior glória"? Obviamente que não. Mas foi nisso, nesse reinado de horror e injustiça descomunais, o que o que se transformou a igreja romana durante toda a Idade Medieval. Mais detalhes deste terrível período da História humana vermos nas próximas partes.



- Um Enxerto Desonesto -
A trindade, conforme vimos, foi se desenvolvendo através dos séculos. Vimos também que, após os apóstolos, ou mais de 300 anos depois deles, os "pais da Igreja", começaram a dizer que Jesus é Igual a Deus. mas não incluíram o Espírito Santo. Este, como "terceira pessoa igual a Deus e Jesus" só seria proposto no Concílio de Constantinopla, em 381. Assim, em algum momento, entre o Concílio de Nicéia (325) e o de Constantinopla, começou-se uma "procura" por um ser espiritual para ser colocado, como terceira "pessoa" do planejado deus trino católico, de inspiração pagã.
Embora os "pais da igreja" criassem um novo deus, que talvez tenha sido interpretado pelas palavras de Jesus que pedia para os apóstolos batizarem as pessoas "em nome do Pai, do filho e do espírito santo" (Mateus 28:19), houve desonestidade por parte dos modernos tradutores da Bíblia, que reconheceram que tal pedido de Jesus não explicava realmente a Trindade. Eles enxertaram palavras apócrifas no texto de 1ª João 5:7, colocando que "Deus, Jesus e Espírito Santo são um só".
No entanto, pesquisadores descobriram que estas palavras não se encontram em traduções bíblicas mais antigas. Assim, o professor universitário americano Bruce Manning Metzger (1914 - 2007), que lecionava grego e era tradutor bíblico diz em seu livro A Textual Commentary on the Greek New Testament (Comentário Textual sobre o Novo Testamento Grego): “Não há dúvida de que essas palavras são espúrias e não têm o direito de permanecer no Novo Testamento.
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- O Concílio de Constantinopla -
Se o espírito santo fosse uma pessoa, e ainda mais fazendo parte de Deus e Jesus, ele estaria, desde o início da Bíblia, nomeado e explicado. Seu papel na história humana, suas palavras e tudo a seu respeito seriam amplamente divulgados, como são divulgadas, na Bíblia inteira, as mesmas coisas com relação a Deus e Jesus.
No entanto, sempre que aparecem, na Bíblia, as palavras "espírito santo", elas se referem a qualidade de Deus. Deus é um espírito e ele é santo (sem pecados). Veja por exemplos: Isaías 63:10 (triste) e Isaías 63:11 (trabalhador). Nunca, na Bíblia, o espírito santo se refere a um ser espiritual personalizado.
Outro exemplo: Todos concordam que Jesus é filho de Deus. O próprio Deus disse isso (Mateus 17:5; Marcos 9:7 e Lucas 9:35), mas em Mateus 1:18,20 se diz que Maria engravidou do espírito santo. Se este espírito fosse uma pessoa, Jesus não seria filho de Deus, mas dessa outra pessoa.
Mesmo assim, no Concílio de Constantinopla (381), convocado, a exemplo do de Nicéia, por um imperador romano pagão, Teodósio 1 - o Grande (346 - 395), discutiu-se "a natureza de Deus". Julgou-se necessária esta discussão porque o Imperador Juliano (331 - 363) havia tentado restaurar a antiga religião politeísta romana, desfazendo temporariamente o catolicismo criado por Constantino em Nicéia.
Daquela vez, em Constantinopla, a coisa seria diferente. o catolicismo, agora definitivamente trinitário, voltaria a ser a religião oficial do império, mas as outras religiões, antes toleradas, seriam banidas. O catolicismo seria então, não mais incentivado para as pessoas, mas imposto pelo poder das espadas romanas, em todas as partes do império.
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- Poder Mundial -
Assim o Deus trindade, que ainda não estava totalmente "explicado" (e, de fato, é um "mistério" até os dias atuais) foi imposto aos povos conquistados. Depois daquele ato de Teodósio, a Igreja julgou-se "reino de Deus no mundo". Para isso, foram buscar, não na Bíblia, mas nas palavras de Agostinho (354 - 430): "O reino de Deus começou neste mundo com a instituição da Igreja Católica" - The New Encyclopædia Britannica, Macropédia, Volume 4, página 506. Se tivessem lido a Bíblia sobre o reino de Deus, teriam se deparado com o texto de João 15:19, no qual Jesus diz que seus discípulos "não fazem parte do mundo".
Foi a partir daquela época que a Igreja começou a se juntar com toda sorte de ações mundanas, incluindo as guerras. O historiador francês Paul Augustine Louis Rougier (1889 - 1982) disse: "Enquanto se difundia, o cristianismo passou por estranhas mudanças, a ponto de se tornar irreconhecível. . . . A primitiva igreja dos pobres, que vivia de caridade, tornou-se uma igreja triunfalista, que chegou a um acordo com as autoridades constituídas quando não conseguiu dominá-las.
Ou seja: A Igreja Católica da época do Concílio de Constantinopla era diferente da igreja Católica de 50 anos antes. Ela era "mais mundana". Quando o último imperador romano do Ocidente foi deposto por tribos germânicas, em 476, o Bispo de Roma Simplício (430 - 483), declarou ter direito a substituir o imperador e a Igreja Católica de substituir o império como um todo: A The New Encyclopædia Britannica (Nova Enciclopédia Britânica) registra: “Constituiu-se um novo poder: a Igreja Romana, a igreja do bispo de Roma. Esta igreja considerava-se sucessora do extinto Império Romano. Os papas de Roma . . . estenderam sua reivindicação secular do governo pela igreja além das fronteiras da igreja-estado e desenvolveram a chamada teoria das duas espadas, declarando que Cristo deu ao papa não somente o poder espiritual sobre a igreja, mas também poder secular sobre os reinos do mundo.”
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- O Reinado do Terror -
Essa nova condição da Igreja Católica, de uma instituição governamental, política e militar, ao estilo mundano, fez com que, a exemplo dos demais governos políticos, também se dividisse. Ainda no final do Século 5 ela se dividiu, dando origem as Igrejas Católicas da Armênia, da Síria e do Egito, que declararam não estar sujeitas ao bispo de Roma.
Durante os Séculos 11 e 12, surgiram muitos grupos dissidentes espalhados por todos os territórios, todos saídos da Igreja Católica, que resolveu radicalizar. Em novembro de 1184, no Sínodo (ou Concílio) de Verona, o Papa Lúcio 3 (1097 - 1185), em conluio com o Imperador do "Sacro" Império Romano Germânico, Frederico Barba-Roxa (1122 - 1190), publicou a Bula papal Ad Abolendam, que condenava como hereges e anátemas os seguidores do catarismo, arnoldismo, josephinismo, patarenesismo, humiliatismo, bem como os valdenses e os judeus. Estes deveriam ser "banidos da igreja e castigados pelas autoridades seculares", autoridades estas que, ironicamente, eram exercidas por clérigos locais.
A Inquisição, chamada de "santa" pela Igreja, então, começou com as Cruzadas. Os cavaleiros cruzados, que muitos hoje veem em filmes como heróis, eram, na verdade, caçadores de pessoas, inocentes ou não, para serem castigadas pelo simples motivo de pensarem diferente do que a Igreja Pregava.
Sim, o "reino de Deus na Terra", segundo Agostinho, a "igreja do deus trino", agora perseguia e castigava pessoas. Mas a coisa iria piorar e muito. Pelos próximos quase 6 séculos, a Inquisição iria ficar mais brutal, perseguindo toda e qualquer religião diferente da católica, com destaque para a Inquisição Espanhola, cujos efeitos duram até hoje, ocasionando a morte de milhões de pessoas (homens, mulheres e crianças), inocentes, indo acabar apenas 1834.
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- Desunião Cada Vez Mais -
Produziu a Inquisição a esperada união "para a maior glória de Deus", como se escrevia nos seus processos de julgamento? Não. Pelo contrário, a Igreja produziu cismas ainda maiores que antes. No Século 16, por exemplo, surgiram os reformadores. Lutero, Calvino, etc., todos eles antes padres católicos. Grandes religiões, a ponto da Igreja Católica não poder perseguir, foram formadas por eles. Religiões estas que duram até hoje.
Mas, e hoje? Como é a Igreja Católica nos dias atuais? O que ela prega e qual é o resultado de sua presença, cada vez menor, nos países ocidentais?
É o que vamos ver na próxima parte.
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Continua

sábado, 10 de agosto de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 18

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 18

 Imagem: Imagem da Trindade Egípcia: Hórus, Ísis e Osíris. Esta antiga Trindade, da primeira grande nação do mundo, acabou incentivando o aparecimento de outras do mesmo tipo: Na Grécia era composta pelos "deuses" Zeus, Maia e Hermes e na antiga Roma era Júpiter, Juno e Minerva. No tempo depois dos apóstolos, dos pais da Igreja, criou-se, com base nessas crenças do paganismo, a Trindade Católica, formada por Deus, Jesus e o Espírito Santo.
 

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- O Perigo da Filosofia -
Se os bispos da antiga Igreja eram filósofos é até natural que o que os influenciou a montarem doutrinas estranhas ao cristianismo foi a filosofia. A natureza da mente de um filósofo é a de não aceitar nada como concluído. Para eles, sempre vai estar faltando algo ainda por ser revelado, em todas as coisas. A própria palavra "Filosofia" (em grego: "Amor à Sabedoria") indica que seus adeptos tendem a dissecar e teorizar tudo na tentativa de aprender o sentido da vida humana
Por este motivo, as palavras simples da Bíblia, como amar e obedecer a Deus, não lhe são suficientes. Para os filósofos, a Bíblia é apenas um detalhe no mar de discussões que tecem a respeito de tudo.
É interessante que há avisos na Bíblia sobre o perigo que a Filosofia representa para o cristianismo. Em Atos 17:18 lemos que filósofos epicureus e estoicos "discutiram" com Paulo, chamando-o de "tagarela" e rejeitando as palavras de Jesus sobre a ressurreição. E em Colossenses 2:8, Paulo dá o claro aviso para os cristãos tomarem cuidado com os que "escravizam" por meio de filosofia, que é um "vão engano de tradições e coisas elementares do mundo e não em Cristo".
Mas há mais.
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- A Influência do Paganismo Egípcio -
Por todo o mundo antigo, remontando ao tempo da Babilônia, a adoração de deuses pagãos agrupados em três, ou tríades, era comum. Estes tipos de deuses eram também prevalecentes no Egito, na Grécia, e em Roma nos séculos antes, durante e depois de Cristo. Assim os filósofos que, após a morte dos apóstolos, formaram a Igreja Católica, estavam também influenciados por este tipo de adoração. Por isso tais crenças pagãs passaram a invadir o cristianismo.
O historiador Will Durant (1885 - 1981), historiador e filósofo americano, observou: “O cristianismo não destruiu o paganismo; ele o adotou. . . . Do Egito vieram as ideias de uma trindade divina.” E no livro Egyptian Religion (Religião Egípcia), Siegfried Morenz (1914 - 1970), egiptólogo alemão diz: “A trindade era uma das principais preocupações dos teólogos egípcios . . . Três deuses são combinados e tratados como se fossem um único ser, a quem se dirige no singular. Deste modo, a força espiritual da religião egípcia mostra ter um vínculo direto com a teologia cristã.”
Assim, em Alexandria, no Egito, os eclesiásticos da última parte do terceiro e o início do quarto século, tais como Atanásio, refletiram essa influência ao formularem ideias que levaram à Trindade católica. A própria influência deles se alastrou, de modo que Morenz considera “a teologia alexandrina como o intermediário entre a herança religiosa egípcia e o cristianismo”.
No prefácio do livro History of Christianity (História do Cristianismo), de Edward Gibbon (1737 - 1794), historiador inglês que tinha "simpatia" pela Igreja Católica, lemos: “Se o paganismo foi conquistado pelo cristianismo, é igualmente verdade que o cristianismo foi corrompido pelo paganismo. O puro deísmo dos primeiros cristãos . . . foi mudado, pela Igreja de Roma, para o incompreensível dogma da trindade. Muitos dos dogmas pagãos, inventados pelos egípcios e idealizados por Platão, foram retidos como sendo dignos de crença.”
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- A "Suprema e Derradeira Realidade" -
O Dicionário do Conhecimento Religioso menciona que muitos dizem que a Trindade “é a corrupção emprestada de religiões pagãs e enxertada na fé cristã”. E O Paganismo no Nosso Cristianismo declara: “A origem da Trindade é inteiramente pagã.”
É por isso que na Enciclopédia de Religião e Ética, James Hastings (1852 - 1922), ministro da Igreja Livre Unida Escocesa e estudante da Bíblia, escreveu: “Na religião indiana, p. ex., temos o grupo trinitário de Brama, Xiva e Vixenu; e na religião egípcia, com o grupo trinitário de Osíris, Ísis e Hórus . . . Tampouco é apenas em religiões históricas que encontramos Deus sendo considerado como uma Trindade. Vem-nos à mente em especial o conceito neoplatônico da Suprema e Derradeira Realidade”, que é “representada triadicamente”. 
Tais palavras vindas de um religioso de uma igreja presbiteriana, que aceita a trindade ao estilo do catolicismo é, no mínimo curioso.
Daí surge a pergunta: O que tem a haver com a Trindade o filósofo grego Platão?
Platão, segundo se pensa, viveu de 428 a 347 antes de Cristo. Embora não ensinasse a Trindade na sua forma atual, as suas filosofias pavimentaram o caminho para ela. Mais tarde, movimentos filosóficos que incluíam crenças triádicas floresceram, e estas eram influenciadas pelas ideias de Platão a respeito de Deus e da natureza.
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- Desenvolvimento Lento e Estranho -
 Que o paganismo platônico da doutrina da Trindade é reconhecido até pelos religiosos trinitaristas, pode ser atestado pelas obras que escrevem. Veja exemplos abaixo:
A obra francesa Nouveau Dictionnaire Universel (Novo Dicionário Universal) diz sobre a influência de Platão na cristandade trinitarista: “A trindade platônica, que em si é meramente um rearranjo de trindades mais antigas, que remontam aos povos anteriores, parece ser a trindade filosófica racional de atributos que deram origem às três hipóstases ou pessoas divinas ensinadas pelas igrejas cristãs. . . . O conceito deste filósofo grego sobre a trindade divina . . . pode ser encontrada em todas as religiões pagãs antigas.” A obra é de Maurice de la Châtre (1814 - 1900), lexicográfico francês que teve sua obra A História dos Papas destruída a mando da Igreja.
A The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious Knowledge (Nova Enciclopédia de Conhecimento Religioso, de Schaff-Herzog) mostra a influência dessa filosofia grega: “As doutrinas do Logos e da Trindade receberam a sua forma de Pais Gregos, que . . . foram muito influenciados, direta ou indiretamente, pela filosofia platônica . . . Que dessa fonte se infiltraram erros e corrupções na Igreja não pode ser negado.” A obra é de Philip Schaff (1819 - 1893), um historiador suíço e teólogo protestante
A obra A Igreja dos Primeiros Três Séculos diz: “A doutrina da Trindade foi formada de maneira gradual e comparativamente tardia; . . . teve a sua origem numa fonte inteiramente estranha à das Escrituras Judaicas e Cristãs; . . . cresceu, e foi enxertada no cristianismo, pelas mãos de Pais platônicos.
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- "O Homem Que É Contra a Lei" -
Por volta do fim do terceiro século EC, o “cristianismo” e as novas filosofias platônicas tornaram-se inseparavelmente unidas. Como declara Adolf von Harnack (1851 - 1930), professor universitário e teólogo luterano alemão, em Outlines of the History of Dogma (Linhas Gerais da História de Dogmas), a doutrina da igreja ficou “firmemente enraizada no solo do helenismo [pensamento grego pagão]. Deste modo tornou-se um mistério para a grande maioria dos cristãos.”
A igreja afirmava que as suas novas doutrinas se baseavam na Bíblia. Mas Harnack diz: “Na realidade legitimava em seu meio a especulação helênica, os conceitos e costumes supersticiosos de cultos misteriosos pagãos.
No livro A Statement of Reasons (Declaração de Razões), Andrews Norton (1786 - 1853), teólogo unitarista americano, considerado "Papa Unitarista", diz sobre a Trindade: “Podemos traçar a história dessa doutrina e descobrir a sua origem, não na revelação cristã, mas sim na filosofia platônica . . . A Trindade não é uma doutrina de Cristo e de seus Apóstolos, mas sim uma ficção da escola de posteriores platonistas.”
Assim, no quarto século EC, a apostasia predita por Jesus e por seus apóstolos veio a florescer plenamente. E o desenvolvimento da Trindade era apenas uma das evidência disso, pois também começaram a abraçar outras ideias pagãs, como o inferno de fogo, a imortalidade da alma e a idolatria. Espiritualmente falando, a cristandade havia entrado na sua predita era obscura, dominada por uma crescente classe clerical, ou, segundo as palavras do apóstolo Paulo, “homem que é contra a lei”. — 2ª Tessalonicenses 2:3, 7.
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- Pergunta Adicional -
Mas, se a Igreja, ao criar a Trindade, permaneceu muito tempo dizendo apenas que Jesus e Deus é o mesmo, de onde surgiu o "Espírito Santo" como pessoa? É o que vamos considerar na próxima parte.
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sábado, 3 de agosto de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - parte 17

 Igreja Católica - Como Se Formou? - parte 17

 
Uma representação de "Deus", com três cabeças. Isso lhe parece lógico. Teria o homem sido "formado a semelhança de Deus", se Ele fosse realmente três em um?
 
 
- O Concílio de Constantino -
Se a doutrina da trindade não é um ensinamento bíblico e nem dos primeiros "pais da igreja", como e quando ela apareceu como um dos pilares de fé da Igreja Católica e das demais igrejas da cristandade?
Alguns teólogos acham que ela foi formulada no Concílio de Nicéia, em 325. Mas isso não é totalmente verdade. Naquele Concílio foi estabelecido que Jesus é da mesma "substância" que Deus e só. Não se mencionou no Concílio o "espírito santo" como pessoa e nem a palavra "trindade". Essas coisas se desenvolveram mais tarde.
Por muitos anos havia muita oposição, por motivos bíblicos, contra a emergente ideia dos filósofos de que Jesus era Deus. Os oposicionistas, obviamente pendiam para o ponto de vista bíblico enquanto que os que defendiam a nova ideia se baseavam em conceitos filosóficos pagãos.  Para resolver a disputa, o imperador romano Constantino, o Grande (272 - 337) convocou todos os bispos a Nicéia. Compareceram menos de 300, uma fração irrisória do total.
Pode-se depreender do fato do Concílio ter sido convocado por um imperador romano pagão, que aqueles que compareceram eram os mais afastados do verdadeiro cristianismo, os que tinham mais cobiça por poder e menos escrúpulos.
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- O Paganismo no Comando -
Constantino não era cristão, não entendia nada de cristianismo. Supostamente, mais tarde na vida ele se converteu, mas só foi batizado quando estava para morrer. Sobre ele, Henry Chadwick (1920 - 2008), teólogo britâncio, diz em The Early Church (A Igreja Primitiva): “Constantino, como seu pai, adorava o Sol Invicto; . . . a sua conversão não deve ser interpretada como tendo sido uma íntima experiência de graça . . . Era uma questão militar. A sua compreensão da doutrina cristã nunca foi muito clara, mas ele estava certo de que a vitória nas batalhas dependia da dádiva do Deus dos cristãos.”
Que papel desempenhou esse imperador não batizado no Concílio de Nicéia? A Enciclopédia Britânica diz: “O próprio Constantino presidiu, ativamente orientando as discussões, e pessoalmente propôs . . . o preceito crucial, que expressa a relação de Cristo para com Deus no credo instituído pelo concílio, ‘de uma só substância com o Pai’ . . . Intimidados diante do imperador, os bispos, com apenas duas exceções, assinaram o Credo de Nicéia, muitos dos quais bem contra à sua inclinação pessoal.”
Assim, o papel de Constantino foi decisivo. Depois de dois meses de furiosos debates religiosos, esse político pagão interveio e decidiu em favor dos que diziam que Jesus era Deus. Mas, por quê? Certamente não por causa de alguma convicção bíblica. “Constantino basicamente não tinha entendimento algum das perguntas que se faziam em teologia grega”, diz o livro Breve História da Doutrina Cristã. Mas, o que ele deveras entendia era que a divisão religiosa representava uma ameaça ao seu império, e o seu desejo era solidificar o seu domínio.
De maneira que nenhum dos bispos em Nicéia promoveu uma Trindade, mas sim uma "dualidade". Eles decidiram apenas a natureza de Jesus, enquanto Constantino imaginava ter conseguido a paz.
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- O Concílio de Constantinopla -
O Concílio de Nicéia promoveu a "paz" que Constantino esperava? Não. E nem tampouco se promoveu a nova ideia de que Cristo era Deus, ou que era igual a Deus.
Os debates sobre o assunto continuaram por décadas e os que criam que Jesus não era igual a Deus até mesmo recuperaram temporariamente o favor. Mais de 50 anos depois, porém, o Imperador Teodósio (347 - 395), outro pagão, decidiu contra eles.
Teodósio estabeleceu o credo do Concílio de Nicéia como padrão para o seu domínio e convocou o Concílio de Constantinopla, em 381 EC, para esclarecer os preceitos.
Esse concílio concordou em colocar o espírito santo, considerado agora como uma "pessoa", no mesmo nível que Deus e Cristo, algo que nem mesmo os bispos corruptos de Nicéia imaginariam. Pela primeira vez, a Trindade da cristandade passou a ser enfocada.
Todavia, mesmo após o Concílio de Constantinopla, a Trindade não se tornou um credo amplamente aceito. Muitos, por questões de consciência e lógica (a Trindade, além de ser um ensino pagão, não tem lógica) se lhe opuseram. Mas, por causa  de ter sido uma decisão imperial, aqueles que eram contra sofreram violenta perseguição.
Foi apenas em séculos posteriores que a Trindade foi formulada em credos específicos. A Enciclopédia Americana diz: “O pleno desenvolvimento do trinitarismo ocorreu no Ocidente, no escolasticismo da Idade Média, entre os Séculos 9 e 16, quando se adotou uma explicação em termos de filosofia e psicologia.”
A adoção dessa crença, totalmente antibíblica não trouxe paz, conhecimento ou harmonia na Igreja. Pelo contrário, quanto mais o tempo passava, mais desunida e violenta se tornava
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- A Mentira do Credo Atanasiano -
A doutrina da trindade, dizem os signatários da Igreja, "foi mais plenamente definida no Credo Atanasiano". Atanásio de Alexandria (296 - 373) foi um clérigo que apoiou Constantino em Nicéia. O credo que leva seu nome declara: “Adoramos um só Deus em Trindade . . . O Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus; e, no entanto, não são três deuses, mas um só Deus.” Assim, tem-se a impressão que a trindade foi definida no Concílio de Niceia.
Mas, bem informados peritos concordam que não foi Atanásio quem elaborou esse credo. A Nova Enciclopédia Britânica comenta: “O credo era desconhecido à Igreja Oriental até o século 12. Desde o século 17, os peritos em geral têm concordado que o Credo Atanasiano não foi escrito por Atanásio, mas que, provavelmente, foi elaborado no sul da França durante o quinto século. . . . O credo parece ter tido influência primariamente no sul da França e na Espanha no 6.º e 7.º séculos. Foi usado na liturgia da igreja na Alemanha no 9.º século e um pouco mais tarde em Roma.”
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- A Política na Igreja -
Portanto, levou séculos desde o tempo de Cristo para que a Trindade viesse a ser plenamente aceita na cristandade. E, em todo esse processo, o que foi que guiou as decisões? Foi a Palavra de Deus, ou foram considerações clericais e políticas?
Em Origem e Evolução da Religião, E. W. Hopkins responde: “A definição ortodoxa final da trindade era em grande parte uma questão de política eclesial."
Na próxima parte vamos considerar sobre o que influenciou os clérigos da Igreja a montarem essa doutrina
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terça-feira, 30 de julho de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 16

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte  16

Representação de Tertuliano, considerado o "pai da trindade". Curiosamente, a doutrina que ele propôs não era a que ensinava. Este filósofo do norte da África dizia coisas para agradar a todos, sem se importar se eram antagônicos. Suas falas eram contraditórias. Era capaz de responder "sim" e "não", para mesma pergunta, dependendo de quem a fizesse. Assim, sua proposta da trindade foi elaborada, não porque pensava daquele modo, mas para agradar os que queriam pensar daquele modo.

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- Os Falsos Cristãos -
A Igreja Católica, num primeiro momento, diz que a trindade é bíblica. Mas, confrontados com sua própria literatura oficial que diz que "não é", conforme vimos na parte anterior, passa a dizer que ela foi ensinada pelos "sucessores dos apóstolos", numa espécie de "revelação posterior".
Dizer uma coisa dessa significa por por terra tudo o que foi dito e escrito antes pelos profetas, por Jesus e pelos apóstolos. Essa "revelação posterior" é o mesmo que dizer que Deus disse para esquecer tudo o que ele disse de si mesmo e abraçar o paganismo.
E, será mesmo que os primeiros pais da Igreja, chamados de "sucessores dos apóstolos" ensinavam a trindade? Como já vimos, nem a literatura oficial católica apoia tal ideia. Mas vamos ver o que os próprios primeiros "pais" disseram.
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- Os Primeiros Pais da Igreja -
Quem foram eles? Foram os primeiros filósofos que surgiram logo no início do Século 2, chamados de "pais pré nicenos" (ou de "antes de Niceia").

Mas, já vimos que não poderia haver uma "sucessão apostólica". Então aqueles filósofos eram simplesmente pessoas que, de fora do grupo dos verdadeiros cristãos, começaram a tecer ideias próprias sobre o cristianismo. Eles acabaram formando "grupos cristãos" de seguidores. Seriam esses grupos verdadeiramente cristãos?
Não. Pois não seguiam os ensinamentos de Cristo, dos apóstolos ou das Escrituras. Seguiam o que seus filósofos lhes diziam. É óbvio que eles estavam bem distantes dos ensinamentos verdadeiros. Seus líderes deturpavam os ensinos verdadeiros misturando com filosofia grega e ideias próprias.
Mas, exatamente o que esses primeiros "líderes" religiosos, que se dizendo cristãos, ensinavam a respeito da trindade?
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1 - Justino, o Mártir (100 - 165) -
Foi um filósofo das vertentes filosóficas estoica e platônica, nascido na Flávia Nápolis, um território onde hoje é a Síria. Justino dizia que "Jesus havia sido profetizado", não pelos profetas bíblicos, sobre os quais nada sabia, mas "pelos antigos filósofos gregos". Ele gostava de se expressar em termos gregos para pessoas de língua latina, demonstrando assim eloquência, inteligência e sofisticação. Dizia que "Jesus era o Logos" (ou "a palavra") que expressou uma "verdade obscura".
Justino não ensinava que Jesus era filho de Deus, conforme diz a Bíblia, mas que era "um anjo criado". Mesmo assim, examinando sumariamente três dos evangelhos (ele não examinou o evangelho de João), chegou a conclusão que Jesus “não é o mesmo que Deus, que fez todas as coisas”. Jesus "era inferior a Deus e nunca fez nada exceto o que o Criador . . . queria que ele fizesse e dissesse”.
Assim, Justino não ensinou sobre um deus trino.
Um detalhe interessante a respeito de Justino é que, embora seja ela reverenciado como "santo" pela igreja Católica, é reconhecido, nos meios acadêmicos católicos, que ele desconhecia a Bíblia. Ireneu de Lyon, outro convertido grego que se destacou entre os "pais da igreja", se opôs fortemente contra Justino por causa de seu desconhecimento das Escrituras. É provável que Ireneu tenha dito: "Como ele pode falar delas (das Escrituras) se não as conhecia?"
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2 - Ireneu de Lyon (130 - 202)
Não se sabe bem onde Ireneu nasceu, sendo o lugar mais citado Esmirna, a atual Turquia. Não se sabe ao certo também se era filósofo de formação, embora simpatizasse e advogasse em prol das filosofias que norteavam a apostasia de sua época.
A vida de Ireneu se caracterizou, principalmente, pela sua briga contra o movimento gnóstico. O gnosticismo pregava uma interpretação filosófica dos livros apócrifos da Bíblia, que tentava achar um "meio termo" entre o platonismo e os "mistérios do cristianismo greco/romano". Ireneu considerava o gnosticismo como "séria ameaça" ao cristianismo.
Contra esse movimento ele escreveu, no ano de 180, a obra Adversus haereses ("Contra Heresias"), repleta de termos ofensivos e raivosos, sugerindo "autoridade" (autoridade no sentido policial) ao "sistema episcopal" (autoridade política de bispos), às "Escrituras sem os apócrifos" e a "tradição filosófica/cristã". Nessa linha de raciocínio, seus seguidores acabaram sendo perseguidores dos verdadeiros cristãos, então espalhados pelo Império que mantinham sua fé apenas por consciência.
A respeito de Jesus e Deus, Ireneu também não chamou Jesus de filho de Deus, mas de "pré-humano". Para Ireneu, Jesus teve uma existência diferente de Deus e "era inferior a este". Ele mostrou que Jesus não é igual ao “Um só verdadeiro e único Deus”, que “é supremo sobre todos, à parte de quem não há outro”.
Nesse sentido, Ireneu, hoje considerado "santo" por quatro denominações religiosas (Católica, Ortodoxa, Anglicana e Luterana) também não ensinou sobre uma "unicidade de Cristo e Deus" e nem sobre a trindade.
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3 - Clemente de Alexandria - (150 - 215) -
Apologista da "filosofia como explicação para as Escrituras" nasceu em Atenas, na antiga Grécia. Também, como Ireneu, se destacou por ser contra o gnosticismo, mas não nos mesmos termos violentos de Ireneu. Concentrou-se mais no criador do movimento gnóstico, o filósofo Valentin (? - 160), também muito influente na apostasia.
Clemente hoje é venerado pela Igreja Católica, pela Igreja Copta e por certas correntes do anglicanismo.
Clemente chamou Jesus de "filho de Deus". o próprio Deus, era “o incriado e imperecível Deus e único Deus verdadeiro”. Já o Filho “vem logo depois do único Pai onipotente”, mas "não é igual a ele". De maneira que ele também não ensinou nada que pudesse dar suporte ao ensino da trindade.
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4 - Tertuliano - (160 - 220)
Nasceu e morreu em Cartago, na África, sob domínio de Roma. Não se sabe ao certo sobre sua formação e pouco se sabe sobre sua vida, mas pela sua conversão ao "cristianismo" de sua época, deduz-se que simpatizava com a filosofia... mas só quando esta não conflitava com suas próprias ideias.
De modo geral, criticava a filosofia, que definia como "ensinamentos de homens e demônios". Uma vez ele disse: "Rejeito as tentativas de produzir um cristianismo corrupto de composição estoica, platônica e dialética".
Tertuliano era contraditório. Ao mesmo tempo em que defendia uma ideia, atacava-a. No final ninguém entendia bem qual o lado em que ele se posicionava. Por exemplo, no que toca a trindade, ele foi o primeiro que, utilizando-se de filosofia, a teorizou. Nesse sentido a obra The Theology of Tertulian (A Teologia de Tertuliano) diz que sua teoria (da trindade) era "uma mistura curiosa de ideias e termos jurídicos e filosóficos".
Ao mesmo tempo, Tertuliano contradizia sua própria teoria, dizendo que: “O Pai é diferente do Filho (outra pessoa), uma vez que é maior; assim como quem gera é diferente de quem é gerado; quem envia, diferente de quem é enviado.” Ele disse também: “Houve tempo em que o Filho não existia. . . . Antes de todas as coisas virem a existir, Deus estava sozinho.”
Apesar dessa contradição, foi, não o ensinamento que ministrava, mas sua teoria sobre a trindade, feita apenas para agradar as pessoas que queriam ouvir aquilo, a apresentada, mais tarde, no Concílio de Niceia, em 325, que serviu de base para o desenvolvimento da moderna Trindade que hoje conhecemos.
Tertuliano, apesar de ser considerado o "pai do trinitarismo" e um "pai da igreja", não é considerado "santo".
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5 - Hipólito de Roma (160 - 235) -
Não se sabe se era de Roma. A História, sem comprovação, diz que foi discípulo de Policarpo de Esmirna (69 - 155) que, segundo a folclórica tradição católica, foi discípulo do apóstolo João.
Hipólito se destacou por ser contra os principais bispos de sua época (mais tarde colocados entre os "papas" pela Igreja). Por isso ele é chamado, hoje, de "primeiro anti-papa", a ponto de se separar dos "cristãos. Assim para ser considerado o "santo" que é hoje, a Igreja teve que criar a história de que Hipólito, no final da vida "se conciliou com a igreja". O que ensinava Hipólito sobre Deus?
Hipólito ensinava que Deus é “o Deus uno, o primeiro e o Único, o Fazedor e Senhor de tudo”, que “nada tinha de coevo (contemporâneo) com ele . . . Mas ele era Um Só, sozinho; que, querendo-o, trouxe à existência o que não existia antes”. Para Hipólito, Jesus foi criado, não sendo portanto igual ao seu Pai.
Nesse sentido o considerado pela igreja como "o mais importante teólogo do Século 3", também não ensinava a trindade.
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6 - Orígenes de Alexandria (185 - 253)
Nasceu em Alexandria, no Egito e morreu em Cesareia na atual Turquia. Filósofo platônico (mais tarde reclassificado como "neoplatônico") Foi um eminente líder ("pai da igreja") de sua época, mas não produziu nada que "mexesse no caldeirão" da apostasia a qual pertencia.
Em 231 ele 'se castrou' por julgar estar "obedecendo a palavra de Deus". Quer seja por este motivo ou outro, começou a ficar famoso. Isso fez com que o bispo de Alexandria da época, Demétrio (? - 232) ficasse com ciúmes. Orígenes então, para não ser perseguido, fugiu para a Palestina e foi considerado como "herege" por Demétrio. Mas ele continuou sendo considerado importante para outros "pais da Igreja".
Hoje só não é considerado "santo" pela igreja por conta da crítica que Demétrio lhe fez.
No que toca ao ensino da trindade, Orígenes ensinava que “o Pai e o Filho são duas substâncias . . . duas coisas quanto à sua essência”, mas que “comparado com o Pai, [o Filho] é uma luz pequenina”. Ou seja: "diferentes".
Assim, o hoje considerado "maior erudito da igreja antiga" (sem ser "santo"), numa época em que a doutrina da unicidade de Cristo e Deus estava começando a ser proposta, não a endossou e não ensinou sobre ela.
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- A Doutrina Estranha -
Fica evidente, pelo testemunho dos primeiros "pais da igreja", que a doutrina da trindade era estranha para eles. E, embora estivesse sendo cogitada, eles, como os principais expoentes da época não a aceitavam.

Resumindo essa evidência histórica, Alvan Lamson (1792 - 1864), Clérigo, Doutor e Professor de Harvard Divinity School, em Massachusetts - EUA, diz em The Church of the First Three Centuries (A Igreja dos Primeiros Três Séculos): “A moderna popular doutrina da Trindade . . . não deriva apoio da linguagem de Justino [o Mártir]: e esta observação pode-se estender a todos os Pais anteriores ao [credo de] Niceia; isto é, a todos os escritores cristãos por três séculos posteriores ao nascimento de Cristo. Eles de fato falam do Pai, Filho, e . . . Espírito santo, mas não como coiguais, não como uma só essência numérica, não como Três em Um, em qualquer sentido hoje aceito pelos trinitaristas. A verdade é exatamente o oposto.”

Assim, como se pergunta: Se a trindade não é bíblica, não era dos apóstolos e também não era nem dos primeiros apóstatas. Como é que ela apareceu no meio que se dizia "cristão", como um de seus importantes dogmas? É o que vamos ver na próxima parte.


Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 15

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 15

Representações de deuses trinos pertencentes a diversos povos pagãos notadamente inimigos dos judeus, que adoravam um único Deus. A partir do 4º Século, a Igreja Católica também adotou a adoração, "em termos cristãos", desses antigos deuses pagãos.

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- Ensina a Bíblia a Trindade? -
Conforme vimos nas partes anteriores deste assunto, A igreja que foi montada, a partir do Século 4, pelo Império Romano, apesar de se dizer "apostólica", ou "dos apóstolos", nada tinha a ver com eles. Ela tinha (e tem) a ver com as crenças pagãs da época.
Uma dessas crenças é a de um 'deus trino', ou uma "tríade de deuses" combinados num só. A Igreja Católica chama o Deus Criador de "Santíssima Trindade", dizendo que ele não é um, mas, de "forma misteriosa e incompreensível", três deuses num só.
Ensina a Bíblia que Deus é uma trindade? Não. Em parte alguma dela se ensina isso. Assim, a Igreja, que em realidade advoga o paganismo apesar de se dizer "da Bíblia", lança mão, novamente de interpretações de textos para dizer que este ensino está "subentendido" nela. A trindade está presente, não na Bíblia, mas nas palavras dos "pais da Igreja". Mas, conforme já vimos, os "pais da igreja" não eram cristãos. Eram filósofos.
E como poderia tal ensino da filosofia pagã estar "subentendido" na Bíblia? Não estão. As cartas (ou livros) bíblicas não foram escritos de forma subliminar, misteriosa ou em códigos para serem decifrados por especialistas. Foram escritas, principalmente as das escrituras gregas cristãs (ou o "Novo Testamento"), por pessoas comuns para pessoas comuns. Inspiradas por Deus, visavam esclarecer as coisas referentes a vontade de Deus para conosco, e não complicá-las.
Nesta parte vamos ver o que a própria literatura oficial católica (e também "evangélica") dizem a respeito disso.
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- Usando as Escrituras -
É preciso levar em conta que Jesus e os apóstolos usavam as Escrituras como base para seus ensinamentos. E em momento algum eles disseram que havia alguma "mensagem oculta" nas palavras que liam, ou que algo estava "subentendido que deveria ser assim apesar de não estar escrito".
Assim, se a Trindade fosse realmente um ensino bíblico, devia estar clara e coerentemente apresentada na Bíblia que liam para o povo. Por quê? Porque, como afirmaram os apóstolos, a Bíblia é "a revelação que Deus fez de si mesmo à humanidade" (Romanos 1:20; 1ª João 4:8). Por exemplo: Deus nos diz que ele "é amor". Nós conhecemos bem o amor e podemos explicá-lo de forma clara, sem precisar de palavras codificadas para deixá-lo "subentendido". Se o amor fosse incompreensível como é a trindade, Deus não poderia dizer que é amor.
E, visto que, primeiramente, temos de conhecer a Deus para, então, poder adorá-lo aceitavelmente, a Bíblia deve ser - e é - clara em nos dizer quem exatamente ele é.
Os cristãos do primeiro século aceitavam as Escrituras como a autêntica revelação de Deus. Era a base para as suas crenças, a autoridade final. Por exemplo, quando o apóstolo Paulo pregou a pessoas da cidade de Beréia, elas ‘receberam a palavra com o maior anelo mental, examinando cuidadosamente as Escrituras, cada dia, quanto a se estas coisas eram assim’ (Atos 17:10, 11). E sobre o que é Deus, existem muitos relatos, tanto sobre o que Ele é quanto às suas qualidades. As qualidade de Deus, como "poder", "força" e "bondade" nós conhecemos. Não são coisas misteriosas para nós. Se tais qualidades fossem "misteriosas" e não pudéssemos compreendê-las, como é que Deus poderia nos dizer que as possui?
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- Mistério Insondável ou Revelado Claramente? -
As coisas referentes ao que Deus é, são explicadas. Não permanecem obscuras como no caso da trindade. Em Atos 17:2, 3 lemos: “Segundo o costume de Paulo, ele . . . raciocinou com eles à base das Escrituras, explicando e provando com referências [das Escrituras].”
O próprio Jesus deu o exemplo. Ele explicou a si mesmo por usar as Escrituras.. Ele dizia frequentemente: “Está escrito.” “Interpretou-lhes em todas as Escrituras (hebraicas) as coisas referentes a si mesmo.” — Mateus 4:4, 7; Lucas 24:27. Se Jesus, tido pela Igreja como "parte da trindade", fosse um "mistério insondável", ele próprio teria dito isso ao invés de se revelar claramente.

Portanto, Jesus, Paulo e os crentes sabiam que “toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para ensinar, para repreender, para endireitar as coisas, para disciplinar em justiça, a fim de que o homem de Deus seja plenamente competente, completamente equipado para toda boa obra”. — 2ª Timóteo 3:16, 17; veja também 1ª Coríntios 4:6; 1ª Tessalonicenses 2:13 e 2ª Pedro 1:20, 21. Se as Escrituras são para "ensinar", como é que se pode dizer que nelas estão contidos, mesmo que "subentendidos", "mistérios insondáveis"?
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- "Admitimos: Não é Bíblica!" -
Em face de tal escrutínio minucioso, não há argumentos contrários que possam ser dados.
É interessante que a literatura oficial, tanto da Igreja Católica quanto das "evangélicas", admitem que a doutrina da Trindade "não está na Bíblia".
Diz a publicação "evangélica" O Novo Dicionário Bíblico, de Russel Norman Champlin (1933 - 2018), PHD "protestante" em Línguas Clássicas da Universidade de Utah : “A palavra ‘trindade’ não pode ser encontrada na Bíblia . . . e não encontrou lugar formal na teologia da Igreja senão já no quarto século.” E uma publicação católica 'autorizada' diz que a Trindade “não é . . . direta e linearmente [a] palavra de Deus”. — Nova Enciclopédia Católica.
Além disso, a Enciclopédia Católica diz também: “Na Escritura ainda não existe um único termo através do qual as Três Pessoas Divinas sejam classificadas juntas. A palavra τρίας [trí·as] (da qual se traduz a palavra latina trinitas) é pela primeira vez encontrada em Teófilo, de Antioquia, por volta de 180 A.D. . . . Pouco depois aparece na sua forma latina trinitas, em Tertuliano.”
Mas o próprio Tertuliano (160 - 220), que apesar de ser considerado pela Igreja Católica como um dos seus "fundadores", era desconhecido. Não se sabe, ao certo, nem se era filósofo ou ligado aos primeiros pais da Igreja.
E Tertuliano não ensinou a Trindade. A obra católica Trinitas — A Theological Encyclopedia of the Holy Trinity (Trinitas — Enciclopédia Teológica da Santíssima Trindade) admite, a respeito da Trindade ensinada por Tertuliano, dizendo que "algumas das palavras de Tertuliano foram mais tarde usadas (interpretadas) por outros para descrever a Trindade". Daí, faz o alerta: “Mas, não se podem tirar conclusões apressadas a respeito do uso, pois ele não aplica essas suas palavras à teologia trinitarista.”
Assim, segundo a própria literatura católica (e "evangélica"), a doutrina da trindade não é bíblica e também desconhecida dos primeiros pais da igreja até o terceiro Século.
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- Não Está no "Antigo Testamento" -
Se a trindade fosse bíblica ela deveria ser ensinada desde o início, no livro de Gênesis. Mas não é. Não existe um único texto, de Gênesis a Malaquias (ou todo o "antigo testamento"), que sequer deixe "subentendida" tal doutrina.
Nesse sentido a obra católica The Encyclopedia of Religion (Enciclopédia de Religião) admite: “Os teólogos hoje concordam que a Bíblia Hebraica (o antigo testamento) não contém uma doutrina da Trindade.” E a Nova Enciclopédia Católica também diz: “A doutrina da Santíssima Trindade não é ensinada no Velho Testamento.”
Similarmente, em seu livro The Triune God (O Deus Trino), o jesuíta Edmund Fortman, Padre jesuíta, admite: “O Velho Testamento . . . nada nos fala explicitamente, ou através de necessária dedução, a respeito de um Deus Trino que seja Pai, Filho e Espírito Santo. . . . Não há evidência de que qualquer escritor sacro sequer suspeitasse da existência de uma Trindade na Divindade. . . . Até mesmo enxergar no “Velho Testamento” sugestões ou prefigurações, ou ‘sinais velados’ da trindade de pessoas, significa ir além das palavras e da intenção dos escritores sacros.”.
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- Não Está no "Novo Testamento" -
Se a trindade não está no "antigo testamento", será que estaria nas Escrituras Gregas Cristãs (o “Novo Testamento”)? Se as Escrituras Gregas (o novo testamento), é, na verdade, uma continuidade das Escrituras Hebraicas (o antigo testamento), obviamente também não estaria lá.
Assim, novamente, tanto livros históricos como as literaturas oficiais, católica e "evangélicas", são obrigadas a admitir novamente que não.
A Enciclopédia de Religião diz: “Os teólogos concordam que o Novo Testamento também não contém uma explícita doutrina da Trindade.”
Fortman declara: “Os escritores do Novo Testamento . . . não nos deram nenhuma doutrina formal ou formulada da Trindade, nenhum ensino explícito de que em um só Deus há três pessoas divinas coiguais. . . . Em parte alguma encontramos alguma doutrina trinitária de três diferentes personagens de vida e atividade divinas na mesma Divindade.”

Obras de referência acadêmica também registram a inexistência da trindade no "novo testamento". A The New Encyclopædia Britannica (Nova Enciclopédia Britânica) observa: “Nem a palavra Trindade, nem a doutrina explícita constam no Novo Testamento.”
Bernhard Lohse (1928 - 1997), teólogo e historiador da Reforma Luterana e da Patrística Católica, diz em A Short History of Christian Doctrine (Breve História da Doutrina Cristã): “No que tange ao Novo Testamento, não se encontra nele uma real doutrina da Trindade.”
O livro "evangélico" The New International Dictionary of New Testament Theology (Novo Dicionário Internacional da Teologia do Novo Testamento), de Karl Barth (1886 - 1968), considerado o maior teólogo "protestante" do Século XX, diz similarmente: “O Novo Testamento não contém a produzida doutrina da Trindade". ‘Não existe na Bíblia uma declaração expressa de que o Pai, o Filho e o Espírito Santo sejam de igual essência’,

Soma-se a esses depoimentos, as de notáveis historiadores. O professor P.H.D. da Universidade de Yale (EUA), E. Washburn Hopkins (1857 - 1932) , afirmou: “Jesus e Paulo aparentemente desconheciam a doutrina da trindade; . . . nada dizem a seu respeito.” — Origin and Evolution of Religion (Origem e Evolução da Religião). E Arthur Weigall (1880 - 1934), historiador e egiptólogo, diz: “Jesus Cristo nunca mencionou tal fenômeno, e, em parte alguma do Novo Testamento aparece a palavra ‘Trindade’. A ideia foi adotada pela Igreja somente trezentos anos depois da morte de nosso Senhor.” — O Paganismo no Nosso Cristianismo.
Assim, se você for católico ou evangélico e quiser se aprofundar no ensinamento da trindade pela própria literatura "oficial" de suas religiões, ao invés de se deparar com um fortalecimento de sua crença, vai encontrar negativas "oficiais" do que lhes ensinam.
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- Mais Admissões -
E não para por aí. Na literatura católica "oficial" também encontramos constatações de que os cristãos primitivos não eram trinitaristas e nem ensinavam sobre um deus trino? Note os seguintes comentários, de historiadores e teólogos:
1 - “O cristianismo primitivo não tinha uma doutrina explícita da Trindade, da forma como foi depois elaborada nos credos.” — Novo Dicionário Internacional da Teologia do Novo Testamento. de Verlyn D. Verbrugge, editor teológico americano.
2 - “Os cristãos primitivos, porém, não pensaram de início aplicar a ideia da [Trindade] à sua própria fé. Prestavam as suas devoções a Deus, o Pai, e a Jesus Cristo, o Filho de Deus, e reconheciam o . . . Espírito Santo; mas não se imaginava que esses três fossem uma autêntica Trindade, coigual e unida em Um.” — O Paganismo no Nosso Cristianismo.
3 - “De início, a fé cristã não era trinitarista . . . Não era assim nas eras apostólica e pós-apostólica, como se reflete no Novo Testamento e em outros primitivos escritos cristãos.” — Encyclopædia of Religion and Ethics (Enciclopédia de Religião e Ética), de James Hastings (1852 - 1922), teólogo presbiteriano escocês.
4 - “A formulação de ‘um só Deus em três Pessoas’ não foi solidamente estabelecida, de certo não plenamente assimilada na vida cristã e na sua profissão de fé, antes do fim do 4.º século. . . . Entre os Pais Apostólicos, não havia nada, nem mesmo remotamente, que se aproximasse de tal mentalidade ou perspectiva.” — Nova Enciclopédia Católica.

Resumindo esta parte: Se você se deparar com um eminente defensor da fé católica (ou evangélica) que "bata o pé", dizendo que o ensino da trindade está em "seus pilares", tenha certeza que ele simplesmente não conhece sua própria literatura oficial
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- Na Próxima Parte -
Tais depoimentos, de importantes figuras religiosas e históricas, retiram totalmente o crédito que se dá de que os cristãos primitivos ensinavam a trindade.
Mesmo assim, alguns podem argumentar: "O ensino da Trindade pode não estar na Bíblia, mas foi ensinada pelos "santos" (ou os "pais da igreja").
Será que foi mesmo? É o que veremos na próxima parte.


segunda-feira, 29 de julho de 2024

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 14

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 14

Um busto de Platão. A crença deste filósofo grego, numa alma imortal, nada tinha de bíblica ou cristã, mas era oriunda das religiões do paganismo grego. No entanto, a Igreja Católica, dizendo-se "cristã", adotou essa crença como sua e a mantém até hoje.
Texto do teólogo Werner Jaeger, reproduzido na Faculdade de Cambridge, em 1958, atesta que "houve tentativas", por parte da Igreja de se juntar a crença cristã na ressurreição com a crença pagã da imortalidade da alma:
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- Continuação Não, Restauração Sim -
Depois que a cultura grega infectou o judaísmo, alguns podem pensar que, como o cristianismo adveio do judaísmo seria "natural" que este também tivesse elementos do helenismo. Mas não se deu assim. Por quê?
Porque o criador do cristianismo, Jesus, não se misturou com o paganismo. Ao contrário da elite religiosa judaica de sua época ele condenou o paganismo e, "cumprindo a Lei" e não "destruí-la" (Mateus 5:17), iniciou um movimento puro . Além disso, havia profecias que alertavam para o fim do cristianismo naquela época (Atos 20:29,30), dando início ao "tempo dos gentios" (Daniel 7:14,25) e, quando este acabasse, a restauração da adoração pura "no devido tempo" (Atos 1:6,7; Daniel 2:44), iniciada por Cristo.
E isso se cumpriu. Quando os apóstolos morreram, o verdadeiro cristianismo, com seu "corpo governante" representado por eles, também acabou, para ser restituído assim que acabasse o "tempo dos gentios", ou "tempo designado das nações" (Daniel 4:25 e Lucas 21:24).
Segundo as profecias bíblicas não haveria uma "continuação" para o cristianismo iniciado por Cristo. Haveria, mais tarde (nos nossos dias), uma "restauração".
De maneira que o que se seguiu ao fim dos apóstolos, a formação de uma igreja "oficial" do império romano, que diz ser "continuação dos apóstolos" é, na verdade, outra coisa. Por não ser pura, como foi o cristianismo, é evidente que continha o paganismo dos gregos, que inclui a crença na imortalidade da alma, já em sua semente.
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- Admissão de Culpa -
É interessante como a própria literatura oficial católica admite que a crença em uma alma imortal é oriunda do paganismo grego, e não do cristianismo bíblico. Nesse sentido a A New Encyclopædia Britannica salienta: “A partir de meados do 2.º século AD, os "cristãos" que tinham conhecimentos de filosofia grega passaram a sentir necessidade de expressar a sua fé em termos desta, tanto para a sua própria satisfação intelectual como para converter pagãos instruídos. A filosofia que mais lhes convinha era o platonismo.”

Com essa dissertação, a New Catholic Encyclopedia concorda: "“Apenas com Orígenes (185-254 DC), no Oriente e com S. Agostinho (354-430 DC) no Ocidente é que a alma foi estabelecida como substância espiritual e se formou um conceito filosófico da sua natureza.”
Conforme já vimos, esses dois, Orígenes e Agostinho eram, na verdade, não cristãos, mas filósofos gregos da vertente platônica. Assim, se a própria Igreja admite que trata-se de uma crença pagã, não há como tentar justificá-la pela Bíblia. Mas em que base esses dois filósofos formularam, em "termos cristãos", tal crença pagã?
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- O Papel de Clemente de Alexandria -
Orígenes foi discípulo de Clemente de Alexandria (150 - 215 DC). Clemente foi “o primeiro dos Pais que explicitamente adotou a tradição grega referente à alma”, diz a New Catholic Encyclopedia. O que, de fato, pensava Clemente?
Clemente era grego, nascido em Atenas. Antes de ter contato com o "cristianismo", se tornou filósofo platonista. Ao "se converter", procurava "o conhecimento", não pela Bíblia ou pelas cartas dos apóstolos, mas nas lendas populares sobre elas, geralmente inventadas por pessoas iletradas e ignorantes. Misturando a filosofia platônica com essas lendas, admitidamente incompatíveis com o verdadeiro cristianismo, ele formulou o que seria "o entendimento" do cristianismo que seria melhor aceito por aquelas pessoas seguidoras de tradições folclóricas.
Daí, tudo o que Orígenes fez somente foi colocar em termos mais cultos as ideias popularescas de Clemente. Essas ideias, rebuscadas e recitadas de modo elegante, acabaram se tornando 'pilares de fé' das igrejas católicas orientais, igreja copta e, mais tarde, da anglicana.
Nesse sentido o teólogo alemão Werner Jaeger (1888 - 1961) admite: “[Orígenes] introduziu na doutrina cristã todo o drama cósmico da alma, que ele adotou de Platão”, observou o teólogo, que reconheceu a origem pagã da doutrina e admitiu que "houve tentativas" de conciliar as duas ideias (a ressurreição com a imortalidade da alma) - Fonte: The Harvard Theological Review.
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- Enxertos Bíblicos no Paganismo -
Agostinho (354 - 430 DC), outro filósofo platônico, veio depois de Orígenes. Ele é hoje considerado por alguns na cristandade atual como "o maior pensador da antiguidade", e a Igreja Católica ocidental o considera "santo". Ele se "converteu" na idade de 33 anos.
Tudo o que Agostinho fez foi transportar a ideia (da imortalidade da alma) de Orígenes para a cultura ocidental, acrescentando-lhe alguns enxertos (interpretações de textos bíblicos) para se adequar melhor ao povo que a receberia.
Nesse sentido a The New Encyclopædia Britannica diz: “Sua mente foi o cadinho em que a religião do Novo Testamento foi mais completamente fundida com a tradição platônica de filosofia grega”, diz . E a New Catholic Encyclopedia admite: "a doutrina [da alma, por parte de Agostinho], que até os fins do século 12 se tornou padrão no Ocidente, deve muito . . . ao neoplatonismo”.
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- Mil Anos de Briga -
Mas, não foi de um dia para outro que as ideias filosóficas de Orígenes e Agostinho foram totalmente aceitas pelas Igrejas Católicas (ocidental e oriental). Já vimos que os filósofos gregos, os "pais da Igreja", não eram unidos. Entre eles havia competição por poder e, não raro, um destruía o outro, mesmo que pensasse a mesma coisa, mas apenas para ter seu nome nos registros ao invés do "oponente".
Foi somente no século 13, que as disputas tiveram um certo "acordo". Naquele Século, os ensinos de Aristóteles (384 - 322 AC), outro filósofo platonista grego, ficaram populares na Europa, na maior parte pela disponibilidade em latim das obras de eruditos árabes que haviam comentado extensamente os escritos de Aristóteles.
Um erudito católico, de nome Tomás de Aquino (1225 - 1274) leu aquelas obras e ficou profundamente impressionado com o pensamento aristotélico. Daí, baseado nos escritos de Aristóteles, Aquino começou a escrever seus próprios conceitos. Por causa dos escritos de Aquino, os conceitos de Aristóteles, que eram mais práticos e "modernos", acabaram por exercer maior influência sobre o ensino da Igreja do que os de Platão. Esta tendência, porém, não afetou o "antigo" ensino da imortalidade da alma.
Mas o que pensava Aristóteles, em sentido religioso?
Aristóteles ensinava que a alma estava "inseparavelmente ligada ao corpo e não continuava a ter existência individual após a morte", e que, "se existia algo eterno no homem, era o intelecto abstrato, impessoal". Esta maneira de encarar a alma não estava em harmonia com a crença da Igreja, de que as almas pessoais sobrevivem à morte. Por isso, Aquino modificou o conceito de Aristóteles sobre a alma, afirmando que "a imortalidade da alma pode ser provada pela razão".
De qualquer modo, fosse qual fosse a maneira de encarar a "alma", a crença da Igreja nela continuou intacta. As ideias de Tomás de Aquino mudaram um pouco o pensamento da Igreja e chegou a convencer a maioria dos outros filósofos, mas apenas por uns 100 anos.
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- O "Retrocesso" ao Platonismo -
Nos séculos 14 e 15, no início da Renascença, no entanto, reavivou-se o interesse em Platão. A famosa família Médici, na Itália, até mesmo ajudou a fundar uma academia em Florença, para promover o estudo da filosofia platônica, nos moldes de como era antes. Por causa disso, durante os séculos 16 e 17, o interesse em Aristóteles diminuiu.
Trouxe esse retrocesso algum avanço para a Igreja? Não. Trouxe ainda mais disputas e divisões. Todavia, a crença na imortalidade da alma, nos moldes do antigo platonismo, é a que perdura até hoje na Igreja.
Paralela à discussão sobre a alma, a igreja, como um todo, a partir do Século 10 já estava totalmente corrupta do ponto de vista político, moral e social. Escorada em governos mundanos, uma sucessão de papas violentos emitiram ordens ditatoriais quanto à fé das pessoas, tentando proibir até o pensamento contrário às diretrizes da Igreja. Isso acabou levando a instituição à mortífira Inquisição, que produziu, em quase 600 anos, milhões de mortos, por questões de fé.
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- Um Desejo de Mudança -
Como reação à Igreja, houve a Reforma no século 16. Os "reformadores", chamados pela Igreja de "protestantes", Lutero e Calvino entre eles, eram sacerdotes católicos que não concordavam com algumas das políticas da Igreja. Em revolta, montaram seus próprios sistemas religiosos.
Dizendo que "retornariam à adoração verdadeira proposta na Bíblia", contudo mantiveram praticamente tudo o que a antiga Igreja possuía, incluindo a crença antibíblica a respeito da alma imortal. Em alguns casos, apenas mudaram os detalhes. Por exemplo, embora os Reformadores protestantes se opusessem ao ensino do purgatório, aceitaram a ideia de punição ou recompensa eternas. Qual a diferença disso dentro do paganismo? Nenhuma?
As igrejas "reformadas", ou "evangélicas" de hoje, nada mais são do que subdivisões da Igreja Católica, com praticamente os mesmos pilares da fé pagã da igreja da qual saíram.
E um desses "pilares" e a crença pagã num Deus trino (a combinação de 3 deuses num só).

E será sobre a Trindade que falaremos na próxima parte

Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 13

 Igreja Católica - Como Se Formou? - Parte 13

Um busto de Alexandre o Grande, um rei grego. O que tem a ver a crença dos católicos numa alma imortal com ele? Foi pela "conquista amistosa" dos judeus pelos gregos, que se possibilitou a helenização do judaísmo que, por fim, pavimentou também a helenização dos "cristãos" do segundo Século.
Se desejar, pode ler ou baixar, neste link (Books Google), o livro Heaven, A History, o livro que relata a helenização do povo judeu, em pormenores:
bit.ly/3WaXZ63
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- O Helenismo Invade o Judaísmo -
Exatamente quando e como o conceito de uma alma imortal, que já vimos ser antibíblico, se infiltrou na religião que se diz baseada na Bíblia? Para respondermos a isso, é preciso levar em conta alguns fatores.
Primeiro o conceito se infiltrou no judaísmo. E foi do judaísmo que surgiu o cristianismo, visto ser Cristo o objetivo das profecias do antigo judaísmo.
As raízes do judaísmo remontam a uns 4 mil anos, ao tempo de Abraão. Os escritos sagrados hebraicos tiveram início no século 16 AEC e estavam completos na época em que Sócrates (470 - 399 AC) e Platão (428 - 347 AC), filósofos gregos, deram forma à teoria da imortalidade da alma.
Mas, na época em que as Escrituras Hebraicas, que terminam em Malaquias, estavam sendo escritas, o conceito da alma imortal não existia para os judeus. A Enciclopédia Judaica responde: “Somente no período pós-bíblico é que a crença firme e clara na imortalidade da alma se estabeleceu . . . e se tornou um dos fundamentos das crenças judaica.” Ela declara também: “No período bíblico, a pessoa era considerada como um todo. De modo que a alma não era nitidamente diferenciada do corpo.” Os judeus primitivos criam na ressurreição dos mortos, e isto “deve ser distinguido da crença [na] imortalidade da alma”.
Mas como, um povo, escolhido pelo próprio Deus, que havia visto seus milagres, pode se afastar Dele e rumar em direção ao que sabia ser falso?
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- O Papel de Alexandre o Grande -
A História fornece a resposta. Em 332 AC, Alexandre, o Grande (356 - 323 AC), rei da Grécia, conquistou grande parte do Oriente Médio numa vitória rápida. Quando ele chegou a Jerusalém, os judeus o acolheram de braços abertos.
Segundo o historiador judeu Flávio Josefo (37 - 100), do primeiro século, eles até lhe mostraram a profecia do livro de Daniel, escrita mais de 200 anos antes, que descreve claramente as conquistas de Alexandre no papel de “o rei da Grécia” (Daniel 8:5-8, 21). Depois disso, de certa forma, os judeus passaram a ser um povo em um território grego. Alexandre não conquistou e escravizou os judeus. Ao invés disso ele os acolheu como seus súditos, e os judeus gostaram disso
Os sucessores de Alexandre levaram avante seu plano de helenização dos povos conquistados, permeando todas as partes do império com a língua, a cultura e a filosofia gregas. A amizade entre gregos e judeus, o respeito mútuo e a aceitação de argumentos em "conversas respeitosas", foi determinante. A fusão das duas culturas — a grega e a judaica — foi inevitável.
Assim, no começo do terceiro século AC, quando foi iniciada a primeira tradução das Escrituras Hebraicas para o grego, chamada de Septuaginta, muitos gentios (gregos) passaram a respeitar a religião judaica e a familiarizar-se com ela, alguns até mesmo se convertendo. E os judeus, por outro lado, tornaram-se entendidos no pensamento grego, e alguns se tornaram filósofos, algo inteiramente novo para eles. Por exemplo, Filo de Alexandria (15 AC - 50 DC), foi um filósofo judeu.
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- O Papel de Filo de Alexandria -
Alguns judeus, seduzidos pela "modernidade da Grécia", queriam participar desse "desenvolvimento", e ingressaram na sociedade e escolas gregas de filosofia.
Filo, apesar de judeu de formação, se tornou filósofo grego, da esfera platônica. Ele reverenciava Platão e tentou explicar o judaísmo em termos da filosofia grega.
Por criar uma síntese ímpar de filosofia platônica e tradição bíblica”, diz o livro Heaven—A History (Céu — Uma História), “Filo preparou o caminho para posteriores pensadores cristãos [bem como judeus]”.
E qual era a crença de Filo a respeito da alma? O livro prossegue: “Para ele, a morte restabelece a alma no seu estado pré-natal, original. Visto que a alma pertence ao mundo espiritual, a vida no corpo torna-se nada mais do que um episódio breve, muitas vezes desafortunado.” Sem dúvida, ele estava, não só influenciado pela filosofia platônica, mas também a ensinava a outros.
Os pensamentos de Filo influenciaram outros pensadores judeus, durante muito tempo. Eles também criam na imortalidade da alma. Isaac Israeli (832 - 932), bem conhecido médico judeu, e Moisés Mendelssohn (1729 - 1786), filósofo judeu-alemão estavam entre esses.
Assim, não é de se estranhar que os judeus, principalmente da liderança religiosa, desde antes de Cristo, não conseguiam entender as profecias a respeito da vinda de Cristo e nem aceitavam o cristianismo como previsto pela Lei Mosaica que eles próprios respeitavam. Os conceitos pagãos dos gregos estavam infiltrados em suas mentalidades, cegando-os.
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- O Papel do Talmude e da Cabala -
Após a influência dos gregos pagãos na sociedade judaica e também dos filósofos judeus, apareceu um livro que influenciou - e continua influenciado - profundamente as ideias e a vida dos judeus. É o Talmude. O que é o Talmude?
É, em suma, a consequência da mistura entre filosofia grega com tradições judaicas. Por isso é um resumo escrito, com posteriores comentários e explicações, da chamada "lei oral", compilado por rabinos a partir do segundo século EC até a Idade Média. “Os rabinos do Talmude”, diz a Enciclopédia Judaica, “criam na existência continuada da alma após a morte”.
No que diz respeito a crença na imortalidade da alma, o Talmude, mesmo dizendo ser a "explicação da Bíblia", a contradiz e vai além dos conceitos gregos. Nele se fala, pela influência e "desenvolvimento da alma" do platonismo e de "mortos contatarem vivos", algo expressamente proibido na Bíblia (Levítico 19:31; 20:6; 20:27; Deuteronômio 18:9-12). Diz a Encyclopædia of Religion and Ethics (Enciclopédia de Religião e Ética) sobre isso: “[os rabinos] criam na preexistência das almas”.
Apareceu também outra literatura judaica, tão mística quanto o Talmude: a Cabala. Este livro não só mistura interpretações da Bíblia através do helenismo mas também "à luz" de crenças tribais mais antigas. Na Cabala, por exemplo, se ensina a reencarnação.
Sobre esta crença na reencarnação, diz The New Standard Jewish Encyclopedia (Nova Enciclopédia Judaica Padrão): “A ideia parece ter-se originado na Índia. . . . Na Cabala ela se apresenta pela primeira vez no livro Bahir, e depois, de Zohar em diante, foi comumente aceita por místicos, desempenhando um papel importante na crença e na literatura do hassidismo.”
É por isso que no Israel atual, a reencarnação é amplamente aceita como ensino judaico.
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Assim, visto que o povo do antigo pacto, o judeu, estava bem helenizado, não é difícil, para as pessoas de hoje em dia, quer sejam católicas quer "evangélicas", acreditarem em alma imortal. Imaginam que se o antigo povo judeu acreditava nisso, eles também devem acreditar. Na verdade não era o povo judeu que acreditava nessas coisas, mas apenas alguns judeus seduzidos por outras culturas.
Então, quando, entre os judeus, apareceu o cristianismo na Terra, a ideia de uma alma imortal já estava bem enraizada. Conforme vimos, no primeiro século, quando os apóstolos estavam vivos, essas ideias foram abolidas daqueles que se convertiam ao cristianismo e a verdade da antiga Lei foi novamente compreendida como prevendo o cristianismo, livre do paganismo do resto do mundo.

Mas quando os apóstolos morreram, esse conceito retornou, com força. E é isso o que veremos na próxima parte.